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Canhaim: doce de caju, furrundum e paçoca estão ameaçados

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Canhaim: doce de caju, furrundum e paçoca estão ameaçados
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

As pessoas que não conseguem viver sem aquele pedaço generoso de doce de caju ou furrundum depois do almoço enfrentarão tempos escassez. Devido às queimadas e ao clima árido, grande parte dos ingredientes dessas iguarias está em falta no mercado.

Segundo a quituteira Iramara Regina de Moraes, 63, a produção de caju foi pequena este ano, insuficiente para atender a demanda. E o preço está pela “hora da morte”.

Ela tem um sítio, onde faz o plantio, e conta que nos anos anteriores chegou a colher 3 mil cajus médios a cada 3 dias. E, mesmo assim, precisava comprar de outros produtores e coletores para fazer o estoque anual.

Doceira explica que são necessários 100 cajus para fazer 5 vidros pequenos (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Agora, mesmo com “olhos de lince”, não se consegue mais de 300 unidades por colheita. A situação se repete nas demais propriedades.

“Se desperdiça muito da fruta. Tiramos a semente, a casca e o suco. No doce vai só o bagaço e precisamos de cerca de 100 unidades médias para encher menos de 5 vidros”.

Além disto, a doceira reclama do preço do recipiente – R$ 4,20 –, do açúcar e do gás, que aumentaram muito desde o ano passado.

Naquela ocasião, cada vidro de doce era comercializado a R$ 20, o que mal paga os custos, alega Moraes. “Imagina este ano”.

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Furrundum ameaçado

Mamões murchos e sem condições de manuseio. Isto sem contar a dificuldade em se encontrar uma rapadura realmente saborosa, feita de cana caiana e ideal para o furrundum.

De acordo com Iramara, as canas estão secando na plantação e, quando moídas, não têm suco – garapa – suficiente. Isto, sem considerar as propriedades que foram atingidas pelo fogo e perderam toda produção.

Doceira fala que mamão foi atingido pela estiagem e está murcho e com pouca qualidade. (Foto: Pixabay)

Um cenário que faz a doceira enfrentar filas no Mercado do Porto para conseguir manter o trabalho.

“Antes, era R$ 10 a rapadura. Agora, é R$ 15. E se você encomenda 10, só consegue a metade”.

Paçoca de pilão

Outro produto ameaçado é a paçoca de pilão. Para conseguir um pedaço de colchão mole para charquear e depois mandar para o pilão, é uma luta.

“Os açougues pequenos não conseguem comprar porque a China está negociando tudo com os frigoríficos. Então, fica difícil”.

Farinha boa é artigo de luxo, o que irá encarecer a tradicional paçoca de pilão (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Além da carne, a dificuldade de acesso a farinha de mandioca é outro obstáculo. Parte das farinheiras pararam por conta da falta do ingrediente, o que encareceu o preço.

Agora, Iramara está preocupada com o óleo de soja. “Vi uma matéria na televisão falando que ninguém conseguiu plantar por conta da falta de chuva. A repórter disse que aumentos são esperados”.

História

Iramara tem 63 anos e começou a fazer doce aos 7 anos. Ela conta que, naquela época, nada era vendido porque todos tinham sítio para produção própria.

“Fazíamos os potes para presentear familiares e amigos. Também era uma forma de conseguir um bom presente de Natal dos padrinhos”, relata.

Iramara aprendeu o ofício quando tinha 7 anos e desde então não parou de cozinhar (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Com o crescimento da cidade, aquilo que fazia parte da rotina ganhou valor comercial e ela passou a atender o mercado, sendo uma das principais fornecedoras nas feiras nacionais e internacionais de turismo.

Os doces e quitutes feitos por ela já chegaram aos Estados Unidos, Uruguai, Paraguai e quase todas as regiões do Brasil.

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