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Aos 65 anos e com 45 títulos, fisiculturista fabrica os próprios equipamentos

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Aos 65 anos e com 45 títulos, fisiculturista fabrica os próprios equipamentos

Quem vê Edson Silvério Ogawa pelas ruas de Rondonópolis (220 km de Cuiabá), logo percebe que ele é adepto à musculação. Afinal, são mais de 90 kg e somente 6% de gordura em um corpo de 65 anos. Mas não é para menos, ele treina de segunda a sábado, há 53 anos.

Você não leu errado! Edson começou a treinar aos 12 anos de idade, em uma época que encontrar academias não era fácil e as informações não eram abundantes como hoje, na era da internet.

Mas isso não foi problema para o garoto prodígio. Aos 13 anos ele criou seus próprios equipamentos, traduziu revistas estrangeiras com dicionários de inglês e aprendeu sozinho a desenvolver cada músculo do seu corpo. Ao longo dos anos, conquistou 45 títulos de campeonatos de fisiculturismo.

Ele é casado há 42 anos, tem três filhos e uma neta de 10 anos – família que sempre apoiou seu estilo de vida. Edson tem, aos 65 anos, uma saúde de dar inveja e atribui isso à musculação e à boa alimentação e, por isso, já declarou que vai treinar até o fim da vida.

O menino que não queria ser magro

Natural de Pirajuí, cidade do interior paulista, foi aos 12 anos que Edson resolveu que não queria mais ser magro e foi atrás de praticar esportes. Na época, ainda mais do que atualmente, os médicos não recomendavam que meninos de 12 anos praticassem musculação, então, a princípio, o menino tentou outros esportes.

“Primeiro eu corria e nadava, só que eu não tinha um resultado, pelo contrário, cada vez eu ficava mais magro e eu pretendia criar massa muscular”, lembrou o fisiculturista.

Em busca de resultado, ele resolveu pesquisar vários métodos de treinamento, como o do Instituto Brasil de Cultura Física, que pregava a máxima: “Transforme-se também num homem cheio de saúde e energia sem limites. Seja um homem forte”.

Mas foi no método de Joe Weider, conhecido como o pai do fisiculturismo, que Edson encontrou o segredo para desenvolver seus músculos. Só tinha um problema: Weider é canadense e todos seus estudos estavam em inglês, idioma que Edson não dominava.

Ele comprou mais de 300 revistas importadas – que guarda até hoje – e passou a usar um dicionário de inglês para traduzir. À época, meados de 1966, a internet ainda não havia sido criada.

“Naquele tempo não tinha internet. Hoje a internet é um universo de informação e de desinformação também. A cada 10 coisas que eu vejo na internet sobre essa área, apenas duas ou três estão certas”, lamentou Edson.

Depois de traduzir os estudos de Weider, Edson começou a colocar em prática em si mesmo, treinando sozinho e em casa. E foi aos 13 anos que começou a fabricar seus próprios equipamentos.

Concreto, carretilha e força de vontade

Os primeiros equipamentos eram bem simples, feitos com concreto, bancos de madeira e os aparelhos que precisavam de roldanas – como ele havia visto nas revistas estrangeiras e comuns nas academias hoje em dia – eram feitos com carretilhas de pedreiro.

“Tudo pesquisando nas revistas importadas, traduzidas com dicionário, porque eu não falava inglês. Só depois que casei, tive minha filha e ela cresceu, que ela fez curso de inglês e passou a traduzir para mim”, contou Edson.

Halteres de mão eram feitos com latinhas pequenas, as barras e as anilhas com concreto, feitas com formas de plástico com furo no meio. De testes em testes, ele foi se profissionalizando e transformou a paixão em profissão.

A paixão vira negócio

Em 1990, Edson foi para Rondonópolis (MT), a convite de um parente, para cuidar de uma empresa e se surpreendeu ao perceber que na cidade não tinha nenhuma academia.

“Quando cheguei aqui, academia já era meu ramo, já treinava há anos, já tinha competido. E vi que tinha uma carência, não tinha onde treinar, o pessoal não tinha conhecimento. Aí em 1990, eu comecei a fabricar os aparelhos. Eu tinha serralheria, tinha solda, então, fui fabricando os aparelhos”, lembrou o fisiculturista, que se tornava nesse momento também um empresário.

Em janeiro de 1991 ele abriu a Marathon, a primeira academia de Rondonópolis, aberta até hoje, com 28 anos de atividade.

