Judiciário

Chapada dos Guimarães: uma cidade travada pelas brigas políticas

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Chapada dos Guimarães: uma cidade travada pelas brigas políticas
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

A cidade de Chapada dos Guimarães (60 km de Cuiabá) vive um clima de instabilidade política que começou no ano de 2004. No último capítulo da história, a prefeita Thelma de Oliveira (PSDB) conseguiu escapar do afastamento do comando da cidade depois de uma longa sessão que durou mais de 9 horas. O caso de Chapada dos Guimarães se assemelha com o vivido por Várzea Grande em 2011, quando a Cidade Industrial chegou a ter três prefeitos em um período de 24 horas.

Na história recente de Chapada, o prefeito Pedro Reindel Fonseca – o Pedrão (já falecido) – chegou a ser afastado do cargo, sob acusação de ter cometido improbidade, em 2004. Já em 2012, José Neves foi eleito para comandar o município, mas não conseguiu terminar seu mandato  por conta de irregularidades na gestão. Deixou o cargo para Lisu Koberstain, que também foi alvo de denúncias e deixou o comando da cidade em 2016, após decisão do Tribunal de Contas do Estado, que chegou a determinar intervenção do governo na administração municipal.

Agora, com Thelma de Oliveira, novamente a ação vem do TCE e dos vereadores. Em dezembro de 2018 o Tribunal determinou a intervenção do Estado na administração do município, que não viria cumprindo as determinações da Corte, a prefeita alegou problemas com a prestação de contas de anos anteriores ao seu mandato.

Também em dezembro de 2018, ela foi alvo de uma comissão processante que apurava, entre outras coisas, de atrasar informações ao TCE, fazer compras superfaturadas e de não responder aos questionamentos dos vereadores do município.

Em entrevista ao LIVRE, Thelma disse que há alguns anos isso tem acontecido na cidade. Segundo ela, é corriqueiro na cidade que o prefeito se veja envolvido em denúncias e seja afastado do cargo.

“Eu vejo isso como uma situação ruim, o prefeito foi eleito pela população numa eleição democrática, com a participação de todos que queriam disputar o cargo. No momento que você rompe esse mandato, cria uma série de problemas administrativos, financeiros e políticos para o município. Vejo isso como uma coisa muito ruim, que interrompe e prejudica o desenvolvimento do próprio município”, destacou a prefeita.

Thelma disse ainda que suspeita da ação de famílias tradicionais da política chapadense sob sua administração. Ela negou que o fato de ser viúva do ex-governador Dante de Oliveira (já falecido) tenha influenciado na questão do pedido de afastamento. “Eu acho que é uma disputa política, as ações foram movidas por quem perdeu a eleição para mim. Não ganharam no voto e acham que é mais fácil ganhar na Justiça. O nome do Dante sempre me ajudou, tudo que sei da política eu aprendi com o Dante”, destacou.

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Falta de diálogo

O presidente da Câmara dos Vereadores, Carlos Eduardo de Lima Oliveira – o Carlinhos do PT, criticou a falta de diálogo da gestão Thelma com os vereadores. Segundo ele, a tem mesmo praticado crimes contra à administração e destacou que é preocupante e lamentável a instabilidade política da cidade. Destacou que neste momento a instabilidade se dá pela falta de organização da gestão e pelo descontrole da administração pública.

O que foi negado pela prefeita, segundo ela, sempre houve uma tentativa de aproximação com os vereadores sem olhar a qual partido eles pertencem. Afirmação que foi negada pelo vereador que disse que a prefeita tenta governar por decretos.

Coronelismo

Thelma destacou a influência do fator “coronelismo” na cidade, o que foi descartado pelo presidente da Câmara que disse que a prática não acontece mais. No entanto, disse que ainda é difícil se eleger na cidade por conta, justamente, da influência de parentes na política. Em contraponto, destacou que esse poderio das famílias é menor e prova disso seria a eleição de Thelma com apenas um ano de domicílio eleitoral na cidade. Ele também não nega que já houve forte influência das famílias tradicionais nas questões políticas da cidade.

“Nossa instabilidade é causada, no meu ponto de vista, por esse descontrole da gestão e falta de organização, mas é lamentável essa instabilidade política”, disse o presidente da Câmara.

Nas ruas da cidade, a população se divide quanto à permanência ou não de Thelma no comando do Paço Municipal Pedro Reindel, mas uma opinião é comum entre os moradores, de que o clima de instabilidade política é ruim para a cidade de pouco mais de 19 mil habitantes [estimativa do IBGE/2017].

Fabrício Paes, que é aposentado e morador de Chapada, diz que o clima de instabilidade política é ruim e atrapalha o crescimento. “É desagradável e ruim para o povo, a repercussão e o clima de insegurança política. Chapada precisa de investimentos, principalmente no turismo, há muito tempo que a gente não vê nada. [Essas mudanças de prefeitos] sempre são ruins, a repercussão é negativa, mas são casos que precisam ser investigados”, disse.

Também aposentada, Benigna Lopes, afirmou que a cidade sofre muito com o clima político que afeta todas as áreas da administração pública. “A saúde está ruim, a cidade, essa praça [Praça Central] só tem drogados, nem tem como andar tem dias, tudo está ruim”, comentou. Ela foi a mais enfática defendendo a mudança de gestão. Para ela, Thelma já ultrapassou o que foi feito de errado na gestão passada e merece sair.

O auxiliar de produção de uma indústria de engarrafamento de água que fica na cidade, Wilker Manoel, destaca que a situação é complicada e que os gestores não olham para a cidade com a atenção que ela merece. Cita como exemplo o caso da piscina pública, que está abandonada pelo Poder Público e poderia ajudar a fomentar o turismo na cidade e outras questões tradicionais, que segundo ele, foram perdidas com o tempo.

“Geralmente, o pessoal daqui valorizava essa cidade linda que a gente tem. Isso pra mim é difícil, não sei se meus filhos vão conhecer essas belezas. Infelizmente, os políticos não fizeram nada para resgatar isso, aqui é uma cidade boa para morar, mas não está tendo emprego”, comenta o jovem, de 22 anos.

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