Especial

Baixada Cuiabana: Pesquisa documental em festas de santo vira exposição de fotografia

População de Rosário Oeste é a primeira a conferir o resultado. Próxima parada: Cuiabá

6 minutos de leitura
Baixada Cuiabana: Pesquisa documental em festas de santo vira exposição de fotografia
Seu Manoel segurando imagem de São Benedito, seu santo de devoção (Antônio Siqueira/Rosário Oeste 2017)

Os fotógrafos Antônio Siqueira e Luzo Reis começam em Rosário Oeste, a circulação da exposição “Santos da Baixada”. Por quatro anos eles percorreram nove municípios da Baixada Cuiabana captando a essência de 19 festejos populares, realizados em homenagem a santos de devoção.

A abertura da mostra será na Praça Manoel Loureiro, centro de Rosário Oeste (a 133 km de Cuiabá), às 20 horas.

Moradores e turistas que por ali passam vindo de destinos turísticos dos arredores do município poderão contemplar a mostra que em sua estreia ficará em cartaz ao ar livre, em estrutura especialmente montada na Praça Manoel Loureiro. No dia seguinte, segue para a sede da Fundação Cultural e Turismo de Rosário Oeste (Funcultur).

Com visitação gratuita, fica em cartaz até o dia 30 de janeiro de 2020. Os próximos destinos são Cuiabá e Chapada dos Guimarães (a 65 km de Cuiabá).

Cururueiro na Festa de São Benedito da Comunidade Sales, em Rosário Oeste (Foto de Luzo Reis/2016)

De acordo com Luzo Reis, o projeto que deve ter mais desdobramentos, começou com uma pesquisa que afunilou as escolhas para festas que possuem longa tradição na cultura dessas cidades. Rosário Oeste é uma delas.

Mas também há registros de festas em Cuiabá, Várzea Grande, Poconé, Nossa Senhora do Livramento e nas comunidades de Bom Jardim, em Nobres; Mimoso, em Barão de Melgaço; Varginha, em Santo Antônio do Leverger e Mata Grande, em Chapada dos Guimarães.

“Muitos dos nossos visitantes em Rosário devem se surpreender com o resultado, especialmente, porque sendo retratados, tornaram-se protagonistas desse projeto”.

O próprio encontro [ou reencontro] com Antônio Siqueira [mais tarde descobriram parentesco], aconteceu na cidade, o que torna o local ainda mais simbólico.

Luzo Reis convocou o primo para realizar a pesquisa documental

A ideia surgiu em 2015, em um curso oferecido na cidade pelo fotógrafo José Medeiros. Na ocasião, Luzo foi apresentado a Siqueira.

“Medeiros me disse: ‘Conhece Antônio Siqueira!? Uma lenda da fotografia de Mato Grosso’. Antônio, com seu jeito simples e de câmera em punho respondeu: ‘claro que conhece, a gente é primo!’. Qual foi minha surpresa em descobrir que aquele primo distante, que eu não encontrava há anos e do qual eu tinha apenas uma vaga recordação de sua fisionomia na memória era fotógrafo dos bons havia mais de duas décadas”, se diverte. A união dos dois representa a família Soares Pedroso de Barros, de Nossa Senhora do Livramento.

A partir daquele [re]encontro os dois se viram várias vezes e a convite de Antônio cumpriram circuito de festas da região.

“Antônio é personalidade já conhecida por todos na cidade. Desde a década de 1990 registra festas de santo e o cotidiano de Rosário. Com sua humildade, vê na deferência e nos trejeitos despojados de seu povo atributos de uma vida virtuosa que alia trabalho duro, com momentos de partilha, fé e alegria”, declara Luzo.

Por sua vez, Antônio diz que aprendeu muito com essa troca de experiência.

Desde 1990 Antônio Siqueira registra fotos de festas de santo

“A criatividade e a técnica de Luzo foram inspiradoras para o meu trabalho. Foi uma troca que vivenciamos, não só com as pessoas das comunidades por onde passamos, mas principalmente, entre dois parentes, dois fotógrafos”, se diverte.

Além de trabalhar, Siqueira “entrega” que os dois se divertiram muito nas festas e morador de Rosário, ele conta que já tem ouvido muitos burburinhos. “Dia desses, quando viu o banner de divulgação uma moça me ligou para contar que era o avô dela que estava na foto. O resultado do projeto tem sido alvo de muita expectativa nas comunidades”.

Na região, eles frequentaram as festas à Nossa Senhora da Guia, na comunidade de Igrejinha; em homenagem a Nossa Senhora da Piedade, no bairro Taboão e da festa da Rua da Barra, no centro de Rosário, que é em devoção a São Benedito.

Singularidade da Baixada

Curadora do trabalho, a crítica de arte e animadora cultural, Aline Figueiredo ressalta o entrosamento dos fotógrafos em enfocar o universo da cultura popular e especialmente, a singularidade da Baixada Cuiabana, onde os municípios estão concentrados.

“Em Luzo, um movimento barroco capturado pela luz, dá uma densidade dramática nos jogos, nas danças, procissões, nos violeiros. Já Siqueira enfoca ambientes externos e internos em que paredes e mobiliários mostram um certo sentido concreto, cujo o geometrismo dos cantos vai no âmago da cultura popular”.

Ao analisar as imagens, Aline descreve que elas mostram um luxo caboclo e requinte no vestuário, além da beleza singela das decorações internas, limpeza e suavidade. E também retratam que novas características, que acompanham a realidade das comunidades, foram incorporadas ao longo dos tempos.

“A expressão estampada nas feições, insinuam rugas de devoção. As mantas de carne de boi estendidas nos varais garantem o churrasco. Antes era o peixe o prato preferido nas festas, já que são povoados ribeirinhos, hoje é a carne do boi que já está nos pastos e os rios já não são tão limpes e nem tão piscosos”.

O projeto de pesquisa e documentação fotográfica de Luzo e Antônio é fruto da curiosidade dos fotógrafos em conhecer os festejos, as peculiaridades existentes em cada localidade e as histórias por trás das festas. Explora a riqueza imagética e outras manifestações culturais e artísticas que não podem faltar a elas, como o cururu, siriri, procissões, ladainhas, adoração, lambadão e culinária ribeirinha, dentre outros elementos.

O projeto foi aprovado por edital da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) e conta com apoio das prefeituras de Chapada dos Guimarães, Rosário Oeste, Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência, da Universidade Federal de Mato Grosso e Museu de Arte e Cultura Popular.

Em Cuiabá, a exposição entra em cartaz em fevereiro de 2020, no Macp e em Chapada, no final de março, na Praça Dom Wunibaldo.

Para mais informações sobre o projeto acesse: www.santosdabaixada.com

(Com assessoria)

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes