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Do Vaticano para Cuiabá: grupo se une para criar lavanderia para moradores de rua

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Do Vaticano para Cuiabá: grupo se une para criar lavanderia para moradores de rua
(Foto: Caroline Rodrigues)

Lançada em Roma, na Itália, há pouco mais de dois anos, uma iniciativa do Papa Francisco em breve pode facilitar a vida Pedro, que com um balde doado e uma barra de sabão comprada com o dinheiro do trabalho de flanelinha, no centro de Cuiabá (MT), lava suas roupas periodicamente com a água que pinga da torneira de um famoso restaurante fast food.

Trata-se de uma lavanderia pública, dedicada a atender pessoas em situação de rua.

Até agora chamado de “Roma, do Vaticano para Cuiabá”, o projeto começou a ser debatido na sexta-feira (10), entre a Prefeitura da Capital, o Ministério Público Estadual (MPE) e pessoas interessadas na causa, como o professor do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) Juliano Batista dos Santos, de quem foi a ideia de replicar algo semelhante ao que o Papa criou em 2017.

Hoje, Pedro lava suas roupas às margens da Avenida Getúlio Vargas, em um dos pontos mais badalados da cidade, como descreve a jornalista Caroline Rodrigues, primeira a contar a história do flanelinha que ela conheceu ao estacionar seu carro nas proximidades do “ponto dele”.

Natural de Poconé (100 km de Cuiabá), Pedro saiu de casa bem cedo, por volta dos 7 anos, motivado por uma situação familiar difícil. A Caroline – que escreveu a história dele no blog Seguindo Fora da Linha –, disse que, na época, passava fome. Mas a saudade da mãe o impediu de permanecer em lares adotivos. Alguns deles, de “gente rica, que queria me dar as coisas”, segundo relato dele próprio.

Uma população invisível

Caroline conheceu Pedro por dar ouvidos a um pedido que passaria inaudível para muitos. “Ele guardou meu carro e me pediu uns trocados. Eu não tinha e ele disse: ‘tá de boa, então, relaxa’, e me perguntou se eu não tinha um irmão ou marido que pudesse doar umas roupas ou sapatos”, ela conta.

“Aí começamos a construir uma relação. Eu o via e falava ‘bom dia’, perguntava do tempo, como qualquer relação de vizinhos”, ela completa.

Como jornalista, Caroline já tinha trabalhado com pessoas em situação de rua. Nas entrevistas, descobriu que são inúmeros os motivos que levam uma pessoa a sair de casa. “Entendi que alguns estão na rua por problemas da vida e outros estão por opção mesmo”.

Em comum entre uma entrevista e outra, assim como nas conversas que teve com Pedro, descobriu que essas pessoas sentem falta de um local adequado para higiene.

“Não gosto de ficar sujo. Às vezes, não dá tempo de secar a roupa, então eu visto mesmo assim. Seca na correria”, Pedro contou a ela, destacando que também toma banho com o auxílio do mesmo balde onde lava as roupas.

Um local apropriado

A lavanderia inspirada na ideia do Papa Francisco, em Cuiabá, ainda está só no papel. A proposta é que, além de lavar as roupas, pessoas como Pedro também possam fazer a higiene pessoal e receber refeições, oferecidas por grupos de voluntários.

Em Roma, as seis máquinas de lavar e secar, os ferros de passar e sabão e amaciante – produtos doados por empresas apoiadoras da causa – passaram a compor um espaço com serviços que já eram ofertados pelo Vaticano: chuveiros para banho, cabeleireiro, centro médico e distribuição de artigos de primeira necessidade.

Em Cuiabá, se der certo, o local deve ser o primeiro do Brasil com uma proposta semelhante, segundo o que diz a procuradora de Justiça Julieta do Nascimento Souza, voluntária do “Café Solidário” e responsável por levar a ideia ao MPE.

Para começar a funcionar, o primeiro passo é encontrar um local. A atribuição está por conta do secretário de secretário municipal de Cultura, Esporte e Turismo, Francisco Vuolo, que vai mapear os imóveis públicos desocupados que possam ser utilizados.

A partir desse levantamento, uma nova reunião acontecerá no dia 21 de maio, para apresentação das possibilidades, das adequações necessárias e para discussão sobre a captação de recursos para a obra.

*Com assessoria

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