O Brasil está com mau-olhado e precisa de um banho de sal grosso, como recomendavam antigas benzedeiras. Mas quem está com inveja do Brasil?

O País não sai da crise e nenhum dos candidatos a presidente da República consegue arrebatar os eleitores.

O segundo turno foi criado para que o presidente chegasse ao poder com maioria de votos. Mas no segundo turno o eleitor não vota no seu candidato; vota num candidato que pode ser de outro partido. E pode engolir um sapo glabro ou um sapo barbudo, como de Lula disse Brizola ao recomendar o voto no adversário em 1989. Ainda assim, nem unidos venceram Collor.

Nas duas eleições seguintes, Fernando Henrique Cardoso impôs-se como o único a eleger-se no primeiro turno desde que o segundo tinha sido inventado, feito nunca mais alcançado por nenhum outro. Lula, no auge de seu arsenal de votos, precisou dos dois turnos, na eleição em 2002, e na na reeleição, em 2006.

Por que banho de sal grosso e não um banho de açúcar ou de café? Afinal, já tivemos um ciclo econômico dominado pelo açúcar, outro pelo café e nenhum pelo sal.

É que o sal é nossa mais antiga companhia e está na palavra salário, do Latim salarium, originalmente o denarius, dinheiro, recebido para comprar sal e assim conservar os alimentos.

Mas é preciso usar o sal com cuidado. Judas Iscariotes derruba o saleiro na mesa da Última Ceia, dando vez à superstição de que sal derramado dá azar. Claro! O amigo traído foi crucificado, e o traidor enforcou-se, abrindo a pança, já inchada, ao bater no chão quando despencou do galho em que se dependurara, como esclarecem os Atos dos Apóstolos. Na sequência quase todos os discípulos foram martirizados. Deu realmente muito azar!

À mesa, quem passa o sal não o entrega na mão de quem o pediu: põe o saleiro perto da pessoa para que ela o apanhe. O vizinho pode pedir emprestado açúcar ou café, que serão devolvidos, mas se pedir sal não pode devolvê-lo; deve recebê-lo como presente.

Convém levar um grão de sal no bolso ou dentro de um saquinho pendurado ao pescoço. Se acompanhado de um dente de alho, melhor ainda, pois sal não é bugalho e pode ser misturado com alho, sem contar que na luta contra vampiros o bulbo é de muita valia. Mas daí já seria o caso de levar também um crucifixo e uma estaca.

O plural sais designa conjunto de substâncias voláteis administradas a quem desmaiou por intensa emoção ou por roupas apertadas, condições às vezes combinadas em dias de calor em que as cerimônias demoravam mais do que de costume.

O jornalista, engenheiro e escritor Euclides da Cunha, autor de trágica existência e obra extraordinária, conta em Os Sertões uma outra crendice. Os sertanejos deixavam ao relento seis pedrinhas de sal. No dia seguinte, olhando-as da esquerda para a direita decifravam os presságios da meteorologia, fazendo a previsão do tempo para os primeiros seis meses do ano. O ato tinha lugar no anoitecer de 12 de dezembro, dia de Santa Luzia.

No alvorecer do dia seguinte, se as seis pedrinhas estavam intactas, a previsão era de seca. Se a primeira se diluísse, era sinal de janeiro chuvoso. Se a segunda, fevereiro, e assim por diante. E se todas se diluíssem, o inverno não seria rigoroso.

Como é que a sabedoria popular chegou a isso? Luís da Câmara Cascudo anotou sobre a experiência: “em que pese o estigma supersticioso, tem base positiva, e é aceitável desde que se considere que dela se colhe a maior ou menor dosagem de vapor d´água nos ares, e, dedutivamente, maiores ou menores probabilidades de depressões barométricas, capazes de atrair o afluxo das chuvas”.

Mas no Brasil, como se sabe, o presente está indecifrável e até o passado é difícil de prever. Imagine o futuro!

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