Em 18 de novembro, o pronto-socorro de Cuiabá ganhou uma nova sede. Mas além do prédio alvo de constantes queixas, também deixou para trás uma série de comerciantes que viviam do movimento de pacientes, acompanhantes e funcionários da unidade.
Hoje, os restaurantes, lojas e farmácias da avenida General Valle, no centro da cidade, estão às moscas, alguns prestes a fechar.
Os empresários estão na expectativa de o plano da Prefeitura de Cuiabá se cumprir e o antigo hospital ser reformado, transformando-se em uma nova unidade de saúde.
Porém, há desconfiança com relação ao cumprimento dos prazos e muitos correm o risco de não conseguir manterem as portas abertas até lá.
A comerciante Rosilaine Fátima Okomura, 59, tem dois comércios no local. Em um deles, ela pagou R$ 130 mil apenas pelo ponto, que chegou a ser muito disputado por empreendedores. Era preciso vigiar por meses para conseguir um espaço.
Ela lembra que o valor não inclui o aluguel do imóvel, que custa mais R$ 2 mil mensais. Isso sem contar as demais despesas que, somadas, tiram o sono de Rosilaine.
“Nós tínhamos cinco funcionários que trabalhavam em regime de plantão para não perdermos as vendas dos finais de semana e feriados. Agora, apenas uma ficou. Hoje, eu pago para ficar com as portas aberta”.
Aquele dinheiro investido nos pontos, a empresária sabe que está quase perdido se a “paradeira” continuar.
Atualmente, ela vende no máximo 25 salgados por dia. Antes da mudança do pronto-socorro, chegava a 150 facilmente. Isso sem contar bebidas, sucos e refeições, que complementavam a receita.
Para tentar se segurar até o avivamento, que será marcado pela abertura da nova unidade hospitalar, a comerciante fechou uma das lanchonetes e vai convertê-la em distribuidora.
“Giro rápido e neste tipo de negócio não trabalho com produtos perecíveis”, ela explica.
Sem condições de esperar
Maria Ferreira, 61, é dona de um brechó na região e já se programou para esperar 60 dias. Este é o tempo que ela tem condições de aguardar uma definição. A partir daí, entregará o imóvel.
“A situação é a mesma para todos. O hotel reduziu a diária, as pessoas estão fechando mais cedo e, quem fez grandes investimentos, terá mais prejuízos”.
Ela está há 9 anos no local e diz que o movimento caiu 80% com a transferência do hospital para o novo prédio, que fica no bairro Despraiado.
Conforme a comerciante, todos que estão no centro da cidade agora pagam para trabalhar.
Azar de uns e sorte de outros
Enquanto a saída do pronto-socorro da General Valle trouxe prejuízo para quem estava lá, fomentou a região onde hoje está instalado.
No entorno do novo prédio, não há pontos comerciais, porém, alguns vendedores de lanches e sucos se instalam pela manhã e no final da tarde em um terreno baldio, na frente da unidade.
Entre eles está Josinete Moraes, 48. Ela acorda todos os dias às 3 horas da manhã para assar e fritas salgados e preparar os sucos naturais.
Tudo é comercializado pela manhã. Antes do meio-dia, ela já está retornando para casa. Nem sempre todos os produtos são vendidos, mas o sol ardente da Capital mato-grossense não permite ela se prolongar no local.
A comerciante mora perto do hospital e já trabalhava com o produto. Então, enxergou na inauguração uma possibilidade de incrementar as vendas.
Hospital da família
A Secretaria de Saúde do Município, por meio da assessoria de imprensa, informou que ainda não há data para a licitação da obra. O projeto está em fase de finalização e, quando estiver concluído, a data será definida.