A pandemia de covid-19 tem acelerado um êxodo que já havia se iniciado há algum tempo: a migração de lojas e pontos comerciais para os bairros distantes da região central de Cuiabá. Se antes os clientes pensavam duas vezes em deixar o bairro para ir ao Centro por causa da distância, a exposição ao novo cornavírus fez essa reflexão duplicar.
“Só em caso de muita necessidade”, explica a passageira de um ônibus que desembarca na Estação Alencastro, no Centro Histórico da Capital. No dia que topou com a reportagem do LIVRE, ela ia resolver um problema numa empresa de telefonia que não tem loja no bairro em que mora.
Mas essa necessidade pode estar com os dias contados. A maioria das grandes lojas tem feito o caminho centro-bairro. Segundo o Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-MT), bairros como Pedra 90 e Morada da Serra são exemplos de locais onde a procura por imóveis comerciais aumentou.
O efeito é a depreciação dos imóveis. Segundo o Creci, o aluguel de um imóvel no Centro que, há 10 anos, custava R$ 10 mil sai pela metade do preço atualmente. Isso porque os imóveis na região central e, especificamente, no Centro Histórico têm idade avançada e possuem mais danos.
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“Vivemos uma ilusão de valorização há cinco anos. Esperava-se uma valorização que era fora do mercado e, hoje, estamos voltando à realidade”, explica o presidente da entidade, Benedito Odário Conceição e Silva.
Por outro lado, segundo Benedito, os valores de imóveis nos bairros fazem jus às condições e são, em sua grande maioria, prédios novos.
Não é só a pandemia
Mas nem só a pandemia influencia. Segundo Benedito, outro conjunto de fatores tem parcela na mudança. “A violência, a criminalidade e também a estrutura no Centro também é levado em conta”, explica.
Não por coincidência, mas pelo fluxo de pessoas, o Centro Histórico recebe grande parte das pessoas em situação de rua. Alguns creditam o aumento da criminalidade e a insegurança nesse locais à presença dessas pessoas.
E o Centro?
Com as lojas nos bairros, o Centro perdeu movimento. Nem mesmo os pontos da tradicional Rua 13 de Junho – que concentra grande fluxo de consumidores – escapa. Ao longo da rua, algumas portas já estão fechadas.
Perto dali, na Rua Cândido Mariano, a Rua das Óticas, a falta de movimento obriga o comerciante a fazer de tudo para chamar o cliente. Em uma das óticas, a oferta: “qualquer armação de graça na compra da lente”.
A falta de movimento influencia também no mercado imobiliário. “Aluga-se”, “vende-se” e “passo o ponto” são as três mensagens mais encontradas em lojas no Centro de Cuiabá.