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Desabafo: profissional da saúde pública diz que médicos já têm que escolher

"Já teve médico que falou para o paciente: 'calma, sua falta de ar não é tão grave quanto a do outro'"

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Desabafo: profissional da saúde pública diz que médicos já têm que escolher
Imagem ilustrativa (Foto: Freepik)

A falta de equipamento, o déficit de pessoal não são novidade para quem usa o sistema público de Saúde. Mas a pandemia do novo coronavírus escancarou as fragilidades e deficiências. É o que sustenta um profissional do setor, que atua em Cuiabá.

Em tom de desabafo, ele conversou com a reportagem do LIVRE sobre como tem sido a rotina de quem atende a população mais carente. Preferiu não ser identificado, temendo represálias.

Impotência

A sensação de impotência é uma das que mais ronda médicos, enfermeiros e outros trabalhadores que estão na linha de frente contra a covid-19.

A mais nova decisão que eles precisam tomar tem sido escolher o paciente que vai ser entubado para receber o oxigênio que falta no corpo.

“Hoje [segunda-feira, 22 de junho] vi uma paciente que estava com 89% de saturação de oxigênio. Quando procurei vaga no box, só tinha dois respiradores e eles estavam ocupados. Ela acabou de morrer“.

Uma situação que já se tornou rotina, não só para ele.

Já teve médico que falou para o paciente: ‘calma, sua falta de ar não é tão grave quanto a do outro’“.

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

“Politicagem”

De acordo com o profissional, o empenho das equipes esbarra no que ele chama de “politicagem” com a pandemia.

Um exemplo, segundo ele, são os anúncios de criação de novos leitos para pacientes que contraíram o coronavírus. Na realidade, costuma se tratar apenas de uma “transformação” de um leito que já existia.

Anunciam não sei quantos novos leitos criados para pacientes com covid-19. Só não falam que são leitos que já existiam. Só isolaram esse leito, como se o problema tivesse resolvido“, ele explica.

Quanto às constantes denúncias de sindicatos da categoria sobre a falta de equipamentos de proteção individual e até de medicamentos, o médico afirma que compras até foram feitas, mas em quantidade insuficiente.

“Vale ressaltar que temos bons profissionais que tentam mudar [a situação], mas não conseguem e são barrados pela burocracia. Falo da secretaria estadual, municipal de Saúde”.

Exclusividade do SUS?

De acordo com o médico, a situação de calamidade não é exclusiva do sistema público de saúde. No serviço privado os problemas – de certa forma – se assemelham.

“Os hospitais particulares também estão ficando lotados. Já não há mais vagas. Dando um jeito se arruma, mas está ficando escasso. A diferença é que temos material, não falta equipamento. Se o paciente morrer, é pela gravidade da doença“, ele pondera.

O que fazer?

O isolamento social e as medidas de higiene são as primeiras que o médico defende. E ele não acredita na eficácia de um lockdown na atual conjuntura.

Não resolve mais. Se fechar tudo agora, o paciente só vai manifestar sintomas lá na frente. Então, vai ser um número grande de novos casos trancados dentro de casa“, argumenta.

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