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Aos 79 anos e cadeirante, Cezira sustenta a família com alegria

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Aos 79 anos e cadeirante, Cezira sustenta a família com alegria

Todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, quem passa por um posto de gasolina localizado na esquina da Carmindo de Campos, 1.621, pode observar uma senhora na cadeira de rodas que permanece por lá, horas a fio. Por um momento ou outro, um senhor também idoso, vai lá, conversa, faz brincadeira e fica sempre ao redor, como um protetor, enquanto também trabalha.

A senhora, na cadeira de rodas, segue atenta à sua prática manual – bordando panos de prato e fazendo tapetes. Se você chegar perto e trocar algumas palavrinhas com dona Cezira Galvão, 79 anos, a atmosfera de comoção certamente será dissipada com a graciosidade do sorriso dela. Emocionar-se e marejar os olhos é involuntário, já que em uma rápida troca de olhares ou diálogo constatamos que, mesmo com a limitação do corpo, Cezira Galvão, 79 anos, nunca perde a fé na vida – e isso é inspirador.

Poderia ter sido motivo para uma depressão ser obrigada a desacelerar o ritmo frenético do dia a dia quando, há 16 anos, foi informada pelos médicos que, por conta de uma doença vascular, teria que amputar a perna esquerda. Incansável, trabalhou sempre, da infância aos 63 anos, por longos anos na roça e, mais tarde, percorrendo longas distâncias – sempre a pé – para vender produtos que iam de roupa a cosméticos, passando por tapetes e pães caseiros.

“Andava muito, fizesse chuva ou sol”. Um ano depois, teve que amputar parte da perna direita. Sofreu? “Nem um pouco”, conta ela. “A vida não acaba aí, eu nunca fiquei triste, eu só sei brincar, só sei dar risada”, diz, enquanto borda um pano de prato. Mesmo com a deficiência, seu corpo é eficiente para a felicidade que almeja. “Achei que ia morrer, tive medo da cirurgia, mas aí Deus disse: ‘não vai não, tem que trabalhar mais'”.

Ednilson Aguiar/Olivre

Cezira galvão

Ela conta que todos os dias levanta às 4h da manhã. Acorda, faz o café para o marido e já deixa o almoço preparado. Uma das filhas – entre seis irmãos – é quem ajuda na limpeza. “Mas onde eu alcanço eu limpo tudo”, fala ,orgulhando-se de sua autonomia.

“Quando eu tive que amputar a perna, lembro que os parentes todos nem iam me visitar, com medo da minha reação. Muitos chegaram a dizer para o meu marido: ‘ela vai precisar de psicólogo’ e ele respondia: ‘que nada, é ela quem vai ajudar o psicólogo’”, se diverte.

Cezira conta que certa vez foi chamada às pressas pela equipe que a atendeu no pós-tratamento no hospital, do longo período de aplicação de 80 injeções para que o problema não evoluísse para uma trombose. “Eles vieram me chamar para que eu conversasse com uma senhora que estava inconsolável depois que teve as pernas amputadas. Fui lá e disse para ela que a vida não acabava aí, a vida continua”.

O protetor e marido, Jandir Galvão, “há 60 anos me aguenta”, diz ela, rindo. E o idoso, de 83 anos, por sua vez faz uma irreverente declaração de amor: “Ela sempre foi valente. Igual a essa mulher, só Nossa Senhora”.

A simpática Cezira dá uma dica para quando a gente perde as estribeiras. “Antes de xingar, reze uma Ave-Maria”. Ela, a propósito, reza várias. “São três terços de ida e três terços de volta para casa”, calculando a distância que leva para transitar do lar até o trabalho e do trabalho de volta para casa. Por lá, ela é a “vó”. “Eu rezo sempre, rezo pelos motoqueiros, pelos caminhoneiros, por todos os motoristas”, sorri, mais uma vez.

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