A Praça da Mandioca já foi tradicional para cuiabania veterana. Hoje, o point da capital é frequentado por todo tipo de ritmos, estilos e idades. No entanto, quem caminha ao longo da Rua do Meio percebe uma nítida fragmentação. Quase ao fim dela, na curva conhecida como Curva do Capim Xeroso, um rolê diferente chama atenção – dezenas de jovens ocupam as ruas e calçadas e se unem em círculo. Dentro dele, declamam. Mas, na maioria das vezes, as poesias não são delicadas e expressam realidades marginalizadas.

slam do capim xeroso
Foto: Pedro Coelho

O Slam do Capim Xeroso é realizado na Rua do Meio, na Praça da Mandioca, todo último sábado do mês.

Seguindo a tendência das batalhas de rap que estão despontando no estado, agora as batalhas de poesia também dominam o cenário cultural cuiabano. O movimento conhecido como Slam é mundial, surgiu na Chicago dos anos 80, chegou ao Brasil através da atriz Roberta Estrela D’Alva e se popularizou nos grandes centros do país.

Diferente do rap, não há beat acompanhando, é só gogó. Ali o improviso não é regra, mas a autoria sim. Os participantes têm três minutos para realizar sua performance e são avaliados em notas por um júri selecionado. E se a intenção for seguir até o fim da batalha, devem ter poesias engatadas na cabeça, nos bolsos ou nas mãos.

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Desde janeiro, o Slam do Capim Xeroso acontece em Cuiabá todo último sábado do mês. A gurizada se desloca de todos os cantos da cidade para compartilhar ou só assistir as rimas. Mas o movimento não é novo e surgiu no ano passado e, com cara nova, ganhou corpo. Neste sábado (25), das 19h às 22h, acontece a última edição do ano.

O começo

A primeira batalha de poesia, em Cuiabá, aconteceu no dia do aniversário da cidade, em 2016. O movimento chegou na capital através do produtor cultural Mano Raul que, durante uma viagem para Londrina (PR), conheceu as batalhas pela própria percussora. Ao retornar a Cuiabá, junto com quem considera a primeira slammer mato-grossense, a poetisa Luciene Carvalho, deu início ao Slam de Tchápa e Cruz que passou a ocupar a Casa Cuiabana semanalmente.

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Luciene Carvalho é considerada a primeira slammer mato-grossense. Foto: Protásio de Morais

Na época, eram poetas veteranos que participavam e organizavam o movimento que deixou de acontecer em junho desse ano. Segundo Mano Raul, que também é percussionista e comunicador, a intenção era espalhar a ideia e instigar novas batalhas de poesia em Cuiabá. Pelo visto, deu certo.

O movimento retornou com força através do produtor Guilherme Raeder, quem levou o movimento para a rua de forma independente com o Slam do Capim Xeroso. O jovem poeta é de Petrópolis (RJ), mora em Cuiabá desde 2012 e se interessou pela arte durante as já históricas manifestações de junho de 2013. “Percebi que o que eu ouvia nos poemas poderia ser dito para as pessoas”, relembra.

Guilherme conheceu melhor a modalidade em Campinas (SP), através de poetas de rua e em contato com movimentos como o Slam Resistência. Desde então se dedica para ampliar as batalhas de rima em Cuiabá. “Acordo e durmo pensando no Slam”, brinca ele.

Em dez meses de trabalho, diz ainda estar aprendendo na prática, mas já viu passar cerca de quarenta artistas pelas batalhas que aos poucos vai ganhando público. “A ideia é a gente fazendo fazer o Slam do Capim Xeroso um palco para a arte independente mato-grossense”, afirma.

pacha ana
Pacha Ana é a primeira representante do Mato Grosso em uma batalha de poesia nacional

Está dando certo! o Slam do Capim Xeroso terá representação no Slam BR que será realizado entre os dias 14 e 17 de dezembro, em São Paulo. E mais uma vez, a mulherada é destaque na literatura falada.

É a rapper Pacha Ana quem vai representar Mato Grosso na batalha nacional. Ela é revelação no hip-hop cuiabano e participa do Slam do Capim Xeroso desde a primeira edição. “Mesmo que as pessoas acreditem que não, é muito importante uma mulher representar o estado em uma batalha nacional, onde tem vários outros homens batalhando com mulheres fodas”, comemora.

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