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Cinco perguntas para os Papais Noéis dos shoppings da Grande Cuiabá

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Cinco perguntas para os Papais Noéis dos shoppings da Grande Cuiabá

Uma das tradições mais marcantes do Natal é o Papai Noel. Quando os velhinhos barbudos, de roupa vermelha, chegam aos shoppings, milhares de crianças vão até o trono para tirar uma foto e, é claro, fazer seus pedidos.

Na Grande Cuiabá há cinco shoppings, que preparam todo o mall para a chegada do bom velhinho e a visita das famílias a ele.

Depois de tantos anos encarnando a figura encantadora do Papai Noel, esses senhores já ouviram muitas histórias e viveram experiências emocionantes que, hoje, o LIVRE conta para você em mais uma entrevista da série “Cinco Perguntas Para”, desta vez, um especial de Natal em que todos os Papais Noéis dos shoppings contaram um pouquinho de suas lembranças.

Papai Noel do Shopping 3 Américas

O bom velhinho mais famoso de Mato Grosso – que no ano passado se tornou conhecido em todo Brasil – fica há 13 anos no Shopping 3 Américas. Clóvis Rezendes Matos, 64 anos, é historiador e entusiasta da leitura. Ele aceitou o convite para ser Papai Noel em 2005, depois de dois anos que vinha sendo chamado pela diretora de marketing do mall. O motivo de finalmente aceitar? Utilizar o dinheiro para financiar ações de incentivo à leitura com seu projeto, o Inclusão Literária.

Para Clóvis, ser Papai Noel não é uma missão, mas uma ação social e de entretenimento. Mas, como verdadeiro bom velhinho, ele também sofre ao não conseguir atender a todas as cartinhas enviadas pelas crianças.

O LIVRE – Quais foram os pedidos mais inusitados (ou emocionantes) que você já recebeu?
Clóvis Matos – Muitos, mas gosto muito deste: uma garota de 4 anos veio conversar e, em resposta à minha pergunta, ela disse: “Papai Noel, quero uma escada”. Perguntei: “Pra quê mocinha?”. E ela respondeu: “Pra eu chegar na lua e pegar uma estrela”. Já faz uns oito anos e não consigo esquecer, me marcou muito.

O LIVRE – Teve algum episódio em que uma criança te viu na rua e ficou encantada em encontrar o Papai Noel?
Clóvis Matos – Constantemente acontece! Ainda que eu esteja de barba e cabelos aparados. Em todos os lugares em que ando, em qualquer época.

O LIVRE – É mais difícil ser Papai Noel em Cuiabá por causa do calor? Quais os cuidados para driblar o clima da Capital mato-grossense?
Clóvis Matos – É um dos fatores negativos. Produzir roupas com tecidos mais leves, que absorvem o suor, que transpiram mais e, na medida do possível, ambientes refrigerados. No Pantanal uso bermudão, bata larga e chapéu com o gorro fixado em cima.

O LIVRE – Qual foi o momento mais marcante da sua história como Papai Noel?
Clóvis Matos – Não só como Papai Noel, mas, principalmente pelo Inclusão Literária: Sem dúvida nenhuma, a vinda do apresentador Luciano Huck em 2017, dando uma demonstração da importância do projeto e registrando a figura do Papai Noel Pantaneiro, hoje, pela divulgação e visibilidade positiva dos meus trabalhos, uma marca.

O LIVRE – O biscoito e o copo de leite são popularmente conhecidos como a comida para deixar para o Papai Noel no dia de Natal. Que comida te deixaria feliz ao encontrar na hora de deixar o presente?
Clóvis Matos – Uma leitoa assada, com frutas e sucos naturais.

Papai Noel do Shopping Estação

O novo shopping de Cuiabá foi inaugurado justamente nas vésperas do Natal e, é claro, já caprichou na decoração e trouxe um Papai Noel incrível para chamar de seu. Osvaldo Picolli, 68 anos, é aposentado e já se veste de Papai Noel há alguns anos. A princípio, como bom velhinho, fazia o trabalho por brincadeira, gratuitamente, em asilos, creches e escolas no interior de São Paulo.

