Esportes

Campeões do jiu-jitsu e da vida: a história dos filhos adotivos de Carmita

7 minutos de leitura
Campeões do jiu-jitsu e da vida: a história dos filhos adotivos de Carmita
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

A notícia de que o filho de 13 anos havia sido classificado para o Mundial de Jiu-Jitsu, que ocorre em setembro na Califórnia (Estados Unidos), veio como uma grata surpresa. Também, pudera, Carmita Nogueira Araújo criou seus quatro filhos – entre eles Eduardo – para serem verdadeiros campeões do jiu-jitsu. E mais ainda: campeões da vida.

Mas até que este dia chegasse, Carmita, de 55 anos, percorreu um longo caminho com grandes dificuldades, entre elas, a falta de patrocínio. Eduardo já foi oito vezes campeão estadual, três vezes campeão brasileiro e já foi medalha de prata no mundial. Tudo na base do que a Carmita chama de “paitrocínio”.

O pai de Eduardo também é lutador de jiu-jitsu e personal trainer, por isso, está sempre em contato com pessoas que possam ajudar o filho. Geralmente, o dinheiro para as competições vem da venda de rifas que a própria família faz para conseguir arrecadar recursos.

Para que Eduardo embarque para o mundial da Califórnia e para o mundial Kids, que acontece em agosto em Las Vegas, serão necessários R$ 9 mil. Além de R$ 2,5 mil para o Pan Americano de Jiu-Jitsu Esportivo, em novembro, em São Paulo.

A família é grande e as despesas são muitas, tanto que Eduardo e seus irmãos são bolsistas em uma academia de Várzea Grande e também alunos do projeto social 4º Bravo Lutas, da Polícia Militar.

A grande família

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Tantas competições foram fruto da dedicação e disciplina de Eduardo, que além de ser exímio lutador e um bom aluno do 8º ano da escola pública, ajuda Carmita nos cuidados com seus outros três irmãos. A casa é sempre cheia: quatro filhos adotivos, dois filhos biológicos, dois netos, 11 cachorros e nove gatos.

O coração de mãe de Carmita é grande e sempre tem espaço para mais um. Os dois filhos biológicos e os dois netos não moram com ela, mas os quatro filhos que ela cuida com muito amor foram frutos de adoção. Primeiro foi Eduardo, depois vieram os irmãos biológicos, Thiago (9 anos) e Matheus (7 anos). Mais recentemente, surgiu a Maria Beatriz, de 1 ano e 2 meses.

Eduardo foi adotado assim que nasceu. A mãe biológica do jovem era garota de programa e não pode cuidar dele. Foi quando ele chegou aos braços de Carmita, que prontamente abriu seu coração para a primeira adoção.

Quando Eduardo completou seis anos, ele pediu aos pais um irmãozinho. Novamente Carmita entrou para o cadastro de adoção, sem impor qualquer condição de raça, sexo ou idade, podendo ser até mesmo mais de uma criança. Foi então que Eduardo ganhou dois irmãos de uma só vez: Thiago e Matheus, na época com 3 anos e 11 meses, respectivamente.

Os dois meninos não conseguiram ser adotados antes porque a maioria dos casais queria apenas uma criança. Além disso, todos acreditavam que Thiago era mudo. Depois de algum tempo, a família descobriu que, na verdade, tratava-se de um trauma vivido por ele. A mãe assassinou o companheiro a facadas, na frente da criança. Ela foi presa e os meninos encaminhados para o lar de adoção. Após algum tempo, Thiago voltou a falar e a sorrir.

Maria Beatriz era a menina que faltava no coração de Carmita e veio para selar uma reconciliação entre a mãe adotiva e o marido, que não andavam muito bem. Enquanto estiveram separados, o marido envolveu-se com outra pessoa, resultando na gravidez de Maria. No entanto, a mãe biológica disse que não podia ter aquele bebê.

Carmita, então, percebeu que essa poderia ser a oportunidade para novamente abrir seu coração e ter uma menina. Reconciliou-se com o marido, fortalecendo ainda mais a família que tanto ama. E para quem diz que ainda é muito cedo para a pequena Maria gostar de esporte, se engana. Ela já tem seu mini-quimono e iniciou, na semana passada, as primeiras aulinhas de jiu-jitsu.

O que poderia ser uma trajetória de muito sofrimento, Carmita tornou uma linda história de amor e de superação. Mesmo com a missão de ser a mãe do coração de quatro crianças, ela e o marido já estudam adotar mais uma filha. Desta vez, uma adolescente de 14 anos, que Carmita é madrinha afetiva. Nos feriados e finais de semana, a adolescente fica junto da grande família.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

O esporte

Filho de personal trainer e lutador, Eduardo, desde cedo, demonstrou paixão pelo esporte. Com apenas quatro anos, Carmita decidiu levar o menino para praticar boxe, mas as luvas pesadas e grandes impediram que Eduardo continuasse. Surgiu, então, a ideia de colocá-lo no jiu-jitsu e de lá Eduardo nunca mais saiu.

As inúmeras medalhas são fonte de inspiração para os outros pequenos campeões: Matheus ganhou ouro em uma competição realizada em Cuiabá neste ano.

A escola recebe a mesma atenção que o jiu-jitsu e as notas escolares dos meninos não desapontam. “Todos eles são bons alunos, porque o jiu-jitsu trabalha com disciplina e prima muito pelo desempenho escolar”.

4º Bravo Lutas

(Foto: Assessoria)

O fator “desempenho escolar” está bastante atrelado ao projeto social do qual Eduardo e seus irmãos participam: o 4º Bravo Lutas, do 4° Batalhão de Polícia Militar. A ideia surgiu como uma maneira de evitar a evasão escolar e as situações de violência no ambiente estudantil. Hoje atende um total de 105 alunos.

O projeto ainda é recente, surgiu há seis meses e funciona em um espaço cedido, dentro do Várzea Grande Shopping. Além do jiu-jitsu, também são oferecidas aulas de judô e de karatê. No mês passado, os alunos do karatê tiveram o primeiro exame de faixa e esse ano devem participar da primeira competição.

“Temos a intenção de, em breve, promover um torneio interno voltado para os projetos sociais da Polícia Militar, justamente para fomentar a participação de crianças e jovens nestes projetos que a polícia oferece”, contou o comandante do 4º Batalhão, tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista.

A seleção de alunos do 4º Bravo Lutas é feita pelo Conselho Tutelar e pela Secretaria de Educação de Várzea Grande e tem como perfil crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, que tenham histórico de violência física, social e ou psicológica.

Foto: Assessoria

“Muitas crianças acabam indo para a rua e a rua ensina o caminho da droga e o caminho do que não presta. Quando eles estão no projeto, além de estarem com a saúde em dia, eles aprendem disciplina, hierarquia e ocupam o tempo deles ali”, defendeu Carmita.

Carmita vê todos os alunos do projeto como uma grande família. Quando é o caso de os alunos participarem de competições, os responsáveis levam comida para todos, assistem as competições e torcem juntos. Mas a importância da iniciativa vai muito além do envolvimento da família.

“A academia é cara, só tem acesso quem tem condições financeiras. E os projetos estão aí para quem não tem condições. E o melhor de tudo é que eles não pagam nada. Não tem gasto, só tem ganhos”, finalizou Carmita.

Como ajudar

Eduardo e os irmãos Matheus e Thiago não possuem nenhum patrocínio, por isso, qualquer ajuda financeira ajuda, não só na manutenção do esporte nas vidas destas crianças, como nos custos com as viagens para as próximas competições. Para ser um doador basta ligar para o (65) 9 9202-5244.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes