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Do Centro à periferia: porque a proliferação de pombos em Cuiabá é preocupante

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Do Centro à periferia: porque a proliferação de pombos em Cuiabá é preocupante
(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

De praças públicas com grande aglomeração de pessoas a escolas e até mesmo prédios residenciais de luxo, a presença de pombos ainda é grande na Região Metropolitana de Cuiabá. Se antes estes animais estavam concentrados apenas em regiões centrais da cidade, com grande circulação de pessoas, esta não é mais a realidade.

De acordo com o agente de combate às endemias que atua Centro de Controle de Zoonozes de Cuiabá, Hélio Simião, a proliferação de pombos é um caso sério e grave, que se estendeu também para bairros periféricos. “Muitas casas que visitamos têm. Bairros como: Alto da Boa Vista, Osmar Cabral, Parque Cuiabá, Grande CPA. Os pombos se adaptaram também às periferias”.

Nos bairros residenciais, a preferência dos pombos é por casas que possuem animais domésticos, onde o ambiente é propício para a proliferação. Lá eles encontram alimentação e moradia. Helio explica que eles costumam se alimentar das rações dos pets e se abrigam, muitas vezes, na estrutura onde aparelhos de ar-condicionado são instalados.

Os pombos transmitem diversos tipos de doenças, no entanto, a mais comum na capital cuiabana é a meningite causada pelo fungo Cryptococcus, encontrado nas fezes. Uma vez secas, elas se transformam em um pó que, ao ser inalado, causa uma série de sintomas como febre, vômito, enjoos, confusão mental, podendo comprometer a visão e o movimento corporal.

Apesar de tentar evitar que o número de pombos se alastre ainda mais pela cidade, Helio lembra que estes animais não podem ser simplesmente sacrificados. A Lei Federal 9.605/98 criminaliza a morte, perseguição ou a caça de animais da fauna brasileira, com pena de detenção de seis meses a um ano e multa.

O trabalho então é feito de forma preventiva. No caso da equipe de Hélio, 70% do público está nas escolas de Cuiabá.

Ambiente escolar

Foto:(Ednilson Aguiar/ O Livre)

Escolas possuem o local perfeito para que os pombos sobrevivam: as estruturas metálicas das quadras poliesportivas são abrigo agradável para os animais. Mas não é só isso que mantém os bichos nesses lugares. Crianças geralmente ingerem salgadinhos à base de milho ou bolachas.

“Isso é o atrativo número um, porque os pombos gostam muito desse alimento. Como a criança geralmente come no recreio e deixa cair as migalhas, é desse restante que os animais se alimentam”, explicou Hélio.

Foi justamente este ambiente que fez o professor de Educação Física, Luciano de Campos, perder a visão em decorrência da meningite causada pelo fungo encontrado nas fezes de pombos. Como ele vivia nas quadras poliesportivas das escolas nas quais dava aula, inclusive do Ginásio Fiotão, em Várzea Grande, o professor acredita ter sido contaminado em um destes locais.

O caso ocorreu em 2006 e deixou sequelas: Luciano perdeu a visão. “Logo que fui infectado senti muita dor de cabeça, febre, convulsões, perdi 40 kg em duas semanas e perdi parte do movimento do corpo. Até o diagnóstico foi um longo caminho”, relembrou o professor.

Após uma infinidade de exames e de transferências entre hospitais, enfim o diagnóstico. Luciano ficou internado 35 dias e os próximos dois anos foram de fortes dores, medicamentos, fisioterapia e a perda total da visão.

Felizmente, o professor conseguiu se readaptar e permanece em atividade, agora na Associação Mato-grossense dos Cegos, onde ministra seu conhecimento para pessoas que, assim como ele, possuem deficiência visual.

“O que pretendemos com a conscientização nas escolas é justamente uma mudança de hábitos, tanto de alunos como de responsáveis, para que casos extremos como este do professor Luciano não se repitam”, explicou Hélio.

Tanto nas escolas, quanto em residências, a vigilância em relação ao alimento e a possíveis locais de abrigo diminuem em pelo menos 50% a incidência de pombos nestes espaços, ainda segundo o agende de combate às endemias.

Outro aspecto importante que Hélio observou ao longo da sua atuação é que, em locais recém reformados, o número de pombos diminui. Foi o caso da Praça Ipiranga, onde a equipe do LIVRE esteve na última semana. O local passou por reforma recentemente e a concentração de animais estava justamente onde existem vendedores ambulantes de alimentos.

(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Correios

Foi uma reforma e adaptação na Central de Distribuição do Correios, no bairro Cristo Rei em Várzea Grande, que diminuiu a quantidade de pombos que viviam no ambiente. O local passou por mudanças após a morte do funcionário Celso Luis Gomes, de 43 anos. Ele faleceu em 2017, após ser infectado pelo fungo presente nas fezes de pombos.

“Na época, nós recebemos a notícia da morte do Celso com muita indignação, porque na realidade foi uma negligência. O sindicato já havia notificado a empresa duas vezes, havíamos denunciado a situação no Ministério Público do Trabalho e outros órgãos fiscalizadores e as providências não foram tomadas. A indignação virou protesto e depois resultou na greve”, relembrou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Correios, Telégrafos e Serviços Postais (Sintect), Edmar Leite.

Entretanto, Edmar reconhece que a empresa realizou adequações que resultaram em 95% de melhoria do problema. “A gente fez a greve aquela vez, deu repercussão na imprensa, o Correios tomou multa e aí foram implantadas medidas para afugentar os animais. Foram colocadas telas nas janelas e portas, além de ganchos para evitar o pouso dos animais. Praticamente não tem mais pombo lá”, defendeu o sindicalista.

Outro lado

O LIVRE entrou em contato com a assessoria de imprensa dos Correios, que não deu retorno até o fechamento desta matéria. A reportagem entrou em contato também com a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde de Cuiabá, solicitando dados sobre a incidência de doenças causadas por pombos na Capital, mas não recebeu retorno.

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