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Cinco perguntas para Bene Barbosa: “Está tendo homicídio e você vai desarmar quem morre, não quem mata?”

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Cinco perguntas para Bene Barbosa: “Está tendo homicídio e você vai desarmar quem morre, não quem mata?”

Presidente do Movimento Muda Brasil e crítico ferrenho do Estatuto do Desarmamento, Bene Barbosa é autor do best seller Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento. Ele defende que a política de restrição de armas vigente no País não trouxe o resultado esperado, causando, pelo contrário, o aumento na criminalidade.

Bene Barbosa participou do evento promovido pelo Instituto Caminho da Liberdade (ICL), realizado na sede da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) na última quinta-feira (24), em Cuiabá. Em entrevista exclusiva ao LIVRE, Bene falou sobre o porte de armas no Brasil, Estatuto do Desarmamento, eleições e outros temas.

1 – Quais são as evidências de que liberando o porte de armas com mais facilidade, a onda de crimes vai mesmo diminuir?

Bene Barbosa: A gente tem que separar muito bem as coisas, porque a ideia de que defendemos o porte de armas como a solução da segurança pública é falsa. Ninguém propõe aqui distribuir armas para a população e ela que se vire para se defender. Nós partimos do pressuposto de que o desarmamento não foi solução alguma. Muito pelo contrário: acabou trazendo uma fragilidade maior para a população.

Temos experiências e estudos de que lugares onde há legislação para a venda e a posse de armas tendem a ter queda de crimes violentos contra a pessoa. O criminoso sempre faz a medição entre lucro e sobrevivência (não apenas não ser morto, mas não ser preso). Ele sempre vai optar por um crime contra o patrimônio. Ao invés de enfiar uma arma na sua cara no semáforo e levar seu carro ou sua moto, ele vai preferir furtar um carro parado, com ninguém perto.

Lugares com essa legislação tem a diminuição de crimes violentos, mas um leve aumento em crimes contra o patrimônio. Entre uma coisa e outra, óbvio, é melhor a segunda opção.

2 – No plebiscito de 2005, a maioria dos brasileiros optou por se manter o porte de armas, mesmo que na lei tenha ocorrido o oposto. Isso mostra uma certa distância entre nossos congressistas e a população. Por que tamanha diferença entre o que quer a população e o que decidem os políticos?

BB: Nós temos alguns problemas muito sérios. O primeiro é o ideológico: nossos políticos são absolutamente contaminados por ideologias, por aquilo que ele acredita. Ele não se aprofunda em determinado assunto, ele não quer ouvir o outro lado, não tem interesse em conhecer a realidade. O político tende a desrespeitar seus eleitores, não só nesse assunto, mas em vários outros.

O segundo é o distanciamento entre o político eleito e o povo. Apesar de hoje ser menor essa distância, eles lá em Brasília vivem em uma ilha da fantasia, com realidade e lógica próprias. Normalmente, eles eram alimentados única e exclusivamente pela grande imprensa. Saiu no jornal, é verdade, ponto final. Isso tem mudado principalmente pelas redes sociais.

Até então, o deputado ou o senador que só recebia informações muitas vezes filtradas pelos seus assessores, hoje ele entra em seu Facebook ou Twitter, ele vê o que as pessoas estão dizendo. Ele conhece a opinião de seus eleitores e vê que a maioria não bate com o que a grande mídia diz.

3 – O brasileiro tem maturidade para andar armado?

BB: Tem sim e quem diz que não tem, sofre daquilo que o saudoso Nelson Rodrigues chamava de “síndrome de vira-lata”, ou seja, “todo mundo pode, menos eu que sou brasileiro”. Prova disso está em um passado muito recente. Até 1997, o porte ilegal de arma no Brasil não era sequer um crime, era uma simples contravenção penal. A gente tinha literalmente milhares de pessoas andando armadas pelo Brasil todo.

Na cidade de São Paulo, nós tínhamos 100 mil portes emitidos por ano. Estima-se em três vezes esse número de pessoas andando armadas com o registro da arma, já que não era crime. Nós tínhamos umas 400 mil pessoas andando armadas em São Paulo e nem por isso virava tiroteio.

Um outro exemplo que eu gosto de dar, fugindo dos clássicos como Estados Unidos, Suíça e Finlândia, é aqui no nosso continente mesmo. O Paraguai não parece ter uma sociedade mais desenvolvida que a brasileira. Pelo contrário: o Paraguai tem um IDH menor que o do Brasil, tem taxas de desemprego e analfabetismo maiores, tem uma economia quase toda baseada em trabalho informal. Você tem no Paraguai tudo aquilo que tem no Brasil, mas de uma forma pior, mas o paraguaio tem muito mais liberdade de portar uma arma que o brasileiro.

É quase mitológico o conhecimento da facilidade de se comprar armas no Paraguai, mas lá não tem tiroteios, massacres. Tem até a terceira menor taxa de homicídios da América do Sul, perdendo para o Chile e o Uruguai. E é bom lembrar que o Uruguai é o país mais armado da América Latina.

4 – O senhor pretende se candidatar nestas eleições?

BB:  Não, não pretendo. Isso não é de hoje, essa “acusação” (risos). Desde os anos 90, quando comecei a me destacar um pouco, falam que eu faço o que faço para sair candidato. Faz vinte anos isso. As pessoas falam: “Uma hora ele tem que sair candidato”. Não, eu não tenho!

Na prática, se eu me candidatasse, seria ótimo para mim, financeiramente, e só. Se eu me candidatasse e ganhasse, eu perderia espaço. Hoje falo com o Bolsonaro, amanhã pode ser com o Amoedo, ou o Flávio Rocha. O Boulos não vai querer, lógico, mas se quisesse, eu iria também bater um papo com ele. Eu tenho essa tramitação e acabaria perdendo se fosse um candidato, um partidário ou um cabo eleitoral.

5 – Desde os anos 90 o senhor fala sobre armas de fogo, escreveu livros sobre o assunto. Como começou esse interesse?

BB: Armas de fogo sempre foram corriqueiras em minha casa. Nunca foram objetos de opressão ou violência doméstica. Meu pai viajava muito e minha mãe tinha uma 32 na gaveta do criado mudo do quarto. Morávamos no litoral de São Paulo, em uma rua sem iluminação pública, asfalto ou esgoto. Eu já via quando criança aquela arma como objeto de proteção, necessidade e legítima defesa.

Em 1991, quando eu fiz 21 anos, eu comprei minha primeira arma. Um revólver 38. Logo em sequência, em 1992, aparece a primeira tentativa moderna de desarmar a população. O projeto veio pelo então deputado do PT Eduardo Jorge. Ali me soou como errado. “Está tendo homicídio e você vai desarmar quem morre, não quem mata?”. Então eu comecei e não parei mais.

 

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