Comportamento

Especial | Com o fim da AM, ele levou o programa de rádio para os bares da cidade

Conheça Osvaldinho Júnior, que toca rádio AM em bares, padarias, conveniências e onde mais for chamado em Poxoréu

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Especial | Com o fim da AM, ele levou o programa de rádio para os bares da cidade
O Domingo Sertanejo é o grande momento do fim de semana em Poxoréo (Reprodução/Facebook)

Depois que a estação de rádio AM onde trabalhava transformou-se em uma FM, o radialista Osvaldo Marque Batista já não podia mais contar com a transmissão do programa que mantinha há 30 anos. Era no Domingo Sertanejo da rádio Sul-Mato-Grossense 850 AM que os talentos de Poxoréu (260 km de Cuiabá) tinham seus minutos de fama e suas músicas ecoavam até a zona rural.

E logo a população foi inundada por um sentimento saudosista, já que no Domingo Sertanejo, além de ouvir música caipira, eles eram informados sobre falecimentos, missas de sétimo dia, batismos, casamentos ou os recados que as famílias queriam mandar para os parentes da zona rural.

“Hoje, boa parte da programação musical das rádios é voltada ao pop e os ouvintes têm mais notícias sobre o dia a dia das grandes cidades, do que da própria realidade. Eles ficam alheios ao que acontece no seu entorno”, diz o radialista.

Do estúdio para as ruas

Domingo Sertanejo resiste: do estúdio, ele foi para os bares da cidade (Reprodução Facebook)

Mas para continuar agradando e agregando, Osvaldinho Júnior, como é conhecido na cidade, arrumou uma maneira de resistir. Para contornar a falta do estúdio, ele criou um “circuito” deles. A ideia foi operar de maneira itinerante, para manter assim a relação afetiva da comunidade com o programa.

“Perto de a rádio ser extinta, já alertavam sobre essa possibilidade. Eu já estava me preparando, mas não sabia o que seria a partir daí”, diz o radialista, que agora mantém uma produtora de eventos que, dentre outras frentes, trabalha com carros de som para noticiar de promoção no supermercado a falecimentos.

Osvaldinho faz a alegria de músicos e moradores (Reprodução)

Quando o programa acabou em 2017, ele se articulou junto a empresários da cidade para burlar o silêncio. “Temos muitos artistas locais dedicados ao sertanejo, à moda de viola, mas eles já não tinham mais onde se apresentar”.

Osvaldinho conta que, nos primórdios, o programa era realizado em um estúdio pequeno, mas como a música rolava ao vivo, começou a juntar muita gente no pequeno espaço.

“A gente abria espaço para os artistas amadores, pois era a única chance que tinham de tocar para mais gente. De repente, o estúdio ficou pequeno e improvisamos um espaço no quintal da rádio; daí, além de palco, colocamos bancos para a plateia”, relembra.

E com o fim do programa… “Isso representaria o fim do grande momento de lazer que tinham os moradores da cidade”. Foi pensando nisso que articulado a bares da cidade e da zona rural, ele resolveu levar o programa para cada um desses pontos.

Agenda cheia

“Para você ter uma ideia, temos agenda cheia até março de 2020. E sem contar com o número de vezes que ficávamos em cada lugar… tivemos que reduzir as edições em cada bar de quatro para duas vezes, para dar oportunidade para outros estabelecimentos, que podem ser até padaria, conveniência… Tendo espaço, a gente vai para lá”.

Ele calcula que, em dois anos, já passou por mais de 100 lugares, incluindo zona rural e distritos, como Alto do Coité e Aparecida do Leste.

Mas quem pensa que Osvaldinho ganhou uma fonte de renda com o novo circuito, está enganado.

“Costumo dizer que ganho um cachê para pinga”, brinca, ao contar que recebe R$ 80 por noite, sem contar os descontos dos espetinhos, cigarro e cerveja que paga para um músico ou outro. “E temos ainda umas três cotas de patrocínio de R$ 120, cada”.

A aparelhagem de som, incluindo microfones, pedestais, cabos para instrumentos – é toda negociada entre o dono do estabelecimento e o empresário do equipamento.

E dá-lhe música, e dá-lhe dança

Domingo animado em Poxoréu (Reprodução Facebook)

Tal qual o programa de rádio, a festança começa com a vinheta executada outrora. Daí, cada grupo ou músico tem direito a tocar umas três músicas. E dá-lhe dança. E parte do programa é também exibido pelo perfil de Osvaldinho no Facebook.

Pela noitada – que começa com o programa de rádio – passeiam violeiros, sanfoneiros e cantores dedicados à música caipira, além de bandas de forró. “Não é por dinheiro. A gente vai se apegando aos amigos, aos músicos que são vaqueiros, garimpeiros, moto-taxistas, servidores públicos. É aí que eles podem se expressar”.

O radialista que nasceu em Tupi Paulista e de Piracicaba “pulou” para Poxoréu a convite de um amigo, vai continuar se dedicando ao programa.

“Sem chances de sair daqui. Tenho esposa, três filhos e um neto. Sei que o forte da cidade era o garimpo, mas agora é a música e é nisso que vamos continuar apostando”.

A propósito, a cidade realiza há 17 anos o Encontro Nacional de Violeiros, tradicional festa dedicada à música sertaneja de raiz que atrai a Poxoréu artistas de todo o país.

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