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Às sombras da educação: alunos estudam em barraco na zona rural

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Às sombras da educação: alunos estudam em barraco na zona rural
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Era uma escola que não tinha graça. Não tinha teto, não tinha nada. Assim é a unidade da comunidade Água Branca, área rural do município de Santo Antônio de Leverger (40 km de Cuiabá).

Lá, os 60 alunos ficam espremidos em dois cômodos improvisados, em uma espécie de barraco. O teto, de Eternith, é baixo e o calor chega a 50º durante as aulas.

Alunos chegando para as aulas do período vespertino na comunidade Água Branca (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

O ventilador faz rodar o ar quente e quando os estudantes reclamam muito, a faxineira pega uma mangueira e joga água no chão. Então, com os pés molhados e um pouco mais de umidade no ambiente, a programação segue.

Como a ação acontece várias vezes ao dia, chinelos transformaram-se em uniformes.

As séries ficam misturadas e os professores precisam se esforçar para atender todos alunos e serem interessantes em meio a tantas privações.

Funcionários molham o chão com uma mangueira para minimizar o calor (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Enquanto ficam embaixo do barraco, as crianças e adolescentes olham a antiga sede, que era compartilhada pelo Estado e Município. Ela foi deixada de lado porque o telhado estava quebrado e o espaço acabou invadido por morcegos.

Quando chovia, uma mistura de água e fezes do animal passava pelo forro e invadia as salas de aula. Assim, todos tinham que correr para o barraco improvisado.

Um improvisado que virou habitual e, agora, está à beira do definitivo.

Apenas um dos banheiros do antigo prédio é usado. O segundo está danificado.

Saúde em risco

Os bebedouros funcionam perfeitamente, mas as crianças foram advertidas para não consumirem a água de lá. Elas devem beber apenas das garrafas pets congeladas, trazidas pelos funcionários da escola.

Isso porque os mesmos morcegos que expulsaram as crianças da antiga escola, hoje moram no poço, de onde sai a água.

Poço de onde sai a água que as crianças bebem está contaminado com fezes de morcego (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Por volta de 2013, pedreiros foram a antiga escola iniciar uma reforma. Eles retiraram as telhas da cobertura e sumiram. Conforme foi informado à comunidade, a prefeitura não os pagou.

Resultado: como morcego gosta de escuro, os bichos perderam o abrigo que tinham no forro e procuraram outro lugar. E, adivinha onde acharam condições favoráveis? No poço.

A faxineira da escola, Duzilene da Silva, 35, disse que um dos pais abriu o poço, que é coberto por uma tampa de caixa d’água de fibra (mais uma vez improvisada) e viu que a água estava negra e os animais lá.

“Eles vão fazer um mutirão com pais e professores para limpar o poço final de semana. A prefeitura disse que daria uma nova tampa”.

Reforma que não acaba

Antônio Soares de Souza, 48, traz a filha todos os dias para aula de moto. Ele disse que fica inconformado com a situação da escola e já participou de várias reuniões, porém nada foi feito.

Operários abandonaram a reforma porque prefeitura não pagou pelo serviço (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Ele mostra indignado os materiais deixados pela construtora, que aos poucos estão sendo roubados. Os montes de tijolos estão reduzindo aos olhos vistos.

“Eu queria que minha filha tivesse um lugar melhor. É o que toda criança que tem vontade estudar sonha”.

Filho sem pai

Esta semana, a comunidade Água Branca estará reunida para tentar achar uma forma de construir uma nova escola. Como o espaço já foi alvo de reportagens, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) informou que, se não houver um espaço adequado, vai cancelar as aulas.

A esperança da comunidade era a prefeitura fazer a reforma do prédio anterior, porém os materiais estão sumindo e nada mudou desde que a empresa abandonou a obra, em 2013.

Agora, a única solução vista por eles é bancar a construção com recursos próprios e com o próprio trabalho.

Estudantes chegam a enfrentar 3 horas de transporte para frequentar escola (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Para o estudante Lindomar Felipe da Cruz, 14 anos, o fim da escola seria um transtorno. Atualmente, ele precisa almoçar às 10h para conseguir chegar a escola para aula, que começa às 13h.

Caso ele tenha que se deslocar até a Escola Estadual de Santa Claudina, no distrito de Mimoso, precisará sair de casa às 9h.

Outro lado

O prefeito de Santo Antônio de Leverger, Valdir Castro Pereira Filho, o Valdirzinho, assegurou que a escola será reformada ainda este ano.

Ele disse que a obra é uma ação direta da prefeitura, feita por servidores e com os materiais de construção adquiridos por meio de uma ata de contratação.

Valdirzinho diz que a paralisação foi planejada pela prefeitura para poder atender uma demanda mais urgente, que é o pagamento dos salários dos professores, que estão atrasados.

Assim que esta despesa seja quitada, os trabalhos serão retomados, não só para reforma, como também ampliação, de acordo com o prefeito.

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