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Às sombras da educação: alunos perdem o ano por falta de transporte

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Às sombras da educação: alunos perdem o ano por falta de transporte
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Frequentar as aulas em Santo Antônio do Leverger (distante 40 km de Cuiabá) é uma corrida com obstáculos. O aluno precisa enfrentar as deficiências do transporte escolar, a falta de estrutura de algumas unidades – principalmente as municipais – e ainda a desmotivação dos professores do ensino fundamental e básico, que chegaram a ficar 3 meses sem receber salários. Hoje, eles estão em greve.

Uma mistura de situações, que segundo os vereadores do município, é causada pela má gestão. No caso dos ônibus escolares, por exemplo, a prefeitura teria pago uma empresa para fazer uma rota, mas a contratada não executou a tarefa.

Microonibus que atende os estudantes da zona rural de Santo Antônio de Leverger (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Como resultado, 13 alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos da Escola Santa Claudina, no distrito de Mimoso, acabaram perdendo o ano letivo e desistindo de estudar.

O caso foi denunciado ao Ministério Público do Estado pelos vereadores Adelmar Galio (PSDB), Giseli da Costa Ribeiro Paim (PTB) e Ugo Padilha. Eles afirmam inclusive que linhas fictícias foram incluídas no contrato.

Não pagamento

O serviço de transporte escolar está sendo negligenciado há mais de um ano na cidade, assegura Galio. Ele diz que muitos alunos perderam o ano letivo porque não conseguiram atingir a carga horária de aula mínima.

Antes, os alunos das escolas estaduais e municipais compartilhavam o ônibus. O custo pelo serviço era rateado entre governo do Estado e prefeitura.

O vereador acredita que o modelo é mais eficiente e econômico porque é possível otimizar as rotas, sem prejuízo ao aluno. O problema é que a prefeitura sempre atrasava sua parte do contrato.

Vereadores Galio e Giseli estão acompanhando o problema do transporte escolar de perto (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

“A Seduc (Secretaria de Estado de Educação) nos encaminhava os demonstrativos de pagamento. Agora, o prefeito dizia que pagou, mas sem comprovar com documentos”.

Por esse motivo, todos os ônibus pararam e, para não prejudicar os alunos da rede estadual, a Seduc separou os contratos. Desde então, cada qual cuida dos seus alunos.

“Não é a solução mais coerente, mas pelo menos resolveu a situação dos alunos do Estado. Já os do município não sabemos. Até porque a rede está em greve”, afirma Giseli da Costa Ribeiro Paim.

Público alvo

Santo Antônio tem cerca de 3,5 mil alunos na rede pública estadual e municipal, sendo que apenas 11% estão na área urbana. O restante está na zona rural.

A porcentagem de estudantes atendidos pelo transporte escolar varia muito. Na escola da comunidade Água Branca, chega a mais de 80%. Já em Varginha, menos de 30%.

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Josiane Arruda explica que conteúdo e carga horária não podem ser recuperados (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Segundo a secretária da escola estadual de Varginha, Josiane Arruda, a situação é complicada porque o conteúdo perdido e a carga horária não podem ser recuperados.

Então, a escola pretende fazer um conselho de classe para ver se há uma solução para os alunos prejudicados pela falta de transporte.

Muito tempo na estrada

São crianças como Lindomar Felipe Cruz Silva, 14 anos, que mora a mais de 2 horas e meia de distância – se for a pé – da escola. Ele conta que não tem como ir quando o transporte falha e corre o risco de ter problemas por causa das inúmeras faltas.

Lindomar Felipe conta que sempre há problemas com o ônibus e tem medo de perder o ano (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

“Tem dia que quebra, fura pneu ou simplesmente fica sem ir. Aí eu me arrumo, mas ele não passa”.

O adolescente almoça às 10h e está pronto às 10h20 para ir à escola.

Depois que entra no veículo, precisa passar por um longo trajeto e ainda espera por um bom tempo em baixo de uma árvore para começar a estudar.

Isso porque o motorista descarrega uma parte dos alunos e segue para outra rota, onde  os demais o aguardam. Depois, retorna para escola. Tem que chegar antes das 13h, quando começa a aula.

“Em casa, eu como bastante para aguentar ficar sem comer até o recreio”, conta o menino.

Estrutura

Na comunidade Água Branca, os alunos estudam em um barraco porque a reforma da escola está parada desde 2013.

A situação é crítica e até mesmo os materiais de construção estão sumindo, seja por roubo ou deterioração.

Na creche da comunidade de Varginha, a situação não é diferente. Moradores da região dizem que os operários não aparecem faz tempo.

Enquanto isso, as crianças estão temporariamente em uma casa, alugada pela prefeitura.

Sem salários

Funcionários municipais estão passando apertado com os atrasos de salário. Um deles, que não quer se identificar, conta que a situação está difícil, mas como é efetivo, não quer abandonar o cargo.

Em alguns casos, o professor não tem sequer condições de pagar as contas essenciais da casa.

“Na semana passada, parte dos funcionários recebeu e outros não. Ele [o prefeito] queria que a greve acabasse, mas não conseguiu”.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público, subsede Santo Antônio do Leverger, Claudinete Magalhães, explica que a entidade está em negociação com o prefeito, Valdir Castro Pereira Filho, o Valdirzinho, que repassou parte dos atrasados.

Segundo ela, Valdirzinho ficou de apresentar um cronograma para quitação do débito e ainda um posicionamento sobre as outras reivindicações da categoria, como a regularização da merenda e melhoria dos aparelhos pedagógicos.

Outro lado

Ao LIVRE, o prefeito disse que mais de 50% dos professores estão com os salários de agosto em dia.

Agora, segundo ele, falta a outra metade, além do salário de setembro, que vence até dia 10.

“Com a arredação prevista para este mês, vamos quitar tudo até dia 10, mas espero que antes disso os professores retornem”.

A esperança de Valdirzinho é os profissionais aceitarem a proposta dele, que será apresentada na assembleia geral desta segunda-feira (7), e retornarem às escolas na terça-feira (8).

Com relação ao transporte escolar, ele afirmou que a decisão de separar os alunos do Estado e do Município foi dele.

“Mais de 70% dos beneficiados são do Estado e apenas 30% do Município e pagávamos mais da metade do valor total, cerca de R$ 500”.

Com relação às rotas não realizadas ou fictícias, ele relata que o ônibus é velho e quebra muito, por isso, fica sem passar em alguns lugares. No que diz respeito as inexistentes, argumenta que a última medição das rotas foi feita em 2013 pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc).

Desde lá, muita coisa mudou. Algumas foram alteradas e outras desativadas. “Mas, ninguém recebe pelo que não faz. Fazemos a compensação”.

Como as falhas são constantes, ele diz que existe um compromisso da prefeitura de justificar a falta do aluno. Porém, o documento serve apenas para rede municipal.

No caso das reformas, Valdirzinho alega que estão suspensas porque a prioridade e pagar os professores, mas que logo serão retomadas.

Reforma da creche da Varginia está com obras paralisadas (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

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