Tenho um desejo recorrente caso encontrasse o gênio da lâmpada. Nada de morar em Miami Beach ou Mônaco. Nem viver num hotel, como prefere o meu irmão. Minha ideia é diferente, mas não deixa de ser ousada.
Queria morar numa praia, de frente para o mar, e ter todo o tempo do mundo para ler e escrever. Tenho uma forte crença de que o oceano me traria inspiração. Como se, ao olhar para aquelas águas infinitas, as palavras jorrariam abundantes nas páginas do computador.
Em meu devaneio, gostaria que minha escrita fizesse diferença nessa coisa indecifrável chamada vida. Queria tocar o coração das pessoas ou, ao menos, fazê-las pensar.
Eu me vejo morando numa praia isolada, sem agito, com pouquíssimo trânsito ou pessoas. Só usaria shorts e camiseta. No máximo, um vestidinho simples. Havaianas nos pés.
Caminharia na areia todos os dias. Só usaria uma bicicleta para me movimentar. Comeria coisas saudáveis, mas sem preocupação com a balança. Não teria desejos materiais, porque só me importariam os livros, as palavras e algumas pessoas.
Eu me vejo tendo o humor de uma Nora Ephron, a sensibilidade de uma Lya Luft, a profundidade de uma Clarice Lispector, as sacadas de uma Martha Medeiros, o erotismo de uma E. L. James.
Afinal, quem precisa do supérfluo quando se tem tanto em conteúdo, imaginação e ideias?
Não sei onde seria essa praia nem como seriam as minhas obras. Mas o sonho já está pronto. Não precisa de retoques. Só basta acontecer.
Enquanto não encontro o gênio da lâmpada, sigo minha vida com contas a pagar, pouco assunto para comentar, míseros momentos de calmaria.
Eu sei, eu sei, a vida poderia ser pior. Poderia faltar água, comida, conforto e, pior, saúde. Poderia nem ter tempo — ou espaço — para sonhos.
Por ora, contento-me com o que tenho, mas não deixo de pensar naquele que pode ser considerado o meu devaneio de primavera.
