Consumo

Crise? Que crise? Pandemia faz comércio na periferia “bombar” em Cuiabá

Estar perto do cliente, entregar em casa e manter um relacionamento intimista são os principais diferenciais

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Crise? Que crise? Pandemia faz comércio na periferia “bombar” em Cuiabá
(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Dobrar e até triplicar o faturamento é uma realidade para os empresários dos bairros de Cuiabá durante a pandemia. Os serviços, que se encaixaram no que se definiu como essencial, estão navegando em um mar farto. O motivo? As pessoas não querem se deslocar por conta das recomendações de isolamento social.

No Pedra 90, por exemplo, as ruas principais, onde estão instalados os estabelecimentos, estão sempre movimentadas. E, quem não é atendido pessoalmente, passou a ter no whatsapp e telefone um recurso eficaz.

Welton Ferreira é gerente da loja de materiais de construção Construsil e fala que o número de pedidos aumentou, tanto para quem mora nos arredores, como para outros bairros.

Ele explica que as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e estão vendo o que precisa ser feito nos imóveis, o que as faz investir nas adaptações para a nova rotina.

Welton Ferreira não tem do que reclamar, triplicou vendas na pandemia (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Outro fator que ajudou muito foi o auxílio emergencial, disponibilizado pelo governo.

“As pessoas, primeiro, compram a comida. Depois, o que sobra, acabam arrumando uma telha que está vazando ou fazendo algum reparo”, explica.

Como estratégia para não perder o cliente, a empresa vende em pequenas quantidades e também não cobra o frete, que é algo incluso na conta pelas concorrentes. Algumas chegam a cobrar R$ 60 pelo serviço.

“Eu acredito que estamos bem por conta da credibilidade. A nossa propaganda é no boca a boca. Assim, tratamos de atender bem para colher o resultado e chegamos a triplicar o lucro”, ele afirma.

Ficar em casa dá fome e quem vende alimentos está faturando com a isolamento social (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Na mesma rua da loja, está a frutaria da Ângela, que também não tem o que reclamar. Ela está vendendo muito porque, passando mais tempo em casa, as pessoas estão acabam comendo mais, segundo sua teoria.

Nos últimos dias, a comerciante tem percebido uma venda maior de laranja e inhame. Ela relata que as mulheres do bairro viram na internet que um suco feito com os dois produtos seria bom para combater a covid-19.

Se preparando para o fim da pandemia

O empresário José Dorival, da Vovó Utilidades, ainda está surfando na pujança da pandemia, porém já se prepara para a escassez.

Desde a chegada do coronavírus, ele enfrentou o fechamento das portas por 14 dias e, em seguida, viu os clientes aumentarem. Com o lucro inesperado, diante do cenário que via nos jornais, resolveu aproveitar.

José Dorival pagou dívidas pendentes há  6 anos e se prepara para o pós-pandemia (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Pagou contas que estavam em aberto há mais de seis anos. Quitou todos os fornecedores e a ainda trocou de carro.

Agora, está reforçando o estoque e fazendo uma reserva de capital, porque acredita que as coisas podem mudar em janeiro.

“Tem muita gente desempregada e o dinheiro pode parar de circular. Quero me preparar para caso isso aconteça”.

Fala do especialista

Consultora do Sebrae, Lucimeire Dias explica que o fortalecimento do comércio nos bairros já era uma tendência antes da pandemia. Agora, o processo foi acelerado por conta da nova rotina.

Ela adverte os empresários que eles precisam se capacitar em gestão, inovar e ficarem atentos ao comportamento dos cliente, para não perderem espaço para as grandes empresas, que já estão de olho nessas regiões.

Dias lembra que as pessoas estão em casa e precisam comer, arrumar a máquina de lavar, cortar cabelo e manter a funcionalidade do espaço onde vivem. Um cenário frutífero para o setor de serviços e demais atividades que possam ser entregues em casa.

Também estão vendo com mais carinho o local onde vivem. Querem decorar, ter plantas e propiciar um isolamento social menos traumáticos.

Paralelo a isso, tem a questão psicológica. O consumidor não quer ser mais um. Ele precisa ser chamado pelo nome e ter uma relação com o comerciante, mesmo que seja pelo telefone.

“Os negócios que estão dando certo se adequaram às necessidades do cliente e criaram uma relação intimista com ele”, avalia.

Ela cita como exemplo um cliente de materiais para construção, que acompanha o andamento da obra dos clientes e liga para sugerir produtos conforme a etapa. Afinal de contas, já sabe que haverá a necessidade e se antecipa.

Nesse processo, ele consegue fazer uma boa venda porque as pessoas não querem sair de casa com medo de se contaminar e ficam sensibilizadas com a atenção oferecida.

A relação de intimidade com o vendedor é o algo a mais que conquista o cliente (Foto: Freepik)

Desafios de se atender na pandemia

Encontrar a empresa é o maior desafio do cliente e, se fazer encontrar, é o do empresário. Então, Dias aconselha as pessoas a manterem os canais de comunicação atualizados na internet e investir em redes sociais e no cadastro de clientes, fazendo o contato por telefone.

Quem não usa as redes sociais, passou da hora de começar. E não pode esquecer de mantê-la atualizada; usar o espaço para mostrar o que se tem disponível e atrair comentários, que podem servir como referência.

Outra preocupação deve ser as medidas de proteção sanitárias, como a higienização com álcool gel, o uso de máscaras e ainda a manutenção do distanciamento recomendado.

Novos negócios podem surgir

Há quem não pode abrir o salão e passou a atender o cliente em casa. Além de pessoas que se oferecem para fazer compras no lugar de quem não quer romper o isolamento social.

E não é um serviço de entrega, é a personalização da compra, conforme as exigência de qualidade de quem solicitou.

A criatividade, pesquisa e capacitação, explica Dias, pode fazer com que o empreender ache novas atividades ou invista no resgate de outras que, agora, tornaram-se viáveis. Entre elas a venda de verduras de porta em porta, bem como a entrega diária de leite.

“Temos que trabalhar também o nosso psicológico para ver as possibilidades. Não podemos nos abater pelo contágio emocional”, argumenta a consultora.

Dias encerra falando que o Sebrae oferece vários cursos de qualificação para empresários e até mesmo consultorias online gratuitas, que podem ser um bom começo para quem quer entrar no mundo dos negócios durante a pandemia.

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