Principal

Conheça a história por trás dos nomes curiosos de ruas de Cuiabá

7 minutos de leitura
Conheça a história por trás dos nomes curiosos de ruas de Cuiabá

Há algumas semanas, uma publicação no Facebook chamou a atenção da reportagem do LIVRE. Nela, o publicitário cuiabano Álvaro H. Rodrigues escreveu: “Por que a Avenida Lava Pés tem esse nome?”. Como a curiosidade move as pessoas, nós decidimos ir atrás da resposta.

Procuramos o geógrafo Anibal Alencastro, 75 anos, um cuiabano que conhece tanto a história da Capital que já faz parte dela. Afinal, é um de seus ancestrais que dá nome à famosa Praça Alencastro, no centro de Cuiabá.

Anibal nos contou um pouco mais sobre as histórias que deram origem aos nomes “Lava Pés, Voluntários da Pátria, Prainha e Avenida dos Trabalhadores” – e nós te convidamos a também conhecer. Então, senta, que lá vem história!

Lava Pés

Segundo Anibal, a primeira rua chamada de Lava Pés foi onde atualmente é a 24 de Outubro, que, inclusive, também já teve vários outros nomes. Mas a maioria dos cuiabanos liga o nome à rua no trecho entre o Goiabeiras Shopping e ao 44º Batalhão de Infantaria Motorizada, que hoje se chama José Monteiro de Figueiredo.

Ednilson Aguiar/Olivre

Avenida Lava Pés

Avenida José Monteiro de Figueiredo, ou “Lava Pés”, em Cuiabá: local de descanso para tropeiros

Mas a história por trás do nome Lava Pés vem de muitos e muitos anos atrás. Antigamente havia um comércio chamado Mercado Público, entre a Generoso Ponce e a Joaquim Murtinho, onde atualmente funciona uma galeria. Este foi o segundo mercado da Capital, um importante ponto de comércio entre as décadas de 50 e 60 do século passado.

À época, os tropeiros, como eram conhecidas as pessoas que atravessavam extensas áreas transportando gado e mercadorias, traziam os produtos, que seriam comercializados em Cuiabá, de locais próximos, como Livramento, Nossa Senhora da Guia e Acorizal.

Os produtos – feijão, arroz, entre outros, eram transportados dentro de malas de couro (cangalhas) e colocados em cima de bois. Os tropeiros vinham para a Capital pela Estrada da Guia a pé, tocando os animais, em uma estrada de terra, que passava em frente ao local em que hoje é o quartel, e seguiam pela Rua 24 de Outubro, que nessa época ainda não tinha nome.

A Rua 24 de Outubro hoje tem a praça Clóvis Cardoso, onde fica a barraquinha do famoso Zé Dog. Antigamente, no local havia um pequeno lago, que era a nascente do Córrego da Pólvora. Os carroceiros passavam por esse local e, em seguida, desciam a “Rua do Coxim”, atual Avenida Isaac Povoas, por sinal uma estrada muito ruim.

A nascente era então uma parada dos tropeiros, para dar água para os bois e lavar os pés, visto que vinham de longos caminhos em estradas de chão. Por isso, o local ficou conhecido como Lava Pés e deu nome à rua. Lá eles se preparavam para ir até o Mercado Municipal, onde eles acomodavam as tropas e entregavam as mercadorias.

Prainha

A Prainha, segundo Anibal, é onde começou Cuiabá. A história do local começa bem longe, lá no descobrimento do Brasil, quando espanhóis e portugueses dividiram o país em capitanias hereditárias.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Avenida Tenente Coronel Duarte, Prainha

“Prainha”: aqui começou Cuiabá

Anos depois, bandeirantes portugueses procurando índios para transformar em escravos, entre eles Pascoal Moreira Cabral, descobriram um lugar que era chamado de “a Barra do Coxipó”, onde hoje é o São Gonçalo Beira Rio. Lá tinha uma aldeia de índios chamados Coxiponês.

Eles começaram a levar índios para São Vicente, a primeira cidade fundada pelos portugueses no Brasil, até descobrirem que no leito do Coxipó tinha muito ouro. Eles mudaram o objetivo da expedição e passaram a utilizar os índios como guias, entrando no rio Coxipó e subindo até onde hoje é a saída para Chapada dos Guimarães, no “Arraial de Furquilha”, onde tinha ainda mais ouro.

