Um material publicitário produzido pela Prefeitura de Rondonópolis (200 Km de Cuiabá) pode virar caso de polícia. O panfleto, distribuído em escolas, mostra uma pessoa com a cor da pele escura – o “Sujismundo” – sendo comparada a outra, que recebeu o nome de “Limpinho”, com a pele mais clara. O caso desagradou pais de alunos que procuraram a União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegro).
Segundo a presidente da União, Luzia Aparecida do Nascimento, a cartilha foi descoberta através de denúncia dos pais que contaram que os filhos vinham sofrendo bullying e racismo nas escolas por conta da cor. “Descobrimos a cartilha e, em contato com a Prefeitura de Rondonópolis, eles admitiram a existência do material e que erraram. Pediram desculpas e falaram que vão fazer uma reparação”, contou.
Diante da repercussão do caso, a entidade buscou o apoio da Câmara dos Vereadores e aguarda uma conversa com o prefeito José Carlos do Pátio (SD) para tratar do assunto. “Queremos entender o que aconteceu, a Prefeitura sempre foi parceira do Movimento Negro, aí ela faz uma campanha dessa que fere a dignidade dos negros e negras e aparentemente não reconheceu o seu erro”, disse.
Caso não seja atendida, a presidente diz que a Unegro buscará apoio do Ministério Público já que o racismo é crime.
Conselho destaca ofensa
O Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir-MT) se manifestou por meio de nota no qual repudia o tom da campanha, que considera racista. O conselho afirma que é notório que a primeira etapa da campanha denominada Cidade Limpa, realizada pela Prefeitura, estampa em um panfleto dois personagens, onde o negro é caracterizado como sujo e o outro, branco, afirma que é o limpo.
Destaca que o racismo fica evidente em outra parte do material impresso em que um jovem branco tem as seguintes frases no balão: “Oi! Eu sou Limpinho. Estamos limpando e gramando as áreas públicas”. Na parte inferior, do mesmo panfleto, um jovem negro com os seguintes dizeres: “Eu sou o Sujismundo”, “Eu jogo lixo em todas as partes. Eu não cuido da minha casa e nem da minha cidade”.
O conselho pede a rápida retirada da propaganda e retratação da Prefeitura. “Consideramos fundamental uma ação compensatória de combate ao racismo e à discriminação dentro das escolas no município. Afinal de contas, da mesma forma que os efeitos da escravidão negra no Brasil são irreparáveis, o efeito de uma propaganda como essa pode ser mortal, basta lembrarmos do jovem negro que foi associado a sujeira”, finaliza.
Outro lado
A prefeitura de Rondonópolis se manifestou sobre a polêmica criada em torno do material. Segundo o secretário de Comunicação, Cleomar Pires, em momento algum o personagem “Sujismundo” seria negro, mas “empoeirado e sujo”. Segundo ele, houve a preocupação de dividir o material igualmente entre todos os personagens da peça.
Conta ainda que no material distribuído pela prefeitura tem personagem negro fazendo atitude correta de jogar lixo no lixo. “Não tem intenção nenhuma de racismo, não há racismo e não há dolo também na situação”, comentou Cleomar.
Ele continuou a defesa da Prefeitura dizendo que a campanha Cidade Limpa não afronta a condição física e nem a cor das pessoas, mas sim um chamamento da sociedade para ajudar a manter a cidade limpa.