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Caminhoneiro de VG se divide entre o trabalho e o amor ao fisiculturismo

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Caminhoneiro de VG se divide entre o trabalho e o amor ao fisiculturismo

Arquivo pessoal

Caminhoneiro fisiculturista

Carlos Alberto Santos, de 54 anos, é caminhoneiro e fisiculturista

Apaixonado por musculação, Carlos Alberto Santos, de 54 anos, resolveu unir duas coisas improváveis: sua profissão de caminhoneiro e seu esporte favorito, o fisiculturismo.

O amor pelas estradas começou há 15 anos, mas o sentimento pelos treinos nasceu muito antes, quando o caminhoneiro assistiu ao filme O Grande Dragão Branco, com Jean-Claude Van Damme. “Vi o corpo dele, achei muito legal e comecei a fazer musculação. Isso já faz 30 anos”, disse o fisiculturista.

No começo, Carlos não sabia como fazer os músculos desenvolverem. E um senhor de idade, que assistiu ao filme junto a ele, disse que era necessário bater na musculatura para que estas crescessem.

“Me falaram que tinha que dar ‘karatê’ nos músculos para dar câimbra, pra ele subir, e eu fazia isso aí; me trancava em algum lugar dando cacetada nos músculos para crescer. Resumindo: não aumentava nada, eu via que só estava me machucando”, lembrou.

Um dia, passando em frente a uma banca de revista, o caminhoneiro viu um livro chamado “Musculação para iniciantes”, com um homem jovem e forte na capa. Carlos comprou o livro, leu e passou a aplicar os ensinamentos em si próprio.

Com os bons resultados alcançados ao longo dos anos, ele resolveu começar a competir nos palcos de fisiculturismo em 2017.

Sua primeira experiência em campeonatos foi no estreantes de 2017, em Lucas do Rio Verde (332 km da Capital), em abril deste ano, em que ficou em terceiro lugar na categoria máster, acima de 50 anos. Repetindo o feito um mês depois no campeonato estadual mato-grossense, realizado em Cuiabá.

Desde que Carlos apareceu no esporte, tem gerado curiosidade e admiração, afinal, não bastando sua excelente forma física aos 54 anos, Carlos mantém sua rotina de alimentação saudável, treinos e descanso pelas estradas de todo Brasil.

Ele acorda todos os dias às 6h e sai pelas rodovias, visto que seu caminhão é de 25 metros, que, por lei federal, só pode trafegar entre 6h e 18h. Após as 18h, Carlos para o veículo e treina, onde quer que esteja.

“É meio complicado, mas quem gosta não pode inventar desculpa. Por isso eu já carrego meus ferros no caminhão e nas paradas faço minha atividade física, tranquilo. E quando paro dentro da cidade, eu vou na academia, mas é muito difícil”, disse o caminhoneiro.

Ele contou que já faz um mês que não consegue frequentar uma academia, mantendo seu tônus muscular somente com o que carrega no caminhão (veja vídeo).

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“Eu mantenho meu shape [corpo] com dois pares de halteres grandes que eu tenho e faço barra na carreta, nos arcos, que vai a lona por cima. Faço costas ali, faço remada, puxador, barra fixa e apoio. Perna, por exemplo, eu faço com meus halteres”, disse o fisiculturista.

Ele garantiu que consegue manter não somente os treinos, mas também a dieta, em que não usa óleo, consome baixas calorias e tempera suas comidas somente com alho e nada mais.

“Eu tenho a caixa de cozinha no caminhão, então eu faço meu arroz no caminhão, minha carne de músculo, peito de frango, e assim por diante, tudo no caminhão mesmo”, afirmou.

A família, segundo Carlos, não o apoia muito, visto que é o único atleta entre eles. Mas o fisiculturista afirma que estar no palco é uma grande emoção.

“Desde a hora que você chega no camarim, vendo os parceiros, falando ‘será que eu vou conseguir passar esse aí? Será que ele está melhor do que eu?’ A ansiedade é muito grande; uma noite, duas, antes do campeonato, a gente não consegue dormir direito”, lembrou, com um sorriso no rosto.

Com a terceira colocação no campeonato estadual, ele foi classificado para o campeonato brasileiro, que aconteceu em junho, em Ribeirão Preto (SP). Porém, pela falta de patrocínio e os afazeres de trabalho, não conseguiu ir.

“Fiquei muito sentido, mas eu espero que no ano que vem, se correr tudo bem como está correndo, eu passe pelo estadual e me classifique para o brasileiro de novo. Aí eu vou”, afirmou.

Carlos disse que o fisiculturismo mudou a sua vida. E que as pessoas até estranham ao vê-lo treinando na estrada.

“É um esporte que te salva de muita coisa, um estilo de vida, que você deixa de fazer o que te faz mal, que te judia. Muita gente condena o esporte e fica metido em coisas erradas. À noite, enquanto meus amigos vão tomar uma cerveja, eu vou malhar. Meu estilo de vida, graças a Deus, é muito bom”.

Apesar de conseguir manter muito bem a profissão e o esporte, Carlos quer largar a estrada no ano que vem. O plano, segundo ele, é abrir uma loja de suplementos.

“Não que eu vou largar, porque eu amo demais o caminhão. Eu quero dar um tempo, mas a gente que é da estrada há muito tempo não consegue sair. Tenho amigos que tem caminhão, de vez em quando vou dar uma volta com algum pra matar a saudade”, disse.

E para quem diz que não faz atividade por falta de tempo, o caminhoneiro fisiculturista mandou uma mensagem. “Isso ai é uma desculpa esfarrapada, nós que trabalhamos temos que tirar nosso tempo”. Ele disse que sabe disso por experiência própria, visto que sempre dá um jeito de treinar.

“Para você ter uma ideia, às vezes eu pego folga, vou na chácara do meu pai, lá não tem ferro, não tem nada, mas eu não fico sem malhar. Malho com tora de pau nas costas, eu me viro de tudo quanto é jeito. Eu dou um jeito de fazer, nem que seja no galho de uma árvore, mas o meu shape continuo mantendo”, contou.

Perguntado se tudo isso é por amor ao esporte, ele respondeu: “Nossa senhora, e muito”.

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