Antônio Benedito da Conceição, mais conhecido como Antônio Mulato, morreu no fim da tarde desse sábado (15), aos 113 anos. Ele era o quilombola mais velho Brasil e um dos homens mais velhos de Mato Grosso, símbolo do quilombo de Mata Cavalo, localizado no município de Nossa Senhora do Livramento.

Seu “Mulato”, como era carinhosamente chamado, estava internado há cerca de dez dias no Pronto-Socorro de Várzea Grande com a saúde debilitada.

[featured_paragraph]A morte foi confirmada ao LIVRE por uma de suas netas, Lucilene de Pinho Ferreira. “Ele era uma esperança do Quilombo. Símbolo dessa história que não pode se perder no tempo. Vão ficar as lembranças da sua alegria, da sua dança. O exemplo de força e garra”, disse à reportagem visivelmente emocionada. [/featured_paragraph]

Ainda segundo a neta, o velório deve ser realizado no antigo Casarão, na Comunidade de Mata Cavalo. Ainda não há confirmação do horário. Seu Mulato deixa 18 filhos, sendo 13 vivos, e 38 netos.

Foto: Seduc-MT

Vida de lutas

Antônio Mulato nasceu no dia 12 de junho de 1905, num lugarejo chamado “Estiva”, próximo ao quilombo onde morou até seus últimos dias de uma vida centenária.

Ele é filho de Benedito Gregório de Almeida, o primeiro a receber a alcunha de “Mulato”. Seu pai plantava cana para sobreviver e mudou-se para Mata Cavalo em 1900, onde conheceu e pediu em casamento Marcelina Rita.

Dos quatorze filhos que tiveram, Antônio Mulato era o mais velho e o único que até então estava vivo.

De sua infância, ele se recordava do carro de boi, de pescar com timbó (planta venenosa) e carregar lenha. Sempre animado, como sua neta fez questão de ressaltar durante a entrevista, ele revivia com muito saudosismo as festas tradicionais.

Em entrevistas anteriores, ele dizia que estudar não foi nada fácil, porque “o povo não aceitava negro… porque negro não tinha valor”. Mas que atualmente as coisas tinham melhorado. “Hoje, as mulheres brancas querem é casar com negro, porque é mais trabalhador”, dizia.

Em 1930, se casou com a amiga de infância de Mata Cavalo, Rita Marcolina da Conceição, no dia 8 de agosto. Com ela, teve nove filhos: “três mortos e seis vivos”.

Marcolina morreu no parto do nono filho, causando a principal tristeza de Antônio Mulato. Em 1941, foi morar em Brumado, do lado esquerdo da estrada entre Cuiabá e Poconé. Saiu de Mata Cavalo porque um fazendeiro comprou um lote de terra e tirou o povo negro.

No “Brumadinho”, plantando cana, mandioca e arroz — e ainda ajudando o pai no engenho de açúcar —, Antônio Mulato firmou-se na criação dos filhos. Já em meados da década de 50, Maria, uma viúva, quis morar com Antônio Mulato. Tiveram uma filha, mas se separaram.

Em 1962, Antônio Mulato casou-se pela última vez. A eleita era Alexandrina Maria Sales, com quem teve outros seis filhos.

Festa dos 113 anos

Mesmo com a saúde debilitada, seu Mulato comemorou os 113 anos com uma bonita festa na própria comunidade, na escola estadual Tereza Conceição Arruda, que ele ajudou a implementar. Na ocasião, chegou até a arriscar uma flexão de braço!

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Cultura, que esteve na festa, ele recebeu de amigos e familiares muitas homenagens. Também teve apresentação do hino da negritude, dança afro e poesias.

Representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também participaram da festa, e ressaltaram a importância de Mulato para a memória do povo Quilombola.

Integrantes da Comissão de lavagem da Escadaria do Rosário e São Benedito e do grupo de trabalho Kunta Kintê levaram um pouco da religião de matriz africana para as homenagens.

Foto: Reprodução/ TVCA

Últimos dias

Seu Antonio Mulato estava internado há cerca de dez dias no Pronto-Socorro de Várzea Grande. Segundo familiares, ele estava lúcido, mas apresentava dificuldades na fala e audição. Ele também sofria de mal de Parkinson e Alzheimer. Nos últimos dias vinha lutando contra uma insuficiência renal, mas não resistiu.

Ele tomava remédios para pressão e fazia acompanhamento médico periodicamente. Mais recentemente, uma das filhas levou seu Mulato para morar com ela, na tentativa de melhor atender as necessidades do pai.

“Foram 113 anos bem vividos, de muito aprendizado, ele era muito amado e continuará sendo amado por nós. Foi muito bem cuidado por todos. Sempre alto astral, e é assim que vou me lembrar dele”, finalizou Lucilene.

Foto: Cida Rodrigues

 

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