Na avaliação de 73% dos pediatras brasileiros, as crianças estão deixando de ser vacinadas durante a pandemia de coronavírus. O dado faz parte da pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19) pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Foram ouvidos por formulário online 1.525 médicos de todos os Estados.
Segundo a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, muitas crianças não têm sido vacinadas por falta de informação das famílias e medo de contaminação pelo novo coronavírus.
“Não queremos que doenças que já estão erradicadas ou diminuíram muito voltem a nos assustar”, enfatizou sobre a importância do cumprimento do calendário vacinal mesmo durante o período de quarentena.
De acordo com a pesquisa, 70% dos médicos dizem que as famílias têm medo de se contaminar ou infectar as crianças em consultas presenciais.
Nesse sentido, 82% dos médicos relataram um aumento dos atendimentos por telefone, aplicativos de mensagem e outras formas de comunicação à distância.
Alterações no comportamento
A pesquisa também abordou a percepção desses médicos sobre o comportamento das crianças durante o período de isolamento social. Pelo menos 88% deles notaram alguma alteração.
Em 75% das situações, os profissionais notaram mudanças de humor.
“[O isolamento social] Foi prejudicial não só para a maior irritabilidade, perda de atenção, como maior tempo de tela, em frente aos computadores, celulares, como maior número de obesidade das crianças”, explica Luciana.
Como forma de minimizar esses problemas, a presidente da SBP diz que os pediatras devem orientar às famílias sobre como envolver as crianças nas atividades domésticas, fazer atividade física e estimular comportamentos que visem o desenvolvimento.
Exames no pré-natal
Em relação aos ginecologistas e obstetras, mais da metade (52%) perceberam um atraso das gestantes em fazer os exames no pré-natal e 46% disseram que as mulheres tiveram dificuldade em fazer os exames.
Além disso, 8% firmaram que as pacientes simplesmente deixaram de fazer os procedimentos.
Para o presidente da Febrasgo, César Fernandes, isso é preocupante e pode atrapalhar tratamentos necessários aos bebês.
“A sífilis congênita é um mal que nós praticamente não considerávamos há uma década. Aumentou o número de sífilis congênita no Brasil de forma vergonhosa, mais de 1.000% do início dos anos 2000 para agora. E você tem que fazer o diagnóstico antes de 14 semanas de gestação para efetuar um tratamento apropriado”, exemplificou sobre a necessidade dos exames no período pré-natal.