Há alguns dias, encontrei uma amiga no shopping e percebi que havia chorado. Imediatamente, perguntei se estava tudo bem. “Eu choro por bobagem”, ela confessou, quase como se sentisse culpa.
Aí, partiu para me dar o resumo do seu dia.
Estava como celular bloqueado e não conseguia resolver o problema na operadora. Justo ela, que acompanha seus pacientes pelo telefone no fim de semana.
Pois no segundo dia, quis ir pessoalmente até a loja da operadora para tentar solucionar de vez o caso. Deixou o filho adolescente em casa sozinho, porque tinha certeza de que a solução seria rápida. E que ela voltaria a tempo para o almoço e para aproveitar aquele lindo sábado de sol. Já tinha uma programação inteira com o filho montada na cabeça. Ela, que trabalha até a noite, todo santo dia.
Assim que saiu de casa, o carro parou no meio do caminho, sem o menor aviso. Não deu outra. Sem telefone nem carro e com um filho à espera em casa, caiu no choro.
Tudo dava errado naquela dia. Não era motivo para estar aos prantos?
Por sorte, uma mulher que passava se comoveu com seu desespero e a levou a um posto de gasolina próximo (ela deduziu que o marcador do combustível havia quebrado novamente, problema que já tinha sido resolvido na revisão – pelo menos foi o que lhe garantiram. Mais ódio!).
Já no shopping, a operadora não conseguiu resolver o problema com o telefone e ela só imaginava seus pacientes com alguma urgência enchendo sua caixa postal, sem conseguir acesso à médica. E o filho ainda esperando em casa.
Um sábado perdido. Longe do filho e sem resolver as pendências do trabalho.
“Como assim bobagem? Não dá para soluçar quando desperdiçamos nosso precioso tempo?”, foi o que consegui dizer no momento.
Mais tarde, refleti sobre o que aconteceu. E fiquei com raiva do que fizemos de nós. Do quanto estamos acorrentados à nossa vida atarefada.
Os dias estão tão cronometrados para que consigamos dar conta de tudo, que perdemos o prumo quando algo sai do controle. Estamos cada vez com mais dificuldade para lidar com o improvável, com o imprevisível.
Alô!!! Quer coisa mais improvável do que a vida?
E continuei a pensar.
Não digo que temos que jogar tudo para o alto para passar mais tempo com os filhos nem viver como se o mundo fosse acabar amanhã. Não.
Mas temos que parar de nos culpar até na hora do choro. Parar de achar que temos de dar conta de tudo (casa, família e trabalho) e ainda ter sangue de barata. Ou de heroína.
É OK chorar quando nada dá certo. É OK chorar quando achamos que deveríamos passar mais tempo com os filhos. É OK chorar porque buscamos uma vida mecânica, só que temos sangue pulsando nas veias e um cérebro pensante. É OK chorar por chorar também.
Mas depois do choro, temos que ir mais fundo e fazer a pergunta: o que fizemos de nós? Está valendo a pena só correr ou preciso desacelerar?
Não haverá uma resposta certa. Haverá a sua escolha. A única que importa.
Amiga, o que quero te dizer: se você está chorando mais do que sorrindo, não está na hora de repensar as escolhas?