Um homem começou a perceber que no Arraial tinha muito ouro, mas não comida e resolveu plantar para vender para os garimpeiros, este era Miguel Sutil. Uma das coisas que ele plantava era café, que adoçava com mel de abelha. Certa vez, ao mandar os índios buscarem mel, eles retornaram com ouro de um novo local.

No outro dia, Miguel Sutil e seu sócio, Barbado – que dá nome ao córrego do Barbado, próximo à Avenida Fernando Corrêa -, foram junto aos índios procurar esse local que também tinha muito ouro, chegando a outro córrego, a Prainha. Eles encontraram um morro salpicado de ouro, o Morro da Luz. Isso, segundo Anibal, aconteceu em 1722. E é o motivo do brasão de Cuiabá possuir uma colina coberta de ouro.

O nome, Prainha, veio do fato de que o córrego tinha uma espécie de praia, formada por pedras piçarras, em que o ouro ficava preso. Foi somente em 1966 que o local ganhou as ruas nas laterais do córrego.

Voluntários da Pátria

A princípio, a via não tinha nome, era somente mais uma das ruas tortas da Capital, formadas conforme os garimpeiros foram fazendo suas casas. Isso mudou durante a guerra do Paraguai, entre os anos de 1864 e 1870.

Ednilson Aguiar/Olivre

Rua Voluntários da Pátria

Voluntários da Pátria: homenagem aos negros que lutaram pelo Brasil

Com a guerra, quase toda guarnição de Cuiabá foi para o Sul para defender o Brasil dos paraguaios, praticamente já não tinha soldados aqui para lutar. E, em meio à guerra, os paraguaios tomaram a cidade de Corumbá (MS), visto que a fronteira estava desguarnecida.

Nisso, chegou a notícia de que eles estavam querendo continuar, subir o rio Cuiabá e tomar a Capital mato-grossense. O almirante francês Antônio de Leverger, que ainda não tinha o título de Barão de Melgaço, estava morando em Cuiabá e, em pânico, as autoridades de Cuiabá chamaram o almirante para traçar um plano para resolver esse problema.

Ele aceitou a missão e reuniu todos os homens que estavam disponíveis para executar seu plano, em grande maioria escravos enviados pelos fazendeiros, essas pessoas foram chamadas de voluntários da pátria.

Como conhecia muito bem o rio Cuiabá, tinha até feito mapas do rio, Antônio de Leverger foi, junto aos voluntários, para onde hoje é Barão de Melgaço. Naquela região ele sabia que tinha um trecho em que o rio Cuiabá se estreitava e resolveu criar uma emboscada no local, com a intenção de tombar o navio dos paraguaios.

Essa emboscada, uma grande corrente com uma alavanca e também uma trincheira, está no local até hoje. Quando os paraguaios souberam da emboscada, desistiram de tomar Cuiabá.

Com isso, os negros que haviam sido “voluntários” ganharam carta de alforria por terem salvado a Pátria. E em homenagem a eles a via foi nomeada Rua Voluntários da Pátria.

Avenida dos Trabalhadores

Atualmente, a via se chama Avenida Dante de Oliveira, mas, desde o início, o nome já era uma homenagem ao político. A Avenida dos Trabalhadores tem a explicação mais simples das quatro cujas histórias contamos hoje.

Ednilson Aguiar/Olivre

AV dos trabalhadores

Avenida dos Trabalhadores: um corredor de operários

Segundo Anibal, como Dante foi o responsável pela abertura da via e uma de suas maiores causas defendidas era a luta pelos operários, a rua ganhou esse nome em homenagem a seu trabalho.

Além disso, a avenida também leva a vários bairros que eram somente de operários: era como um “corredor” da classe.

Em homenagem ao aniversário de Cuiabá, em abril de 2017 o LIVRE fez um série de matérias com histórias de personagens que emprestam o nome a avenidas e monumentos da Capital, leia também, começando por aqui:

Em caso de crise, chame Pedro Celestino

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
1
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes