Um alto-falante instalado na praça principal do bairro CPA compartilha os debates da Rádio Comunitária do CPA (105.9 FM) em tempo real. A vasta programação é formulada com as as sugestões dos moradores e não segue nenhuma linha editorial limitante.
Para todos os integrantes do grupo a regra é clara: o estúdio precisa ser uma janela para o que não tem espaço na mídia tradicional e deve estar presente no dia-a-dia das pessoas comuns, abordando temas como transporte coletivo, previdência, saúde e impostos.
E é bom tomar cuidado com o que fala ao microfone. O ouvinte pode repreendê-lo pelo telefone e até mesmo pessoalmente, já que as portas estão sempre abertas para quem quiser entrar e participar.
Geremias dos Santos é locutor da rádio há 20 anos. Ele diz que não tem formação acadêmica em comunicação e que tudo que sabe, aprendeu na lida diária.
“Nenhuma das pessoas que trabalham aqui tem formação. Até porque não temos salários e para manter um programa no ar, é preciso amar o que faz”.
Santos relata que para fazer uma hora de programação, é preciso se preparar e ainda ter a disponibilidade de estar todos os dias, no horário estabelecido, na rádio.
Isso faz com que com o tempo, as pessoas que buscam começar um programa por empolgação, deixem o trabalho de lado.
Paralelo a tudo isto, existe ainda as dificuldades em se manter financeiramente. Todos os locutores têm um fonte de renda ou outra atividade econômica. Ninguém vive da rádio.
Contas no vermelho
O dinheiro que entra no caixa da rádio é usado para pagar as despesas do prédio, energia elétrica, telefone e ainda a manutenção de equipamentos.
“Nós aqui só estamos abertos porque não pagamos o aluguel. Caso tivéssemos que pagar, seria impossível”.
A situação de dificuldade, segundo Santos, é compartilhada com as outras 102 – sendo 4 em Cuiabá – rádios comunitárias autorizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em Mato Grosso.
“Não podemos fazer propaganda, ou seja, dizer o preço do que está em oferta ou apresentar uma promoção. Podemos apenas falar o nome da empresa e dizer que temos o apoio cultural dela”.
Para piorar ainda mais a situação, o locutor lembra que o Ministério Público do Estado de Mato Grosso encaminhou uma nota recomendatória aos órgãos públicos, no qual avalia como irregular o encaminhamento de verbas para as Rádios Comunitárias.
Conforme o documento, escrito pelo promotor Mauro Zaque, como é proibido fazer publicidade nas rádios, não é possível encaminhar verbas para propagandas institucionais.
No texto, ele fala ainda que as rádios comunitárias não conseguem comprovar a sua abrangência, o que torna impossível se justiçar a aplicação do recurso público.
“Os gestores devem orientar suas respectivas secretarias para que não haja o envio de material publicitário e propaganda institucional do governo, pagas, para as chamadas Rádios Comunitárias, vez que as mesmas não podem ser consideradas como órgãos de imprensa oficial a dar validade aos atos da administração”, argumenta Zaque em um trecho da carta.
O promotor defende ainda que as rádios comunitárias não têm uma constituição regular e não conseguem comprovar regularidade trabalhista, qualificação econômico-financeira, entre outros.
O pouco que tinha foi tirado
No caso da Rádio CPA, o apoio cultural dos governos do Estado e da União não chega faz muito tempo. O locutor argumenta que havia apenas um contrato com a Prefeitura de Cuiabá, que agora, ficou inviabilizado por conta da carta do MP.
“Não é pelo que recebemos hoje, mas sim pelo fim de uma possibilidade de recurso. E, a rádio não tem fins lucrativos, mas precisa pagar as despesas para se manter no ar”.
Com relação as dificuldades de se comprovar a abrangência, o locutor esclarece que as pesquisas deste tipo são muito caras e as rádios não podem pagar o valor.
Diversidade é nome da programação
Você sabia que nos anos 60 a polca paraguaia era a sensação dos bailes em Cuiabá?
Essa época é revivida em um dos programas da rádio, que inclui ainda no cronograma dois programas exclusivamente regionais e a presença de três professores, além de comentarista esportivo.
José Elias, conhecido com Tum, é o especialista quando o tema é esporte. Ele diz que foi convidado a fazer algumas participações há muitos anos.
Confessa que no começo não se sentia preparado e nem confiante para assumir um microfone. No entanto, o receio demorou poucos minutos na primeira aparição e o que era para ser um breve espaço de esporte regional, se ampliou para o país e, em alguns casos, até mesmo mundo.
“Hoje eu estou sempre acompanhando tudo o que acontece em todos os veículos e ampliei minha atuação para política”.
Geremias Santos assegura que a rádio está sempre em busca de talentos e projetos. Basta o interessado chegar a rádio e ir entrando porque as portas estão sempre abertas.