O mundo “fitness” evoluiu, ganhou adeptos e diversas marcas de aparelhos, mas Edson jamais deixou de criar os seus próprios – que agora são feitos de ferro, normais -, afinal, para ele, é importante além de entender da mecânica do aparelho, compreender e ter vivenciado a mecânica do exercício.

“Hoje em dia nós temos aparelhos muito bonitos que não são funcionais. Porque quem faz os aparelhos são os engenheiros mecânicos. Eles sabem o grau, o peso que a articulação aguenta, mas eles não sabem o exercício, não sabem a mecânica do exercício”, defendeu Edson.

O fisiculturista empresário tem orgulho de dizer que possui aparelhos que não existem em nenhum outro lugar e que teve alguns até mesmo copiados por grandes marcas.

“Eu tenho equipamentos que até hoje não tem em lugar nenhum. Na parte da frente da perna, na canela, existe um músculo que chama tibial, não existe aparelho pra esse músculo, mas eu criei o equipamento. Os primeiros testes eu fiz há 40 anos”, contou orgulhoso e completou: “Eu tenho uma barra de agachamento que eu não patenteei e o pessoal copiou, ficou bem próxima da minha”.

Atualmente, Edson trabalha como representante de uma marca de suplementos e como instrutor e personal em sua própria academia, credenciado pelo CREF (Conselho Regional de Educação Física) desde 1993, quando pessoas não formadas, mas que já tinham experiência comprovada com cursos e atuação na área por mais de cinco anos (caso de Edson), ganharam o direito de se credenciar e trabalhar de forma regularizada.

Ele já chegou a treinar atletas de renome, como a lutadora de UFC Cris Cyborg e o lutador de MMA Evangelista Cyborg.

Edson e a lutadora Cris Cyborg

O fisiculturismo

Antes de vir para Mato Grosso, Edson morou em Bauru (SP), onde já participava de competições. Começou nos campeonatos de “braço de ferro”, sendo campeão pela primeira vez aos 16 anos.

Foi somente próximo aos 30 anos que entrou para o fisiculturismo, quando, ainda em competições de força, como levantamento de peso, começou a ouvir que deveria aproveitar o corpo definido que apresentava e participar de campeonatos de fisiculturismos.

Ele apostou na ideia e deu mais do que certo. O primeiro campeonato de culturismo que participou foi em Bauru (SP), mas também competiu em Marília (SP) e outras cidades do Estado, onde à época aconteciam vários campeonatos durante o ano.

“Na minha época tinha a pesagem, aí você passava por uma prova para ver se você tinha condição de subir no palco e, se aprovado, subia. Hoje eu até desanimo, porque é fácil, pagou a inscrição pode competir”, lamentou Edson.

Quando chegou a Mato Grosso, resolveu continuar com as competições e participou do 1º Campeonato Mato-grossense de Fisiculturismo, que aconteceu dentro do Goiabeiras Shopping, organizado pelo então presidente da IFBB (International Federation of Bodybuilding and Fitness), Joas Dias.

“Ganhei na minha categoria, até 100 kg, e no absoluto, que hoje chamam de overall”, disse Edson, orgulhoso.

A última vez que competiu foi em 1995, no Campeonato Brasileiro, realizado em Curitiba (PR), ficando em 2º lugar. Ao todo, ele conquistou 45 primeiros lugares e dois segundos lugares durante sua carreira.

Edson (no Centro), com Joas Dias ( de camisa branca e calça cinza) segurando um de seus braços e Bento (de camisa branca e calça azul) o outro

Um futuro retorno aos palcos

Mesmo sem competir, Edson nunca deixou de manter o corpo de fisiculturista e a rotina regrada. Seu “shape” e história de vida chamam atenção e fazem com que muitos torçam para que ele volte aos palcos.

“Várias pessoas veem minhas fotos e perguntam se vou voltar a competir, dizem que no veterano [categoria por idade] não tem ninguém que ganha de mim”, contou Edson.

Uma lesão no peitoral, no entanto, impediu que o eterno fisiculturista voltasse aos palcos. Edson estava como juiz em uma competição de supino – a qual também já foi campeão levantando em seu máximo 248 kg – quando pediram que ele fizesse uma demonstração e ele fez, sem um aquecimento, ocasionando a lesão.

Edson contou que já chegou a ganhar a cirurgia de um famoso médico brasileiro, Paulo Muzi, mas não teve tempo ainda para realizá-la. Porém, garante que ainda pretende voltar para os palcos e mostrar os resultados de 53 anos de musculação.

“A musculação foi e é uma das coisas mais importante da minha vida, porque o sucesso na musculação é o resultado de um esforço, não de um milagre”, disse Edson Ogawa.

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