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Depósito do Inclusão Literária é incendiado novamente e Clóvis Matos pede ajuda

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Depósito do Inclusão Literária é incendiado novamente e Clóvis Matos pede ajuda

Poderia ser só mais uma edificação do Bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá, mas, até 2015, a estrutura da casa 421 da rua da Saudade abrigava objetos capazes de salvar o mundo de muita gente: livros. O local era o depósito do Inclusão Literária, um projeto de incentivo à leitura que transformou a vida de milhares de crianças durante seus 13 anos de existência.

Porém, no dia 30 de dezembro de 2015, um incêndio, causado por um curto-circuito na fiação, destruiu milhares de livros que seriam distribuídos para crianças de todo o Mato Grosso.

A tragédia fez com que admiradores do Inclusão Literária se mobilizassem para arrecadar títulos para dar início a um novo acervo para o projeto. Mas, sem dinheiro, o criador do Inclusão, o historiador Clóvis Matos, precisou deixar o sonho de reconstruir o depósito de lado e seguir com sua solidariedade ambulante, entregando livros em todo Estado a bordo da sua famosa camionete, a Furiosa, e de uma Kombi.

Nesses quase três anos desde o incêndio, a vida de Clóvis Matos – e, em consequência, do Inclusão Literária – teve altos e baixos: sua fiel companheira, a Furiosa, estragou; o projeto foi além das fronteiras mato-grossenses; e até Luciano Huck veio a Cuiabá para presentear o Papai Noel mais amado de Mato Grosso, apresentando o Inclusão Literária para o Brasil inteiro.

Agora, quando o projeto que se tornou a vida de Clóvis parecia cada vez mais forte, um novo baque: o depósito na rua da Saudade foi novamente incendiado nessa sexta-feira (21). Vendo parte do seu sonho mais uma vez destruído pelas chamas, o Papai Noel Pantaneiro resolveu pedir ajuda para reconstruir o depósito do Inclusão Literária e conta com a população mato-grossense para reformar a casa e transformá-la em um Centro Cultural.

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Inclusão Literária

Há 13 anos, quando Clovis Matos trabalhava em uma livraria, ele criou um espaço para que as pessoas pudessem ler um pedaço dos livros dentro da loja antes de comprá-los. A ideia era uma estratégia de marketing para atrair consumidores para a livraria.

Porém, os clientes, ao invés de ler um pedaço e depois comprar os livros, voltavam sempre, liam livros inteiros, mas não os levavam. Clóvis achou a ação curiosa e resolveu perguntar o motivo das pessoas não estarem comprando os livros. Em resposta, ouviu que as pessoas gostavam e queriam ler, mas não tinham dinheiro para comprar.

Foi assim que nasceu o Inclusão Literária, um projeto de incentivo à Leitura, que já levou mais de 50 mil livros para todo Mato Grosso.

Acreditando que um livro pode mudar a vida de uma pessoa, com sua fiel companheira, a camionete “Furiosa”, ou com a Kombi, Clóvis levou livros, cultura e conhecimento para todo Estado, em especial para a população carente e ribeirinha.

Conhecido como o Papai Noel de um dos shoppings da Capital, nem todos sabem que o historiador, funcionário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), iniciou (e segue exercendo por isso) o trabalho de bom velhinho para investir o que ganha no fim do ano em livros e viagens para levá-los para o interior do Estado.

Em dezembro de 2017, o Inclusão ganhou visibilidade nacional quando Luciano Huck veio a Cuiabá para conhecer o Papai Noel Pantaneiro e seu projeto. O apresentador deu uma camionete novinha para que Clóvis seguisse com sua rede de solidariedade e incentivo à leitura por Mato Grosso e, quem sabe, – como sonha Clóvis – por todo Brasil.

O Incêndio de 2015

Cinco dias após o Natal de 2015, no dia 30 de dezembro, uma tragédia atingiu uma casa na Rua da Saudade, no Bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá que tinha em seu interior instrumentos que seriam utilizados para salvar vidas: cerca de 7 mil livros pertencentes ao Inclusão Literária.

Clóvis descreve esse dia como um momento de muita dor. “Eu, hoje, não gosto nem de ir lá e ver como a casa está, porque me dá lembranças muito ruins”, lamentou Clóvis Matos, que sempre teve grandes sonhos para o imóvel.

Apenas uma pequena parte dos livros conseguiram ser salvos e, naquele momento, somente cerca de 1 mil livros estavam fora do depósito e permaneceram intactos.

