Herley Nascimento dos Santos, que também assumia identidade como Célio Roberto Rodrigues, era um preso acusado de estuprar uma mulher em Manaus até que o Laboratório Forense de Mato Grosso agiu e o transformou em um perigoso criminoso em série, apelidado de “O Maníaco de Manaus”.
A polícia atribuiu ao então suspeito mais três estupros ocorridos em solo mato-grossense a partir de provas vindas de análises de DNA.
O trabalho foi realizado pelos técnicos da Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso (Politec), que nada deixam a desejar se comparados aos personagens da famosa série CSI.
Em seguida, o perfil genético dele continuou circulando entre os sistemas dos estados brasileiros que desenvolvem o mesmo trabalho científico.
Foi uma questão de tempo para que fossem encontradas e confirmadas vítimas em Rondônia e outros estados da região Norte, por onde ele passou.
Segundo a diretora Metropolitana do Laboratório Forense, Alessandra Puertas, esse é um apenas um exemplo dos casos que serão elucidados com a inserção dos materiais genéticos de vítimas e de criminosos no Banco Nacional de Perfis Genéticos.
Atualmente, mais de 5 mil vestígios de crimes sexuais estão armazenados nos arquivos da Politec e a meta e conseguir colocar 2 mil no banco até 2020.
Trabalho que acontece de forma simultânea é a inserção do material genético de condenados por crimes hediondos em Mato Grosso.
Puertas explica que com o cruzamento das duas informações, muitos crimes poderão ser solucionados e outros criminosos seriais, identificados.
De porta a dentro
Dentro do laboratório de DNA da Politec, a diretora explica como é o trabalho diário dos profissionais. Ela aponta onde é realizada cada parte do processo e assegura que a tecnologia e os conhecimentos usados são de última geração.
Isso porque o investimento em equipamentos, insumos e capacitação foi muito alto. Grande parte dos valores vêm do Ministério da Justiça, que tomou o banco com uma das principais frentes de trabalho.
Ela mesmo já fez cursos com profissionais do FBI, a Polícia Federal dos Estados Unidos, e um dos servidores está se capacitando no mesmo país, onde faz doutorado.
Além disso, há inúmeros cursos promovidos dentro do país, nos quais são oportunizadas vagas para os técnicos mato-grossenses.
Já o laboratório, não deixa por menos. A estrutura física foi construída em 2009 e naquela época custou R$ 2 milhões, investidos pelo governo do Estado.
Os equipamentos ficaram a cargo da União, que aplicou cerca de R$ 1 milhão.
Soma-se aos valores os insumos para o trabalho, como reagentes diversos, equipamentos de proteção e utensílios.
A diretora lembra que enquanto as mudanças físicas eram realizadas, também corria no âmbito legislativo o projeto que estabelecia a obrigatoriedade da coleta de DNA dos condenados por crimes hediondos, aprovado em 2012.
O cotonete que condena
Antes de começar o tour pelo laboratório, a diretora ressaltou a importância de se usar luvas, toucas, aventais e protetores para os pés.
“Precisamos ter consciência que os vestígios deixados pelo criminoso são sempre em quantidade muito pequena. Então, temos que ter todo cuidado para não contaminar o ambiente com o nosso material genético”.
Entre os vestígios que os técnicos trabalham está um fio de cabelo, um pedaço de lençol, uma peça íntima ou sêmen deixado na vítima.
Na primeira sala, o material é organizado. Caso seja um pedaço de lençol, por exemplo, recebe luzes e outros reagentes para que o local exato seja identificado.
Em seguida, aquele material é separado em amostras e passa pelo termociclador, onde é amplificado e em seguida inserido em um sistema, que o coloca à disposição de outros estados e ainda cruza as informações com os perfis que estão no banco genético nacional.
Depois, entra em ação um trabalho estatístico para saber qual a porcentagem de compatibilidade entre o material recolhido da vítima ou do local do crime e o do até então suspeito.
Identificação de corpos
A diretora do laboratório explica que ter um banco de dados dos perfis genéticos pode ser de grande serventia.
E dá como exemplo o caso de um corpo que foi encontrado nas margens do Rio Araguaia, entre Barra do Garças e Aragarças (GO) e estava no necrotério do Estado vizinho, sem identificação.
Foi por meio do cruzamento de dados do banco de perfis que a polícia de Goiás identificou a pessoa, que teve o material coletado em um roubo em Primavera do Leste.
Logo, explica a diretora, assim que a identidade estiver confirmada, os dois crimes estarão mais perto de serem solucionados. Tanto a morte da vítima, como a participação dela no roubo em Mato Grosso.
Puertas lembra que nos Estados Unidos, existe uma lei diferente para cada um dos Estados. Alguns coletam apenas DNA dos criminosos e outros fazem a coleta de todos que passam de alguma forma pelas delegacias.
Na opinião da profissional, o ideal é que todas as pessoas estivessem no banco. Isto ajudaria não só a criminalística, como várias outras ações como a identificação de vítimas, por exemplo.
Banco de perfis
Mais de 1.500 condenados por crimes hediondos já integram o Banco Nacional Perfis Genéticos. O trabalho iniciou há 6 meses e visa integrar um sistema compartilhado entre as polícias.
Mato Grosso é um dos 18 laboratórios credenciados pela rede integrada. São considerados hediondos os crimes de homicídio, roubo seguido de morte, estupro e genocídio.