Cuiabá

Christian Cabral: “Pessoas dirigem embriagadas porque acham que nunca vão se envolver em acidentes”

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Christian Cabral: “Pessoas dirigem embriagadas porque acham que nunca vão se envolver em acidentes”
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Delegado da Polícia Civil de Mato Grosso desde 2002, Christian Cabral já atuou em diversas cidades do interior, passando por todas as regiões, indo de Alta Floresta a Juína. Em Cuiabá desde 2006, já passou pelas mais diferentes áreas de investigação: Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), Roubos e Furtos de Veículos, Roubos e Furtos, Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc).

Mas há cinco anos, Christian está à frente da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (Deletran). Na área, atendeu milhares de chamados e determinou a abertura de centenas de inquéritos de crimes de trânsito.

Ao LIVRE, o delegado afirmou que acredita que o álcool ainda é o principal vilão nos acidentes de trânsito, aliados à falta de bom-senso dos condutores que acreditam que dirigir embriagados é apenas um ato relacionado à moral. Ele também revelou qual é o acidente que mais lhe chocou, em sua carreira.

Abaixo, confira as cinco perguntas que o delegado Christian respondeu para o LIVRE:

1 – Se você não fosse delegado da especializada de trânsito, em qual outra área o senhor gostaria de estar?

Christian Cabral – É engraçado, porque durante a minha trajetória profissional eu já tinha recebido convite para trabalhar com trânsito umas duas vezes anteriores, dentro da Delegacia do Planalto na época das divisões, e havia recusado por não ter interesse pela matéria, por achar que o assunto fugia da especificidade da ação policial. Mas quando tive a oportunidade de vir, acabei me encantando com a matéria e hoje não consigo me ver fazendo outra área dentro da polícia que não a de trânsito. Sou um apaixonado hoje.

2 – Se você pudesse mudar alguma coisa no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que mudança o senhor faria?

Christian Cabral – O nosso código de trânsito é uma das legislações mais bem elaboradas. As penas são equilibradamente dosadas, há regramento para praticamente todo tipo de conduta. O que falta para o nosso país e para a nossa realidade, para termos segurança viária, é que essa legislação ganhe eficácia, que ela seja capaz de mudar comportamentos, e isso só vai acontecer quando as ações de educação e fiscalização se tornarem mais intensas. Em relação ao CTB, eu sinceramente não vejo hoje o que deveria ser mudado, eu acho que está muito bem elaborado. Falta a legislação entrar na cabeça dos condutores, para os condutores e pedestres entrarem nos preceitos da lei. Só assim a nossa violência vai diminuir drasticamente.

3 – No âmbito de crimes de trânsito, a ingestão de bebida alcoólica ainda é a maior vilã?

Christian Cabral – Sim, com certeza. Nós temos uma especificidade muito grande em Mato Grosso, especialmente Cuiabá, que é a carência de opções de lazer em nossa cidade faz com que a maior parte das opções de entretenimento envolvam a ingestão de bebida alcoólica. Hoje, nos finais de semana e feriado, as pessoas, ou estão fazendo churrascos regados a bebida, ou estão em balneários e cachoeiras com bebidas, ou estão fazendo happy hours e confraternizações com amigos, também com bebida alcoólica.

Infelizmente, por questão cultural, as pessoas ainda entendem que o fato de beber e assumir a direção do veículo não é um comportamento criminoso, mas apenas imoral. Na verdade, o fato de você dirigir sob efeitos do álcool, aos olhos da legislação criminal, é tão criminoso quanto roubar, matar e lesionar, mas as pessoas têm dificuldade de entender. Acham que isso aí faz parte do seu livre arbítrio, do seu direito de se locomover após se confraternizar. Mas essa conduta infere na segurança viária diária, no direito de uma sociedade e não deve ser praticada.

As consequências, hoje, são graves e drásticas. As pessoas, se parassem para pensar friamente, elas não assumiriam o risco de assumir sob efeito de álcool. A pessoa hoje, flagrada numa ação de fiscalização, sem se envolver em acidente, paga multa de R$ 2.934, fica sujeita a ter o direito de dirigir suspenso por 12 meses e a responder um processo-crime que vai lhe impor uma pena de detenção de 6 meses a 3 anos de detenção. As pessoas sempre acham que não vão se envolver em acidente e que também não serão abordadas em uma ação de fiscalização. As pessoas pagam para ver e acabam se comportando às margens da lei.

4 – Qual foi o acidente mais difícil que o senhor teve que atender ao longo da carreira?

Christian Cabral – Os que mais nos chocam são aqueles que as vítimas estavam andando dentro da lei, se comportando adequadamente e acabaram sendo atingidas por condutores irresponsáveis. Isso nos leva a refletir que poderia ter acontecido conosco ou com nossas famílias.

Agora, a gente conversando aqui, o acidente mais absurdo que me vem à mente foi aquele na Avenida da FEB, em Várzea Grande, no final do ano. Nós vimos um motorista de aplicativo que trafegou por quase dois quilômetros na contramão da avenida, que é a mais movimentada e com maior índice de acidentes em Várzea Grande.

Vários veículos tiveram a felicidade de evitar a colisão, mas, infelizmente, dois condutores, um motociclista e um de carro de passeio, não tiveram essa sorte. Os dois que estavam na moto ficaram com lesões gravíssimas e os dois dos veículos de passageiros morreram na hora. Esse acidente poderia ter acontecido comigo ou com qualquer pessoa. Aquele condutor fez uma roleta russa. Quem viesse à sua frente iria se envolver no acidente.

5 – O senhor, que se diz apaixonado pela área de delitos de trânsito, já se envolveu em um acidente?

Christian Cabral – (Risos) Não, felizmente nunca me envolvi em nenhum acidente. Já raspei o carro em coluna, em postes, como qualquer condutor tem a infelicidade de fazer, mas nunca me envolvi em acidente com vítima.

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