Maria Benedita Deschamps Rodrigues, popularmente conhecida como Dunga Rodrigues (1908-2002), deixou seu legado à cultura mato-grossense, não só por sua atuação como professora e musicista, mas também por intenso trabalho dedicado à história e à literatura regional.
Defensora da cultura que era, e consciente do seu papel como pesquisadora, ela chegou a processar o Estado, na década de 1970, acusando o governo de plagiar uma de suas obras, a “Reminiscências de Cuiabá”.
O processo encontra-se arquivado no Fórum de Cuiabá, e foi trazido à tona nas últimas semanas, ao ser encontrado por pesquisadores do Judiciário que vem desenvolvendo uma série, chamada “145 anos: o Judiciário é história”. O projeto foi idealizado para celebração ao aniversário do Poder Judiciário de Mato Grosso, comemorado no dia 1º de maio.
Vale ressaltar, a imortal da Academia Mato-Grossense de Letras, foi defendida por outro de seus pares, o advogado Gervásio Leite que também chegou a ocupar cadeira na AML.
A ação judicial de busca e apreensão contra o governo, foi autuada em 29 de novembro de 1973. O livro, escrito anteriormente em homenagem à primeira dama de Mato Grosso, à época, Maria Aparecida Pedrossian, celebrava os 250 aniversário de Cuiabá.
Mais tarde, a obra que continha 181 páginas, com 48 títulos em que estão descritas festas, comidas e lendas locais, teria sido editado novamente, em 1973, sem seu consentimento, pela Secretaria de Educação e Cultura.
A escritora alegou inexistir qualquer contrato para nova publicação de sua obra com o Governo do Estado e que, se existisse, não iria querer que fosse retirada da capa do livro seu nome, e adulterada sua exposição e divisão de capítulos.
Disse ainda que não teria dado qualquer autorização ao Governo para que fosse feita nova publicação, para que fosse alterada a anterior em nova edição e alterado o título do livro.
No processo, Dunga reclamou que ocorreu uma grosseira adulteração, “sendo estranhável que tudo isso foi praticado pela Secretaria do Estado, que deveria ser a primeira a zelar pela propriedade literária, científica e artística, posto que sendo de Educação e, também, de Cultura” e também que somente ela e mais ninguém poderia reproduzir a obra.
Nesse sentido, ela pleiteou a busca e apreensão dos exemplares do livro “Síntese de Memórias da Capital Mato-grossense”, a fim de que o mesmo fosse retirado de circulação. Citou inclusive que os mesmos poderiam ser encontrados na Secretaria da Educação e Cultura, situada, naquela época, na rua Comandante Costa, centro de Cuiabá.
O processo teve um final feliz. Em 31 de janeiro de 1974, a advogada Marília Beatriz de F. Leite pediu ao juiz que analisava o caso, que arquivasse o processo. Certamente, Dunga Rodrigues e o Governo, entraram em um acordo, cuja conclusão não foi detalhada. O processo foi julgado extinto em 21 fevereiro de 1974.