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Cunha assume PM em crise e nega que grampos abalem

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Cunha assume PM em crise e nega que grampos abalem

Mayke Toscano/Gcom

Troca de comando PM

Pedro Taques e o comandante Marcos Cunha; coronel Jorge Luiz ao fundo

O coronel Marcos Vieira da Cunha assumiu o comando da Polícia Militar (PM) de Mato Grosso em solenidade na noite desta quinta-feira (29), em meio à crise política que assola a corporação e o governo Pedro Taques (PSDB). O novo comandante negou que o escândalo dos grampos ilegais, operados no âmbito da PM, abale a imagem da instituição.

“Não está abalada porque a instituição é muito maior que isso”, afirmou Cunha, logo depois da posse, no Comando-Geral da PM. “[A participação de policiais] está sendo apurada no Inquérito Policial Militar (IPM). Não vou emitir nenhum parecer porque somos imparciais. As medidas administrativas foram tomadas por parte da polícia”, declarou, completando que eventuais punições virão somente depois da conclusão da investigação.

Cunha substitui o coronel Jorge Luiz de Magalhães, exonerado na semana passada depois de nove meses no cargo. O anúncio foi feito na mesma data que o corregedor-geral da PM, coronel Alexandre Mendes, e o diretor de inteligência da corporação, coronel Victor Fortes, foram detidos suspeitos de vazar que haveria outras quatro prisões relacionadas ao esquema de grampos. A exoneração gerou desconforto na corporação e no conselho de coronéis, mas o governo não divulgou o motivo da mudança.

O secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), Rogers Jarbas, afirmou que o comandante foi substituído “por questões técnicas ligadas à atividade finalística”, mas não quis explicar que questões foram essas. “Cabe a mim, como secretário, junto com as outras instituições, com o sistema, avaliar os critérios”, disse, em entrevista coletiva ao final da solenidade.

Questionado pela imprensa, Pedro Taques se recusou a informar o motivo pelo qual exonerou Jorge Luiz. “O motivo é o artigo 144 da Constituição Federal combinado com o artigo 66 da Constituição Estadual”, limitou-se a dizer, citando os artigos que dão ao governador o comando sobre a PM.

Comando do governador
Em seu discurso, Taques destacou, mais de uma vez, que a PM é subordinada ao governador. “Através da delegação de 833 mil pessoas, o povo me outorgou esta procuração e eu passo o comando-geral da Polícia Militar do estado de Mato Grosso”, disse, no começo da fala, relembrando o número de votos que teve nas eleições de 2014. 

Minutos depois, retomou a questão. “Por que um cidadão que não é militar comanda a Polícia Militar conforme determinação constitucional? Porque o povo assim quis. Em priscas eras, quem comandava não era o povo. Hoje é o povo que comanda”, disse.

Taques disse, ainda, que vai defender e ao mesmo tempo ficar de olho na PM. “Se depender deste governador, a Polícia Militar não será menoscabada, não será desrespeitada, não será violada. Eu também não permitirei injustiças na Polícia Militar. Esta é a função que o povo me determinou. Honra, lealdade, hierarquia, disciplina são os lemas que norteiam os profissionais que estão aqui”, discursou.

O ex-comandante Jorge Luiz, por sua vez, demonstrou que não recebeu com passividade a situação. “Sei perfeitamente o que estava fazendo como comandante e sei também porque estou deixando a função. E isso me conforta muito”, discursou.

Depois, ao ser questionado pela imprensa o que quis dizer com a frase, Jorge Luiz foi evasivo. “Que a sociedade e os policias militares não mereciam outro tipo de comportamento a não ser esse do comandante-geral”, respondeu. “E quando você desempenha a sua função com orgulho, com vontade, e sai da forma como eu saí, fica muito claro para mim, e isso me conforta, que eu fiz o que a sociedade espera de um comandante-geral.”

O coronel disse que o governador não apresentou a ele nenhuma justificativa sobre sua exoneração. “Saio bastante tranquilo. O cargo é do governo e nós temos que respeitar”, declarou. “Ele disse que eu estava fazendo um bom trabalho e eu acredito nele. E por isso deixo a nobre função de cabeça erguida. Tenho certeza do que eu estava fazendo e porque estava saindo. Tenho certeza que fiz o que a sociedade espera”, afirmou.

Ele negou qualquer constrangimento por sua saída. “De forma nenhuma. Em todo processo democrático, o posicionamento faz parte no sentido de redirecionar, de crescer. E como comandante geral, enquanto oficial de polícia, entendo que temos que posicionar sempre”, disse.

Prisões
O esquema de grampos ilegais que veio à tona no dia 11 de maio já resultou na prisão preventiva de três coronéis da PM: o secretário-chefe da Casa Militar, Evandro Ferraz Lesco, o adjunto Ronelson Barros e o ex-comandante-geral Zaqueu Barbosa foram presos suspeitos de envolvimento no caso.

Também foram presos por suspeita de participação nos grampos o tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista, comandante do 4º Batalhão em Várzea Grande, o cabo Euclides Torezan, cedido ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e o cabo Gérson Luiz Ferreira Correa Júnior.

O corregedor-geral da PM, coronel Alexandre Mendes, e o diretor de inteligência da corporação, coronel Victor Fortes, foram detidos administrativamente suspeitos de vazar informações sobre outras quatro prisões. Eles já foram liberados.

Barriga de aluguel
Os grampos ilegais foram feitos por meio de uma tática conhecida como “barriga de aluguel”, em que telefones de pessoas que não têm relação com o processo são incluídos nos pedidos de quebra de sigilo.

Desse modo, um processo que trata de tráfico de drogas foi usado para quebrar ilegalmente o sigilo de um celular do Gaeco, da deputada estadual Janaina Riva (PMDB), do jornalista José Marcondes “Muvuca”, do advogado José do Patrocínio, além de médicos, empresários e outras pessoas.

Os promotores de Justiça Mauro Zaque e Fábio Galindo denunciaram o esquema de escutas ilegais quando comandavam a Sesp, em 2015. Zaque afirmou que o governador tinha conhecimento do caso. Pedro Taques, por sua vez, tachou a denúncia verbal que Zaque havia feito a ele de “fofoca”.

 

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