Para Osvaldo, quando ele coloca a roupa vermelha, está encarando uma missão, que lhe é muito gratificante. Ainda mais nesse período que, para ele, significa felicidade, alegria, união e o momento de festejar o Nascimento de Jesus. “Sem isso, não tem Natal para mim”.

O LIVRE – Quais foram os pedidos mais inusitados (ou emocionantes) que você já recebeu?
Osvaldo Picolli – O mais emocionante foi quando uma criança pediu para que o pai e a mãe fossem felizes. E outro que pediu um livro de medicina.

O LIVRE – Teve algum episódio em que uma criança te viu na rua e ficou encantada em encontrar o Papai Noel?
Osvaldo Picolli – Isso acontece frequentemente, por conta da fisionomia. Não só as crianças, mas os adultos também.

O LIVRE – Qual é a maior dificuldade em ser Papai Noel?
Osvaldo Picolli – Na hora de ir ao banheiro, a roupa atrapalha e demora um pouco mais.

O LIVRE – Qual foi o momento mais marcante da sua história como Papai Noel?
Osvaldo Picolli – Eu trabalhava no mercado e uma deficiente física, com perna mecânica e muletas, me viu, largou as muletas, emocionada, e veio ao meu encontro. E todas as vezes que alguma criança mais humilde diz que não recebeu o presente no ano anterior.

O LIVRE – O biscoito e o copo de leite são popularmente conhecidos como a comida para deixar para o Papai Noel no dia de Natal. Que comida te deixaria feliz ao encontrar na hora de deixar o presente?
Osvaldo Picolli – Um pudim me deixaria muito contente (risos).

Papai Noel do Pantanal Shopping

O bom velhinho do Pantanal Shopping começou cedo, quando, na verdade, ainda era bem jovem. José Nilton Ferreira Lopes, 65 anos, é comerciante e começou a ser Papai Noel há 40 anos. Sua família possuía uma loja, à época moravam em São Paulo, e tudo que sobrava de brinquedos, roupas, biscoito e balinhas, doavam em bairros da comunidade. Com isso, as pessoas começaram a chamá-lo de Papai Noel. Mais tarde, reforçando o apelido, ele montou uma loja chamada “Casa do Papai Noel”, com brinquedos importados, que o levou a entregar brinquedos o ano inteiro.

Como a vida o levou a isso, José Nilton acredita que ser Papai Noel é sua missão de Deus. “Na verdade, o Natal é minha vida, sou o Papai Noel o ano todo, mas novembro e dezembro são meses sempre especiais”.

O LIVRE – Teve algum episódio em que uma criança te viu na rua e ficou encantada em encontrar o Papai Noel?
José Nilton – As crianças são as que mais marcam a gente, aquela magia do Natal que elas têm, desde os pequenos que grudam na minha perna até mesmo os adultos que me veem e sempre me param. É muito comum até adultos, que um dia foram me ver quando criança e agora voltam com seus filhos.

O LIVRE – Qual é a maior dificuldade em ser Papai Noel?
José Nilton – Eu não tenho dificuldade em ser Papai Noel, tudo o que eu faço é com muito amor. Talvez tive um pouco quando cheguei em Mato Grosso, para me acostumar com o calor, mas agora isso já passou. Quando vim para cá senti muita diferença por ser branquinho, mas hoje só na hora de colocar a roupa. Depois, eu me sinto o bom velhinho e me preparo para levar o carinho a essa cidade e às pessoas de Cuiabá, que tanto amo. Cada ano que passa eu tenho mais vontade de ser o Papai Noel.

O LIVRE – Você encara o trabalho como uma missão? Por que?
José Nilton – Sim, eu acho que é uma missão que Deus me deixou e eu não escolhi nada, aconteceu. E como eu visito os hospitais o ano inteiro (há 15 anos José Nilton visita o Hospital do Câncer), e estou em contato com pacientes que estão doentes, muitas vezes vou dar uma palavra de conforto, passar uma passagem de amor para uma pessoa em momento difícil, vejo Deus agindo por mim.

