A escrita pode ser um escape para fugir do abismo. Pensei nisso, outro dia, quando comparei a vida de Sylvia Plath e J.K.Rowling, duas escritoras renomadas.
Os intelectuais vão achar uma afronta eu colocar Plath e Rowling na mesma sentença. Pior ainda, dirão, será compará-las. Enquanto Plath é conhecida por uma obra curta, porém densa, Rowling é considerada superficial pela elite pensante — Rowling é o Paulo Coelho dos britânicos.
Mas o que quero dizer não tem a ver com a qualidade de suas obras. Penso, apenas, que foi uma pena Plath ter vivido em uma época com menos recursos, quando padecer de uma doença mental era quase uma sentença de morte.
Plath poderia ter nos deixado mais obras, tão profundas quanto suas outras, se tivesse recebido o tratamento certo.
Já Rowling, nossa contemporânea, recebeu o cuidado adequado para sua depressão e foi longe. Usou a escrita para preencher o vazio da vida e encantar a mente de milhões de jovens no mundo com sua série, Harry Potter.
Ninguém consegue produzir no auge da dor. Com Plath não seria diferente. Quantas obras deixaram de ser escritas por causa de sua dor insuportável? Quanto nos foi negado por sua breve partida?
Já Rowling não só venceu a doença, mas conseguiu dar vazão à criatividade — escreveu até um livro policial. Em Quando o cuco chama, escrito sob o pseudônimo de Robert Galbraith, o leitor encontra um mistério que agradaria aos fãs de Ágatha Christie. Eu recomendo.
Penso em Plath e Rowling. Dois talentos em tempos diferentes. Uma no tempo errado e outra no certo. Fico pesarosa por Plath, mas fico grata por saber que, hoje, sofrer de um transtorno mental não significa receber uma sentença de morte. Que o mundo nos brinde com talentos escondidos como os de Rowling.
