Bolsonaro surpreende a cada dia. E para pior. Inacreditável que um presidente que foi eleito para mudar o país, continue agindo como candidato pelas redes sociais. A liturgia do cargo de Presidente da República exige que seu ocupante seja um “resolvedor” de problemas e não um gerador de crises, na sua maioria pequenas,que em nada ajudam o país.

Embora tenha montado um ministério de figuras capazes de levar ao Brasil àquilo que fora prometido na campanha, é inacreditável que o nosso Presidente provoque enfrentamentos desnecessários, como é o caso da Reforma da Previdência que, em não havendo uma correção de rumo urgente, poderá escapar-lhe por entre os dedos, apesar de haver uma vontade nacional de que seja votada urgentemente. Se perder o embate o Brasil estará condenado a passar mais quatro anos sem recuperação da sua economia, além da volta da esquerda ao Poder.

Ir ao Chile e, no discurso de despedida, ao lado do Presidente Sebástian Piñera, elogiar a ditadura Pinochet é como um Chefe de Estado, em visita ao Brasil, elogiasse a política do governo Lula para o nosso presidente; Chamar Alfredo Strossner, ex-ditador de estadista, em cujo governo, no vizinho Paraguai, houve assassinato de quase cinco mil civis, além de provocar o exílio de centenas de milhares de paraguaios, ao lado presidente, Mario Abdo Benítez são coisas que fogem à compreensão.

Incentivar as Forças Armadas para que façam a comemoração do dia 31 de março, com direito a Ordem do Dia, enaltecendo a Revolução é incentivar o país a se dividir ainda mais, a acirrar mais os ânimos já tão exaltados. Tanto o governo militar quanto a “revolução do proletariado” que a esquerda buscava através da luta armada – e, ainda bem que não se consumou -, não precisam ser colocados na mesa neste instante em que outras discussões são muito, mas muito mais importantes para o país.

Bolsonaro quer acabar com a “velha política”, a política do toma lá dá cá. O Brasil também quer. Isso, porém, não lhe dá o direito de partir para o enfrentamento com o Congresso. Assim fosse, não precisaríamos dele. Política, em qualquer nível envolve negociação, respeito de ambas as partes e não significa que, necessariamente, seja preciso dar a deputados e senadores a chave do cofre. Muito há ser negociado, às claras, com atendimento justo às partes que, se de um lado quer um novo Brasil, do outro lado da mesa há também pleitos justos daqueles que também foram eleitos, legitimamente, em cima de propostas para atender às necessidades de regiões desassistidas e merecedoras de atenção.

Não se governa sem o Congresso, por pior que seja ele. Bater boca pela imprensa e deixar que pessoas como Olavo de Carvalho, os filhos e outros que assumem um protagonismo desmerecido, sem qualquer reprimenda, se sintam autorizadas a agredir não só a oposição mas também o próprio governo não é exemplo de quem quer levar a termo uma proposta pela qual foi eleito.

A derrota sofrida pelo governo nesta semana foi cruel. Nhonho, o Presidente da Câmara, eleito com a ajuda declarada do Planalto, junto com a quase a totalidade dos parlamentares, ao colocar inesperadamente em votação a PEC do Orçamento, arquivada desde 2015 que obriga que as emendas parlamentares, individuais e de bancada, sejam executadas obrigatoriamente, com a elevação do comprometimento do Orçamento de 93 para quase 99%, com resultados terríveis no mercado financeiro, levando a bolsa à maior queda desde a greve dos caminhoneiros e elevando o dólar assustadoramente, não contribuiu para que aqueles que querem investir no Brasil tenham confiança de fazê-lo.

Ir a uma sessão de cinema privada, por mais importante que fosse o filme, em plena terça-feira, dia dos mais movimentados em Brasília no Congresso Nacional, mostra claramente a sua inapetência para a negociação política. A sessão cinematográfica, poderia ter ocorrido, sim, com a sua presença, mas em outro dia da semana em que não houvesse comprometimento para sua imagem.

Enfim, reafirmo aqui, o que já disse em artigo na semana passada: Bolsonaro tem obtido ganhos antes jamais alcançados nesse início de mandato por qualquer outro presidente, mas para que possam ser consolidados e promovam a reforma de que o Brasil necessita, é necessária a participação direta e constante do Presidente no diálogo com os atores que, pelo seu voto, aprovarão as propostas que o levaram à presidência.

Não há nada tão ruim que não possa piorar. E o que se lamenta é que os embates se formam em discussões menores, longe, muito longe do que deveria estar sendo discutido. Não está nada perdido, falta apenas uma correção de rumo. Já!

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*Ricarte de Freitas é advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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