O LIVRE – Qual foi o momento mais marcante da sua história como Papai Noel?
José Nilton – Tem pessoas que me visitam todos os anos no Pantanal Shopping, onde estou há 14 anos, mas um que me marcou foi um acompanhamento que fazia com uma criança, que tinha um ano e pouco e durante seis meses visitei. Um dia encontrei o pai dela no Pronto-Socorro de Várzea Grande e ele estava desesperado, dizendo que iria perder uma das pessoas mais importantes da vida dele. E eu o confortei e disse que Deus deu a inteligência aos médicos e que ele cuidaria da filha dele, que era para orar e que eu tinha certeza que em dezembro ele a levaria para me ver no Pantanal Shopping. Meses depois, dezembro chegou e ele foi ao shopping e me disse chorando: “Papai Noel vim aqui pagar minha promessa, a minha filha está melhor”. Hoje ela tem uns 10 anos e todo ano vem me ver.

O LIVRE – O biscoito e o copo de leite são popularmente conhecidos como a comida para deixar para o Papai Noel no dia de Natal. Que comida te deixaria feliz ao encontrar na hora de deixar o presente?
José Nilton – O biscoito e o copo de leite são o que as crianças dizem que vão deixar para mim e não trocaria por nenhuma outra comida. Já é tradição.

Papai Noel do Várzea Grande Shopping

Aos 78 anos, o fotógrafo aposentado Elísio Luz da Silva é o Papai Noel mais velho da Grande Cuiabá, mas, também, um dos mais animados. Ele precisou abandonar a profissão por causa de uma artrose e, desde então, encarnou a figura do bom velhinho com muito amor e, é claro, bom humor.

Para Elísio, o Natal é tempo de família, risadas, alegrias, união e muitos presentes. Uma época que o faz tão feliz, que ele não encontra dificuldades em ser Papai Noel. A não ser o calor de Mato Grosso, que esse bom velhinho mineiro precisa driblar para trabalhar no Várzea Grande Shopping.

O LIVRE – Como você se tornou Papai Noel?
Elísio Luz – Cara é uma história muito longa, mas tem tudo a ver com artrose (risos).
Não foi difícil, porque há 30 anos eu trabalhava em escolas vendendo materiais escolares para crianças do pré até a 4ª série. E eles sempre me chamavam de Papai Noel. Mas eu nunca liguei muito, era justamente porque tinha o cabelo e a barba branca. Mas em 2009 eu não pude mais trabalhar (por causa da artrose). Então me veio a ideia de trabalhar como Papai Noel. Eu fiz uma entrevista no Rio de Janeiro, no Sider Shopping, de Volta Redonda, e eu fiquei lá sete anos trabalhando. Sai e agora estou aqui em Várzea Grande. Eu trabalho porque gosto e também porque é onde ganho uns trocadinhos para sobreviver.

O LIVRE – Quais foram os pedidos mais inusitados (ou emocionantes) que você já recebeu?
Elísio Luz – Foram muitos pedidos inusitados que eu recebi. Mas o mais emocionante foi o de uma criança que pediu para eu curar o avô, que estava com câncer. Ela não queria presente, queria só que eu atendesse esse pedido. Foi uma coisa que me tocou demais.

O LIVRE – Teve algum episódio em que uma criança te viu na rua e ficou encantada em encontrar o Papai Noel?
Elísio Luz – Eu tenho vários episódios sobre esse assunto, quando eu saio na rua, muitas crianças me reconhecem. Mas o que mais me surpreendeu foi um jogo que eu fui, entre o Atlético e o Internacional de Porto Alegre, porque eu sou colorado, e nesse jogo várias crianças fizeram fotos comigo e torcedores também, e olha que eu estava na torcida do Atlético e não apanhei. Aí que vale a pena ser Papai Noel (risos).

O LIVRE – É mais difícil ser Papai Noel em Mato Grosso por causa do calor? Quais os cuidados para driblar o clima mato-grossense?
Elísio Luz – É verdade, esse calor de Mato Grosso complica um pouco, mas é só a gente não sair de casa. Eu fico lá assistindo filme e saio só para o trabalho, para o shopping, então esse é o segredinho. E um sorvetinho antes de começar, aí tudo vai bem.

