Com muito esforço, pesquisa e sem medo de errar, uma família está transformando o assentamento de Santo Antônio da Fartura, em Campo Verde (137 km de Cuiabá), em um polo de produção de hortaliças. Do sítio, saem diariamente mais de 6 mil itens para comercialização em Cuiabá e adjacências.
São pés de alface – unitários e embalados -, rúcula, agrião, espinafre, cebolinha, salsa, coentro, sálvia, hortelã, tomilho, orégano fresco, manjerona e mais uma série de folhagens e temperos, parte cultivada na hidroponia e parte na terra.
Entre tentativas de sucesso e frustrações, a família conseguiu sair de um barraco coberto por palha, para uma casa estruturada, e de um cultivo feito pelas próprias mãos, para uma empresa, que hoje tem mais de 30 funcionários.
Sandra Nascimento dos Santos, 45 anos, é a matriarca e, junto com o marido e os três filhos, acompanha todo o processo, bem como as decisões relacionadas ao empreendimento. Ela diz que o grande segredo deles é a união.
Um começo difícil
Quando chegaram ao assentamento, a única renda deles era um trator, alugado para fazer serviços nos vizinhos. O veículo era muito velho e o marido de Sandra também era o operador.
“Chegou uma hora que gastávamos mais com o conserto do que tínhamos lucro. Não dava mais. Então, resolvemos vender, comprar sementes e investir na terra”, lembra.
Como não tinha experiência em lidar com hortaliças e verduras, optaram pelo cultivo de caixaria, ou seja, batatas, cenouras e demais legumes. Porém, perderam quase toda a produção devido às questões climáticas e do solo.
“Chamamos um rapaz para nos ajudar e falamos que o resultado não foi bom. Ele nos disse que estávamos plantando a coisa errada pela época. Falou ainda que naquele período, o ideal era plantar folhas, que dariam certo”, afirma.
E, assim, o sucesso começou a bater às portas da família, que ampliou os canteiros e começou a ver a produção aparecer com mais qualidade para venda.
Inserção de novas tecnologias
Em 2014, a família tinha um problema: o solo já não dava a mesma resposta ao plantio. Precisaram arrendar uma área para produzir, o que além de aumentar os custos, gerava uma preocupação com o futuro do negócio.
Após conversa com amigos e parentes, eles viajaram para o Rio Grande do Sul, onde tiveram contato com a hidroponia e começaram a pesquisar sobre a tecnologia.
Mais uma vez, entraram de cabeça na mudança e obtiveram resultados positivos com relação à produção, contudo, isso representou investimentos, alcançados por meio de financiamentos, que não foram repassados ao preço do produto, porque a venda era por meio de atravessadores.
“Eu tentei conversar com um atravessador. Pedi para eles aumentarem o preço por conta dos custos. Mas ele me respondeu que, se eu não vendesse, comprava de outro. Eu me senti humilhada e percebi que meu trabalho não valia nada. Decidi que não iria mais aceitar”, afirma Sandra.
A ruptura não poderia ser imediata, por conta das despesas da propriedade, e ela pediu ao filho mais velho que procurasse pessoalmente os mercados para oferecer o produto, convidando os responsáveis pelas redes para visitar o sítio.
Nas primeiras aproximações, não houve um retorno imediato. Contudo, as incursões foram se repetindo, até que a rede de Supermercados Big Lar atendeu o pedido e fez a primeira visita.
Uma oportunidade seguida de exigências
Os futuros primeiros clientes foram recebidos com toda “pompa e circunstância”. Andaram pela área, fizeram perguntas sobre o processo de produção e indicaram uma série de melhorias que ainda precisavam ser realizadas.
“Eles tinham um padrão de qualidade e corremos para atender, porque eles estavam nos abrindo uma porta, acreditavam no nosso trabalho e não podíamos perder a oportunidade”, lembra Sandra.
Mais uma vez, com coragem para mudar, a família reconstruiu o negócio e passou a fazer as vendas diretas, eliminando os atravessadores e alcançando um preço justo pela produção.
Diversificação e novos clientes
Com o tempo, a rede passou a sugerir o plantio de novas espécies e até mesmo cultivos. Muitos deles eram adquiridos em São Paulo e como perdiam muito tempo no transporte, acabavam por durar pouco nas prateleiras.
Assim, entraram no mix de produtos os temperos frescos, as folhagens babys, pimentas e embalagens diferenciadas. “Quando começamos a venda direta, Deus não abriu as portas, ele escancarou”, relata a produtora.
Com a presença em uma rede conceituada, outros clientes apareceram e, agora, eles estão em busca de mais pontos de vendas.
Crescimento em família
Wagner Augusto dos Santos, 21, é estudante de Direito e um dos filhos de Sandra. Ele ajuda em todas as fases da produção, enquanto o irmão mais velho fica responsável pela logística, distribuição e contratos.
Um trabalho árduo que começa muito cedo, já que às 5h da manhã os caminhões precisam estar saindo da propriedade em direção a Cuiabá. Assim, quando os supermercados abrem, as hortaliças estão fresquinhas para o deleite dos consumidores.
A saída do caminhão é o fechamento de um ciclo diário, que engloba o plantio, a limpeza da área, a colheita, a limpeza dos produtos e a preparação das embalagens e caixas.
Com o tempo, Wagner conta que a propriedade foi mesclando as tecnologias e ganhando em qualidade. Também passou a investir em nichos de mercado que ainda não eram ofertados em Mato Grosso.
O próximo passo será a construção de uma área para beneficiamento, na qual tudo passará por limpeza e assepsia condizente para o consumo direto. Será a hortaliça pronta para o consumo.
Eles também atuam no compartilhamento de tecnologias com os vizinhos porque acreditam que logo a capacidade produtiva deles será totalmente absorvida pelo mercado. E, por que não ajudar quem está perto?