Uga-uga! Este é o tradicional cumprimento do atleta amador Domingues de Araújo, 65 anos, conhecido como Xá Onça. Ele participa de quase todas as competições de corrida de rua em Cuiabá e tornou-se figura cativa nos eventos.
Com o corpo pintado de urucum e uma série de adereços, o atleta construiu uma história, que começou em 2009, na Corrida Reis.
Naquela ocasião, chamou atenção pela apresentação e também por correr descalço, como a reconhecida maratonista mato-grossense, hoje aposentada das pistas, Jorilda Sabino.
Xá Onça conta que o apelido veio dos demais corredores. Eles viam que Domingues estava descalço e falavam: vou passar este aí que corre como onça. Depois, passaram a falar: vou passar desta onça.
Com o tempo a frase foi condensada ainda mais e virou uma espécie de cumprimento: “bora Xá Onça.
Domingues conta que começou a correr porque sentia falta de uma prática esportiva. Ele jogava futebol, mas com o tempo, deixou a modalidade de lado e queria fazer outra coisa.
Nesse momento, foi motivado pelo irmão que era corredor de rua e não perdia sequer uma Corrida de Reis.
“Naquela época, nós treinávamos o ano todo para participar de uma única competição. Então, era mais difícil. Hoje, o esporte se expandiu e todo final de semana tem corrida. Já teve dia de eu ter dois eventos e eu precisar escolher um”.
Por que ir fantasiado?
Segundo Domingues, a fantasia surgiu por acaso. Ele percebeu que as pessoas iam tensas para a corrida. Chegavam com pouca conversa e com a cara amarrada.
“Eu sabia que não iria ganhar. Meu objetivo era me divertir. Então, resolvi ir fantasiado para poder alegrar os outros também”.
Todos os anos, o corredor se pinta de urucum e sai pela casa em busca de peças de roupas e adereços que possam compor o visual. Nada é planejado, mas há predileção por objetos com estampa de onça, para combinar com o nome.
Depois de tudo preparado é só ir para concentração. Sempre com os pés descalços.
“Uma vez calcei tênis, mas não deu certo. Acabei jogando no lixo no meio da prova”.
Para conseguir fazer o percurso sem ferir os pés, Domingues costumar andar sem calçado pela casa e no sítio da família.
“Fico de olho no chão quando estou correndo. Mas, muitas vezes entra um caco de vidro ou alguma coisa cortante. Aí eu paro, tiro e sigo”.
E para quem pensava que não faltava nada para ele inventar, o corredor lançou um novo desafio em 2017, quando concluiu a prova de costas.
Ele correu todo o trajeto sem virar sequer um minuto.
O que motiva?
O apoio da família e o treinamento em equipe são as coisas que motivam Xá Onça. Ele aconselha a pessoa que quer iniciar uma atividade esportiva a tentar achar companhia.
Ele diz que muitas pessoas desistem porque estão sozinhas e começam sem orientação.
“Começam empolgadas, mas logo que aparecem as primeiras dores no corpo, desistem”.
Xá Onça acredita que o excesso de conforto faz com que as pessoas não saibam como se exercitar pode ser divertido.
“A melhor coisa é achar uma equipe. Assim, haverá união, afeto, motivação e amizade”.