O LIVRE – O biscoito e o copo de leite são popularmente conhecidos como a comida para deixar para o Papai Noel no dia de Natal. Que comida te deixaria feliz ao encontrar na hora de deixar o presente?
Elísio Luz – Eu acho que está na hora de mudar esse cardápio. Eu gostaria de encontrar uma tábua daquela carne de sol do Norte de Minas Gerais, acompanhada com um copo bem geladinho de mate gelado.

Papai Noel do Goiabeiras Shopping

Filho de um russo com uma polonesa, o Papai Noel Eduardo Lozejko, 64 anos, do Goiabeiras Shopping, é o mais próximo do famoso bom velhinho morador do Polo Norte. Ele demorou dois anos para aceitar o convite para se tornar Papai Noel, mas, desde 2004, segue firme na missão no shopping.

A barba é natural, já a usava grande desde novinho, inspirado pelo pai, que também tinha uma longa e bonita barba. Ao 20 anos, por causa da barba, chegou até a encarnar um papel oposto ao do bom velhinho: foi o Velho do Saco, e era contratado para conversar com crianças desobedientes. Mas, depois que a barba foi ficando branca, acabou se tornando o bom e velho Papai Noel.

O LIVRE – Quais foram os pedidos mais inusitados (ou emocionantes) que você já recebeu?
Eduardo Lozejko – Tem vários. Esse ano mesmo duas meninas gêmeas, a mãe delas até ficou constrangida, falou “meu Deus”. “Tomate”. “Não, estou falando de brinquedo”, “mas eu quero tomate, eu gosto de tomate, como tomate o dia inteiro”. E a outra queria arroz branco.
Em 2007 uma menina de uns seis anos, eu vi que ela estava triste. Eu chamava e ela não vinha. Um dia ela passou com o pai dela e eu perguntei: “o que você quer do Papai Noel?”. Ela falou: “Eu quero que o senhor fale para o meu pai para ele voltar pra casa”. É difícil, né? (Em meio às lágrimas) A gente tem que estar preparado. Você via que ela estava sendo sincera. Aí eu chamei ele, conversei, “vamos resolver isso aí”. Sei lá o que virou.

O LIVRE – Qual é a maior dificuldade em ser Papai Noel?
Eduardo Lozejko – Papai Noel não tem dificuldade, faça chuva, ou faça sol tem que estar disposto. Agora em Cuiabá é complicado esse polo 40º aí. Tem que ter opinião e gostar do que faz. Mas o povo cuiabano, ele gosta do Papai Noel. Já conversei com muitos conhecidos que fazem fora daqui e eles falam sobre a quantidade de fotos e entregas nas casas que faço aqui.

O LIVRE – Qual foi o momento mais marcante da sua história como Papai Noel?
Eduardo Lozejko – As entregas nas casas. Em 2005 a gente foi em umas famílias cuiabanas e tinha um gurizinho que ficava lá no canto, falei: “tem alguma coisa que não está certa”. Ai veio uma senhora e me falou: “isso aqui você entrega pro Vicente, só essa carta e conversa com ele”. Tive que fazer, né? Meu papel. Ele ficou muito triste. É difícil, mas tem que fazer.

O LIVRE – O biscoito e o copo de leite são popularmente conhecidos como a comida para deixar para o Papai Noel no dia de Natal. Que comida te deixaria feliz ao encontrar na hora de deixar o presente?
Eduardo Lozejko – O tradicional, né? Papai Noel gosta de cookie e leite. Mas minha comida favorita é simples: arroz, feijão, farinha e carne de porco frita.

O LIVRE – O que é o Natal para você?
Eduardo Lozejko – Eu fui criado num sistema que… (pausa para lágrimas) A gente emociona porque as pessoas estão esquecendo. É o nascimento de Jesus Cristo, presépio. Isso é universal. O Natal não é só festa. Eu fui criado nesse sistema e vou cultivar. Hino natalino mesmo, as pessoas estão esquecendo, eu acho muito bonito “Noite Feliz”. Infelizmente as pessoas estão esquecendo.

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