O incêndio foi causado por um curto-circuito na fiação da casa, que estava vazia no momento do acidente e, por isso, não houve vítimas – em partes, visto que Clóvis e centenas de mato-grossenses choraram por essas chamas.

Porém, a partir dessa tragédia, o projeto ganhou ainda mais força e apoiadores, que arregaçaram as mangas, se uniram e arrecadaram milhares de livros para que o Inclusão Literária pudesse continuar.

E assim aconteceu. Com muita doação e solidariedade, o projeto seguiu em frente, cada vez mais forte. Porém, sem dinheiro para a reforma, o depósito, que ficou bastante destruído, precisou ser abandonado.

O novo incêndio

Na madrugada dessa sexta-feira (21), Clóvis Matos sofreu um novo golpe e foi obrigado a lembrar da tristeza do incêndio de 2015. O depósito pegou fogo novamente.

Dessa vez, a casa não tinha energia elétrica para ser um curto-circuito e, por causa do outro incêndio, o acesso a ela era fácil. Por isso, Clóvis acredita que alguém tenha entrado no lugar e, mesmo que não propositalmente, tenha incendiado o depósito.

“Da primeira vez foi um curto-circuito, eu desliguei tudo, não tem mais nada ligado na casa. Alguém deve ter entrado lá, talvez para usar drogas, porque a casa estava sozinha, ou pegar restos de fios que ainda tinham e precisa colocar fogo para tirar o plástico, aí pegou fogo, tinha papel dentro da casa, ainda tinha livros”, contou Clóvis ao LIVRE, com imensa tristeza.

Na manhã dessa sexta-feira (21), um vizinho do depósito ligou para Clóvis e contou que o local tinha sido incendiado. Durante a madrugada, o homem, que mora na casa de trás, ouviu seus cachorros latindo e saiu para conferir o que estava acontecendo. Foi quando viu que as chamas, mais uma vez, atingiram o depósito do Inclusão Literária.

Ele chamou o Corpo de Bombeiros, que apagou o incêndio. Porém, durante a manhã o fogo cresceu novamente na casa. Os bombeiros então retornaram e apagaram. “Eu fui mais tarde, cheguei lá não tinha mais nada, somente muita fumaça”, disse Clóvis Matos.

O historiador chamou um rapaz que sempre lhe presta serviço, que está fazendo uma limpeza na casa – trabalho que ainda nem foi pago.

“Falei: ‘olha, vê se você pode começar, mas eu não tenho grana para te pagar’. Mas ele é meu amigo, um cara que trabalha comigo há muito tempo, e falou: ‘não, Clóvis, eu vou fazer isso para você, depois a gente vai acertando’”, contou.

Mesmo ainda sem dinheiro para a reforma, esse é o recomeço do depósito do Inclusão Literária.

Solidariedade

A reforma iniciada tem um propósito, Clóvis quer transformar a casa em um Centro Cultural do Inclusão Literária, um local aberto à população, que dará acesso a livros e a cultura.

O primeiro passo já está sendo realizado, a limpeza do local e de tudo que foi incendiado nas duas tragédias, e a retirada do telhado, que ficou todo danificado.

A estrutura de uma das paredes da casa também ficou muito prejudicada e, para não cair, Clóvis precisa consertá-la com urgência.

“O socorro que eu estou pedindo é para que alguém se sensibilize, parceiros que possam participar desse processo. Eu vou gastar R$ 60 mil para arrumar essa casa e eu não tenho esse dinheiro”, disse o Papai Noel Pantaneiro.

Caso alguma empresa queira ajudar, Clóvis se compromete a fazer a divulgação dela junto à do Inclusão Literária, em forma de agradecimento. Além do depósito, a casa se tornará também um Centro Cultural.

“Uma biblioteca aberta, um Centro Cultural para atender à região, porque o Inclusão Literária não tem um espaço desse jeito. Lá a gente vai dar cursos, oficinas, terá uma central de informática, essa é a proposta”, contou Clóvis.

Ele orçou tudo que é necessário para que esse sonho se torno realidade (veja a lista nas imagens abaixo). Quem quiser ajudar, pode entrar em contato diretamente com Clóvis pelo telefone 98135-1176, ou doar através da página criada para o projeto no site de arrecadação coletiva Vakinha Online clicando AQUI.

Apaixonado pelo que faz há 13 anos, o historiador disse que enquanto viver pretende continuar com o Inclusão Literária, seguindo o sonho de levar livros para todo o Brasil. “Eu fiz desse projeto a minha vida, até onde eu viver, ele continuará”.

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