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Brasil desperdiça rede SUS no controle do novo coronavírus, dizem pesquisadoras

Médicas afirmam que país tem estrutura para mapear contágio a partir da rede primária de saúde, mas gestores ainda não olharam para o setor

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Brasil desperdiça rede SUS no controle do novo coronavírus, dizem pesquisadoras
(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Pesquisadoras brasileiras no estudo da circulação do novo coronavírus afirmam ser necessário repensar o modelo do Sistema Único do Saúde (SUS) para lidar com o contágio em escala de longo tempo. A restruturação da rede pública deverá começar pelos serviços de atenção primária, aqueles prestados pelos chamados hospitais de portas abertas. 

A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, diz que essa mudança servirá de suporte para o estudo do novo coronavírus no Brasil e para o desenvolvimento de tecnologia de combate ao contágio. 

“Algo que se tem que levar em conta da pandemia da covid-19 é que não é um fenômeno de curta duração. Todo mundo está dizendo que o tempo incubação do vírus é de 15 dias, estudos científicos têm apontado isso. Mas, se deve considerar um reforço da vigilância do período seguinte. Não voltaremos à dinâmica que tínhamos antes”, disse. 

Pesquisadoras acreditam que SUS tem condições de conter o coronavírus, mas precisa de adequações. Foto (divulgação)

Segundo a médica, o país deverá pensar em modelo de saúde em que caminham juntos a disponibilidade de leitos, a testagem em massa e o trabalho da ciência no estudo do vírus e da evolução do contágio. 

Isso significa que serviços de servidores como os agentes comunitários e endêmicos deverão formar os profissionais de saúde de front na guerra para controlar o contágio. 

Histórico de exemplos 

A pesquisadora brasileira na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Márcia Castro diz que os mapeamentos de HIV/Aids, a partir da década 1990, e da zika – uma das doenças causadas pelo aedes aegypti – mais recentemente são mostras de que o SUS pode suportar, em tese, o controle do coronavírus. 

“O Brasil, teoricamente, tem a chance de dar uma das melhores respostas durante essa pandemia. O Brasil tem um sistema universal de saúde, tem um dos maiores programas de atenção básica à saúde. Porém, na prática, nesse momento, está deixando de usar os programas que já tem”, afirma. 

Segundo ela, a política possível de ser executada no Brasil já está em andamento na cidade de Boston, nos Estados Unidos, grupos de pessoas, compostos na maioria por voluntários, estão fazendo a vez de “detetive covid” para rastrear a rede de contágio a partir de um caso confirmado. 

Agentes comunitários são citados como profissionais que podem fazer serviço de coleta de informações, como em outras crises de saúde, para o desenvolvimento de ações direcionadas (Foto: Divulgação)

A essa medida é vista como uma três, junto com a vacina e imunização por contágio, como primordial para o controle de crises epidemiológicas. 

“O Brasil já tem esses detetives, são os agentes comunitários que fazem parte do time de estratégia de saúde da família. Eles trabalham nas comunidades onde moram, eles têm a confiança da população. Eles sabem onde moram os idosos, as pessoas com comorbidade e as áreas mais vulneráveis”, diz. 

A falta de visão estratégica de longo prazo para tratamento da pandemia pode ser ilustrada pela participação dos agentes comunitários em Cuiabá. Reportagem publicada pelo LIVRE mostra que eles estão em quantidade pela metade da necessária e estão mal utilizados. 

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Trabalho em campo 

A pesquisadora afirma que os agentes comunitários podem ter em mãos informações sobre a população que ajudam a criar ações para atender as pessoas mais vulneráveis ao contágio, por exemplo, a população idosa, acima dos 60 anos e pessoas com doenças e crônicas. 

 Eles também estariam capacitados a mapear as áreas críticas, que por falta de saneamento básico, deixam os moradores mais expostos ao vírus. 

“Eles podem rastrear os contatos das pessoas que testam positivo para a covid-19 ou daquelas que estão hospitalizadas, ainda que com casos suspeitos, e essas pessoas podem ser colocadas em quarentena e testadas”, afirma. 

Ela comenta que essa estratégia teria impacto direto na demanda hospitalar que alguns Estados brasileiros já estão com lotação acima da segura.  

Cuiabá e Mato Grosso estão neste momento abaixo dos 30% na taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e enfermaria. 

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