A história da humanidade é formada por diversos ciclos – inclusive em questões epidemiológicas.
“Mas Karla, aqui não é sobre arquitetura?”
É sim! Mas tem tanta coisa que acontece que impacta de forma positiva ou negativa a forma como vemos e construímos o mundo, que algumas observações são sempre válidas de serem feitas e, vocês vão perceber que, na verdade, a arquitetura anda de mãos dadas com diversas mudanças, inclusive as questões epidemiológicas.
Dia desses tive a oportunidade de escrever sobre como o COVID 19 já está mudando a forma como nos relacionamos e como convivemos com os espaços. Hoje, vamos conversar um pouco sobre a história e sobre outras doenças também modificaram construções e o modo de vida.
Então, nosso primeiro ponto é lá em 1932, em alguns cenários de Paris, Amsterdã e Berlim, mais precisamente as escolas ao ar livre (Open Air Schools) – as escolas anti-tuberculose – caracterizadas, como vocês podem ver, por grandes janelas e “paredes dobráveis”. Elas, foram projetadas justamente para prevenir e combater pandemias.
E, como elas surgiram? Como o próprio nome diz, foi em decorrência da tuberculose, uma doença do século 19 e 20 que, a princípio, ninguém sabia o que era, nem como era causada, nem nada assim. A atribuíram ao ar sujo das cidades e as pessoas passaram a procurar refúgio nas montanhas e onde quer que tivesse ar puro e limpo.
Quando descobriram o que de fato era a tuberculose e que essa bactéria não estava necessariamente no ar, entenderam que o grande problema estava nos espaços internos: eram móveis que podiam escondê-la, cortinas pesadas, janelas pequenas que impediam uma boa circulação do ar e a entrada de luz… O que aconteceu então? Primeiro, uma rotina de limpeza bem rigorosa, similar a que temos hoje.
Mas, muita além disso, um novo jeito de construir e desenhar casas e espaços interiores. E, com entendimento que, aliado a baita rotina de limpeza, o sol e o ar eram bons, os grandes arquitetos se puseram a desenhar hospitais com grandes janelas, sanatórios com grandes terraços, com pé direito duplo e um novo design de móveis, onde a doença não podia se esconder – e sabem o que nasceu com isso? A Arquitetura Modernista!
Os modernistas buscavam criar ambientes curativos: um lugar para descansar onde nenhuma bactéria tivesse vez. Espaços claros, abertos, com grandes janelas e terraços para que as pessoas pudessem tomar sol, e ambientes mais vazios, sem muitos itens e móveis.
Foi nessa época que surgiu o sanatório Paimio, do Alvar Aalto, que se tornou referência para construções hospitalares. E também, as casas do excepcional Le Corbusier, casas elevadas por pilares, quase sempre brancas, pois ele acreditava que as casas precisavam estar elevadas e longe do chão úmido.
Dentro das casas, os móveis considerados vilões na hora do combate foram trocados por móveis mais aerodinâmicos e fáceis de limpar, o chão também deu espaço para algo mais liso e sem obstruções. Decorações carregadas e cheias de itens, também foram retiradas desse cenário, trazendo ao mundo uma decoração mais minimalista.
Inicialmente a cólera também foi uma doença cuja causa era atribuída ao ar sujo, mas, quando descobriram que o problema vinha da água contaminada, isso causou uma série de grandes reformas legislativas e na infraestrutura sanitária, não apenas em Londres, mas nas grandes cidades.
As pandemias podem alterar a forma como vemos e fazemos as coisas, dando até mesmo origem para novos estilos, como a Arquitetura Modernista. Mas, com o surgimento de tratamentos, vacinas e remédios pelo avanço da ciência, a adaptação da arquitetura para amenizar os impactos de doenças foi diminuindo, e hoje vemos que, novamente, a reestruturação dos espaços se torna vital: as casas não são preparadas para trabalho home office, os hospitais não foram construídos para suportar grandes epidemias – e nem outros espaços urbanos. Então, uma vez mais os espaços tem que ser adaptar para serem mais preventivos e combativos.
O que será que vem pela frente na Arquitetura?