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Cuiabanos que levaram rasqueado para os EUA sonham em tocar nas rádios

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Cuiabanos que levaram rasqueado para os EUA sonham em tocar nas rádios

André Romeu/SEC

rua do rasqueado

O sorriso tornou-se um elemento a mais no lambadão: faz parte da coreografia e está escancarado nos acordes das músicas

José Neinstein, professor da Universidade da Pensilvânia (Filadélfia), entusiasmou-se quando descobriu o rasqueado. “Ele me disse que era a primeira vez que via músicos sorrindo enquanto tocavam e as pessoas sorrindo e dançando também”, contou Milton Pereira de Pinho, um dos que tocavam no show assistido por Neinstein.

Milton, conhecido popularmente pelo apelido de “Guapo”, descobriria mais tarde que as referências do professor vinham dos Estados Unidos, onde os músicos de blues e jazz cantavam com uma expressão melancólica e triste. Tudo muito diferente da felicidade desenvolta do rasqueado e do lambadão cuiabano.

O contato com Neinstein, que é presidente do Brazilian-American Cultural Institute em Washington, levou Guapo aos Estados Unidos no ano de 2005. Lá, o músico fez um show que apresentou o ritmo aos gringos. Mas aquela foi também a última viagem internacional do rasqueado. 

“Foi só uma noite, nós representávamos Mato Grosso state culture”, diz Guapo com um inglês cuiabaníssimo, “mas foi o suficiente para sermos convidados para tocar na Bélgica e na Holanda”, relata.

Falta de apoio

A falta de apoio impediu que os músicos fossem até a Europa, mas a valorização repentina do ritmo fez com que Guapo e os colegas olhassem com mais afinco para a música que faziam.

“Hoje aqui em Cuiabá nós só temos duas rádios que tocam rasqueado, e não são as maiores. Como um ritmo popularmente conhecido não pode passar na programação?”, questiona ele.

André Romeu/SEC

rua do rasqueado

A prova de que o som faz sucesso é a Praça Caetano Albuquerque, que atrai os amantes do ritmo às quintas-feiras

 

Desde 1993 Guapo, Marcos Levi (trompetista), Benê Sintra (percursionista) e mais uma série de fãs de rasqueado e lambadão organizam na Praça Caetano Albuquerque o evento “Rua do Rasqueado”. Nem sempre os shows têm a frequência ideal e os músicos pedem ajuda governamental para organizar o evento.

“Chega o Reveillon e o governo e a prefeitura só trazem artistas de fora. A rádio não toca de jeito nenhum, só se pagar. Os outros ritmos tocam, são uma cultura imposta que os nossos políticos compram e insere goela abaixo”, comenta Marcos Levi de Barros, trompetista que já tocou lambadão e rasqueado em oito estados brasileiros.

A Rua do Rasqueado desta quinta-feira (14) foi patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado e conta com apoio Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo. Mas, segundo Guapo, o projeto teve um valor inicial que foi diminuindo pouco a pouco, até ser posto em prática com um orçamento muito menor.

Edson do Espírito Santo, vocalista da primeira banda de lambadão de Mato Grosso, diz que o primeiro passo para sair dos circuitos restritos é tocar música autoral, o que muitas bandas preferem não arriscar. Ainda que isso acontecesse, conforme ele, o apoio do governo seria essencial.

“Tem gente que grava CD e DVD mas fica só isso, não tem divulgação, não tem apoio do pessoal da Cultura, não dá para chegar até um público maior assim”, resume ele.

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