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Catálogo de culinária quilombola será lançado em Cuiabá em agosto

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Catálogo de culinária quilombola será lançado em Cuiabá em agosto

A cientista social e produtora cultural mato-grossense Jackeline Silva prepara o lançamento do catálogo Afro Paladar Nutrindo a Cultura, resultado de uma pesquisa sobre a tradição alimentar e o cotidiano das comunidades quilombolas de seu Estado natal. A publicação traz fotos e informações sobre comidas dos remanescentes de quilombos e festas de santo das comunidades.

Em Cuiabá, o catálogo será lançado no dia 10 de agosto, na Casa do Artesão. O evento contará com apresentações artísticas de Herminio Nhantumbo (Moçambique), Grupo Aguerê, e da rapper PachaAna. Em breve, será em Brasília, onde a autora reside há quase três anos.

Luzo, Jack e Juliana: equipe Afro Paladar (Foto: Luzo Reis)

O catálogo é resultado de um projeto que contou com recursos da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso, por meio do edital Tradições. Jackeline, uma herdeira de comunidade quilombola de Mato Grosso, se lançou a uma viagem pelas dezenas de comunidades remanescentes de quilombos existentes em seu estado e de lá extraiu não apenas receitas de uma vasta e rica culinária da tradição africana, mas também com elementos da cultura indígena, tão forte em Mato Grosso.

“Com a ideia do catálogo, de início, a minha intenção era descobrir quais são as receitas, tanto as do cotidiano, como aquelas elaboradas para as festas de santo e outras celebrações que ocorrem nas comunidades quilombolas”, relata.

(Foto: Luzo Reis)

A sensibilidade apurada de Jackeline a levou, no entanto, mais longe. “Durante o trabalho eu percebi que não queria publicar mais um ‘livro de receitas’, com métodos, ingredientes, passo a passo e etc.”, pontua. “E foi então que resolvi dar uma nova vertente ao projeto e focar mais no elemento humano, que é a pessoa quilombola, os membros das comunidades, o que eles fazem, como vivem e interagem, do que se alimentam, em que circunstâncias isso acontece”, relatou ela. “Porque também a elaboração, a criação e a recriação de pratos é um saber que é transmitido”.

O projeto do catálogo teve como curador convidado o chef Alício Charoth, que trabalha com terreiros e quilombolas da Bahia. Com uma experiência acumulada há mais de 35 anos, Alício Charoth foi cozinheiro chefe e sócio-gerente de restaurantes conceituados em Salvador (BA), com vasta experiência no mercado europeu mais precisamente em Portugal e Espanha.

Leia mais: Afro Paladar: projeto reúne registros da culinária quilombola e suas personagens

(Foto: Luzo Reis)

Em suas pesquisas, Jackeline pode ver todo o ritual da elaboração dos pratos e todo o envolvimento da comunidade no momento de se alimentar e a seus convidados ou chegantes. “O mais interessante é verificar que tudo isso é feito de forma coletiva, que as pessoas se reúnem para preparar uma festa de santo, o famoso mutchirum [mutirão, na pronúncia deles] que a gente conhece. Esse aspecto diferencial é que eu queria enfatizar”, descreve.

Outra situação que despertou o interesse de Jackeline Silva é o protagonismo das mulheres, em especial as mulheres negras, no cotidiano e nos rituais das comunidades quilombolas. “Me sobressaíram neste projeto as mulheres quilombolas. Nas comunidades visitadas, a maioria das entrevistas foram feitas com mulheres”, destacou.

O olhar de pesquisadora de Jackeline e sua própria herança cultural, permitiu a ela observar o que essas comunidades oferecem. “É um trabalho acima de tudo prazeroso, porque quando falamos da alimentação a gente quebra certas barreiras e acessa aquilo que as pessoas têm de melhor e que querem compartilhar”, descreve.

Muito embora o povo simples seja muito acolhedor com seus visitantes, em qualquer parte do país, em Mato Grosso, especialmente Cuiabá e suas comunidades ribeirinhas e tradicionais, há algo de muito peculiar em relação à hospitalidade. Jackeline observou e transcreve em seu trabalho esta particularidade dos quilombolas que, invariavelmente, envolve o alimento.

“Pensando na premissa da hospitalidade cuiabana e mato-grossense, do acolhimento, de você tratar bem as pessoas que chegam à sua casa ou à sua comunidade, o alimento é a forma de se estabelecer comunhão com a visita, ou até mesmo quando se oferta o alimento para que a pessoa leve, criando um laço de pertencimento”, explica. “E isso se reproduz também nas festas de santo, quando as pessoas dão a comida de graça, quando você está compartilhando a abundância, a fartura, a generosidade”.

(Por João Negrão/Assessoria)

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