Eu pensei em usar a palavra “avaliar” neste título, ao invés de “julgar” mas o que vejo é muita gente julgando mesmo o Papa Francisco sem dó nem piedade. Do alto de sua aversão política ao molusco muitos não se vexam ao proferir xingamentos e impropérios ao Sumo Pontífice e até, pasmem, fazer ameaças de danação ao inferno!
Ao contrário dessas pessoas indignadas com o encontro em Roma, não me sinto capaz de fazer um julgamento destes nem alguém que tem a permissão moral ou religiosa para colocar o Papa num tribunal. E acredito que você também deveria pensar duas vezes antes de fazê-lo.
Tenho que me explicar primeiro que não sou católica. Como muitos evangélicos da minha geração no Brasil, fui criada em família católica e me converti ao Pentecostalismo ainda bem jovem. Quando católica aprendi a venerar o Papa e suas palavras, e como evangélica jovem entendi que deveria desprezá-lo.
Hoje, adulta e madura, não faço nenhuma das duas coisas. Tenho pelo Papa o respeito devido a um religioso que carrega nos ombros o peso enorme de representar a maioria da cristandade mundial.
Além do bairro
Se você é evangélico e acha que o Papa não te representa, eu te aconselho a lançar seu olhar para além do seu bairro e do momento histórico que vivemos hoje. Olhando para a teia da história cristã de dois mil anos, nós, evangélicos brasileiros, nascemos ontem.
O Pentecostalismo como movimento mundial nasceu antes de ontem, e a Reforma Protestante aconteceu há dez anos. Apague-se da história a tradição Católica e o Cristianismo fica reduzido a quase nada.
Se estivéssemos caindo num abismo de secularismo e contássemos apenas com a tradição evangélica para nos proteger da queda, estaríamos pendurados numa folha de grama solitária e sem raiz.
Voltando ao Sumo Pontífice, é necessário entender que as obrigações de seu cargo são primariamente religiosas. Suas ações simbolizam a graça e a misericórdia do Senhor Jesus, e seu acolhimento aos pecadores.
Exemplos de João Paulo II
Como Papa, se um pecador lhe pede uma audiência, ele é compelido a dar. Não importa se o pecador é um criminoso que tentou assassiná-lo, como fez João Paulo II, um torturador conhecido e convicto por seus crimes, também João Paulo II, ou um corrupto sem caráter como Lula.
O Papa Francisco conversou por uma hora com Lula. Com certeza um homem que chegou a à posição de supremo líder da maior igreja cristã do planeta sabe interpretar pessoas. Acredito que o mau-caratismo de Lula não é um segredo, mas está escrito em seu rosto. O Papa com certeza soube lê-lo.
Cafezinho inoportuno
O que Lula vai fazer, a maneira como ele vai explorar politicamente o encontro, não é responsabilidade do Papa. Disse o Padre Augusto Bezerra numa postagem no Facebook que o encontro pode ser comparado com “tomar um cafezinho com alguém que bateu na porta inoportunamente”.
Ele se baseia na constatação de que a data não foi colocada na agenda oficial do Papa – e o serviço de fotografia oficial do Vaticano não estava presente. Isto não acontece nos encontros a quem a Cúria Romana confere importância histórica, religiosa ou política. Protocolo é tudo nestes ambientes, e o protocolo que conferiria a Lula uma honra maior nao foi parte do evento.
Mas mesmo que o Papa ignore os problemas de Lula ou do Lulismo, mesmo que a lealdade política de Francisco com a esquerda seja maior que seu bom senso, ainda posso dizer que ele fez o que a sua consciência de líder cristão lhe determinou. Só sei que eu não sou Deus. Não faço suposições sobre a alma do Papa, nem dou à Lula esta importância toda. Ele continua sendo um reles molusco como sempre foi, com ou sem a benção de Francisco.
O Papa recebeu um reles pecador para ouvi-lo e quem sabe fazer com ele uma oração. Você não faria o mesmo? Se a sua Bíblia te dá razão para defender a rejeição ao pecador, sugiro que troque por outra, porque ela não é a Bíblia cristã.