Sem uma definição clara de como proceder, as zonas de comércio de Cuiabá e Várzea Grande tiveram um movimento tímido pela manhã desta quinta-feira (25), quando se iniciou oficialmente o lockdown – ou quarentena obrigatória – nas duas cidades.
Muito diferente das cenas desérticas vistas nos países europeus que adotaram a medida, houve uma redução de pessoas nas ruas, porém não uma paralisação total como a determinação judicial exigia.
Nos bairros de Cuiabá, o fluxo de pessoas era um pouco maior. Estabelecimentos que abriram, porém, como precaução, não colocaram na área de exposição externa nada que fosse difícil de recolher, caso a fiscalização mandasse fechar as portas.
A regra foi a mesma para os ambulantes. Jonas Malheiros, 51 anos, é camelô na Avenida Brasil, principal via do bairro CPA. Ele costuma trabalhar com películas de celular, capinhas e máscaras.
Nesta quinta-feira, ele levou apenas as máscaras, porque consegue alocá-las em cima de um carrinho de mão. Assim, caso a fiscalização chegasse, teria tempo hábil para sair correndo e poupar a mercadoria da apreensão.
Mesmo usando uma máscara estampada com o sorriso, ele não escondeu a preocupação. Apesar de reproduzir a justificativa do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), de que falta efetividade no lockdown quando se trata de combater a covid-19, o que pesou mesmo na decisão dele de continuar trabalhando foi a sobrevivência.
“Eu concordo com o prefeito. Não adianta fechar Cuiabá e Várzea Grande porque o povo que lota os hospitais são do interior. E, para ser sincero, eu não vou respeitar porque não posso. Se eu ficar dois dias sem trabalhar, passo fome“, argumenta.
Enquanto nada se resolvia, já que o prefeito deixou de fazer um planejamento porque esperava que o Tribunal de Justiça revogasse a decisão, o que não aconteceu, a Rádio Comunitária do bairro anunciava como se prevenir da covid-19.
A gravação ensinava como lavar as mãos e usar máscara, mas nem de longe sanava as dúvidas práticas dos comerciantes e clientes, que queriam saber como será o fechamento dos estabelecimentos e controle de trânsito de pessoas nas principais cidades da Região Metropolitana do Vale do Cuiabá.
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Já nos vídeos, que eram acompanhados pelo celular e na televisão, a abordagem era mais pesada. O empresário André Luiz dos Santos, 42 anos, trabalhava enquanto acompanha o noticiário, que não trouxe perspectivas positivas.
Ele tem uma pequena oficina para computadores e vende acessórios para notebooks e celulares e abriu normalmente hoje. Disse que fará isso até que haja um determinação da fiscalização ou da polícia para fechar.
Santos reclama das incertezas e mudanças quase que instantâneas de discurso.
“Cada hora inventam um remédio que ajuda. Esses dias veio um cliente aqui e me disse que mandou manipular uns comprimidos indicado para prevenir covid. Eu que não compro essas coisas. A verdade é que todos ficam na politicagem“.
Centro de Cuiabá
Na Praça Ipiranga, bem no coração da Capital, os ambulantes olhavam para um grupo formado por fiscais da Prefeitura e policiais militares desconfiados. Eles vendiam os produtos para as pessoas que passavam, mas já estavam sem guarda-sol e demais apetrechos que pudessem inibir uma fuga inesperada.
Quanto às lojas, as consideradas pelo decreto como essenciais estavam abertas, entre outras poucas unidades. Mas tudo muito distante da agitação diária.
A equipe do LIVRE tentou falar com os agentes públicos que eram observados pelos vendedores ambulantes, mas eles informaram que foram orientados a não falar com a imprensa.
No entanto, um deles desabafou: não havia determinação e nem o que fazer. Disse ainda que as equipes foram todas mobilizadas, mas só saberiam qual ação adotar depois que o prefeito fizesse o pronunciamento, às 11h30.
Várzea Grande
A cidade industrial, que por vezes foi acusada de contribuir para o caos na Saúde pública, já que não adotou medidas rigorosas de isolamento social, estava mais deserta que Cuiabá.
A avenida Couto Magalhães, uma das mais movimentadas, tinha apenas os estabelecimentos considerados essenciais abertos. Havia pessoas na rua, porém numa quantidade aquém do habitual.
Armindo Sebba Filho também se disse contra o lockdown e a justificativa dele é a incoerência nas ações do poder público.
Segundo do empresário, as determinações não instáveis e quem não as quebrou, está perto disso.
“Eles falam que não pode aglomerar. Não pode na loja, mas na frente dos bancos, todo dia, há aglomeração. No transporte público, então, nem se fala. Não dá para entender”.
Segundo o várzea-grandense, se a situação continuar deste jeito, não sobrará nenhum comerciante após a pandemia.