Movidos pela necessidade e capacitados pelo YouTube. Assim, várias pessoas se descobriram como “salgadeiros” e fizeram disto um ganha pão. Literalmente! Eles enxergaram na rotina corrida dos trabalhadores uma oportunidade e transformaram pontos de ônibus e calçadas em um verdadeiro banquete de café-da-manhã.
Os preços são bem camaradas. O salgado mais barato custa R$ 1 e o mais caro não ultrapassa os R$ 2,50. Normalmente, a variação de preço está ligada ao tamanho, qualidade e quantidade de recheio.
Caso a pessoa resolva ir em um ponto mais econômico, estará alimentado por R$ 2, levando em consideração o R$ 1 do salgado e o R$ 1 do leite com café. Uma conta que parece ilusória, uma vez que nem em casa consegue-se um valor desse por pessoa.
Ivo Brocardo trabalha junto com a esposa no Café da Nanah. Ele explica que o lucro só é possível com a venda em grande quantidade. E a rentabilidade não ultrapassa os 20% por unidade, principalmente quando o recheio é de frango e carne, que tiveram aumentos nos últimos anos.
Diariamente, Bocardo e sua esposa vendem cerca de 700 unidades em dois pontos de ônibus diferentes.
“É um produto que se não vendido, vai para o lixo. Então, é preciso vender muito e assar na quantidade certa”, explica o comerciante, que está instalado todos os dias, a partir das 5h, na avenida das Torres.
Como tudo começou
Brocardo conta que era segurança e a esposa coordenadora de escola, antes de entrarem no ramo alimentício.
“Minha filha nasceu com um problema de saúde e precisávamos de uma fonte de renda que nos permitisse ter um horário flexível”, explica.
Então, a solução encontrada pela mulher dele foi buscar informações no YouTube.
O mais prático e fácil mostrou-se o salgado, porém a concorrência era muita e, por este motivo, o casal estabeleceu um diferencial, reduziu o tamanho e adotou o preço de R$ 1.
“Todos cobravam R$ 3 na época e tinha muita gente que não tinha dinheiro todo dia. Como nós temos um preço mais em conta, as pessoas podem comer todos os dias e fidelizamos o cliente”.
E o segredo para manter o preço, segundo o empresário, é pesquisar e comprar tudo no atacado. Qualquer compra mal planejada pode resultar em prejuízo.
Erros e acertos
Cristiane Campos, comerciante instalada na avenida Dante Martins de Oliveira, conta que está vivendo de erros e acertos. Ela começou a vida com um trailer, que não deu certo por conta do aumento do aluguel da estrutura. Agora, está embaixo de uma tenda.
Mesmo com a dificuldade, a vendedora não desiste. Por enquanto, trabalha com salgados revendidos, café e leite, porém, pretende expandir assim que possível.
Apesar de estar muito esperançosa, acredita que os obstáculos serão muitos, tendo em vista que a concorrência está cada vez mais acirrada.
Hoje, ela divide o entorno do ponto de ônibus com outras três vendedoras de café da manhã.
“Estou pagando um trailer a prazo e acredito que, com ele, será mais fácil. Poderei oferecer produtos diferentes, que precisam de água para serem comercializados, como pastel frito na hora, caldo de cana e até mesmo caldos”, planeja.
Como muitos outros vendedores de café da manhã, a necessidade levou Cristiane ao setor alimentício. Hoje, ela já não vê outra opção, além de dar certo.
Uma ação de fé
A reportagem do LIVRE passou por diversos pontos de café da manhã em Cuiabá e a única vendedora no ramo por opção foi Patrícia Alves. Ela é funcionária pública e acorda todos os dias às 5h para fazer bolos e pães de queijo para vender.
O objetivo é angariar fundos para ajudar a financiar o coral infantil da Igreja Assembleia de Deus, que hoje conta com 50 crianças.
Patrícia disse que aprendeu a fazer os bolos no Youtube e pesquisando na internet, da mesma forma que aprendeu a ser regente do coro.
“Deus vai me guiando e as coisas vão dando certo. Eu recebi a missão e vou fazendo. Ele sempre me mostra o caminho”, assegura.
Cliente é o que não falta
Alexandre Alife, 25 anos, é cliente fiel. Ele trabalha em frente a um ponto de salgado e conta que come cerca de quatro por dia. Quando tem mais dinheiro, ultrapassa a meta.
Em dois minutos que conversou com a reportagem, devorou dois salgados e um copo de suco. Ele se diz um apreciador do quitute e afirma que existem outros na rua, mas sempre se vê cativado pela qualidade.
Liriosmar Valente é outro consumidor desse tipo de comércio, mas não tem um lugar preferido. Sempre escolhe um no caminho de casa ao trabalho.
Na opinião dele, duas coisas fazem um bom salgado: a textura da massa, que não pode estar muito pesada e nem ser o salgado todo, e a quantidade e qualidade do recheio. Neste ponto, tempero e fartura são essenciais.