Eleições 2018

Alinhando Bolsonaro ao estilo mãezona: “Para limpar o chão sujo precisamos pisar na sujeira”, diz Selma

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Alinhando Bolsonaro ao estilo mãezona: “Para limpar o chão sujo precisamos pisar na sujeira”, diz Selma
Selma Arruda durante coletiva de imprensa no prédio onde mora

O arranjo de crisântemos azuis, rosas amarelas e folhas de antúrios tinham as mesmas cores da bandeira do Partido Social Liberal (PSL), sigla a qual a ex-juíza Selma Arruda se filiou. O enfeite estava disposto sobre uma mesa da área de festas do edifício Rio Cuiabá Park, onde mora a ex-magistrada. Nesse cenário, agora como pré-candidata ao Senado, ela concedeu sua primeira coletiva de imprensa e assinou a ficha de filiação ao partido de Jair Bolsonaro.

Mas a leveza das flores contrastava com a rigidez das linhas transversais que atravessam a bandeira do partido. Os arranjos, além de tudo, eram pouco práticos e os organizadores da coletiva retiraram o enfeite para dar lugar aos microfones. Selma parece agora menos avessa aos holofotes. Com 22 anos de magistratura, a juíza sempre declinou de opinar sobre política, apesar de ter julgado e condenado políticos do alto escalão em Mato Grosso.

Mesmo alinhada ao discurso de Jair Bolsonaro, o polêmico pré-candidato à presidência da República, Selma distinguiu-se pela parcimônia: o vestido de renda, as joias douradas e o colar com a imagem de Nossa Senhora Aparecida remetiam à figura materna de uma mulher carinhosa, ainda que determinada.

Calhou de ser o símbolo ideal para um PSL mato-grossense cuja imagem rígida de personagens como Victório Galli e Nelson Barbudo poderia não agradar a publicitários e marqueteiros.  Os dois são defensores recorrentes do conservadorismo moral e chegam a derrapar em algumas declarações.

A escolha da juíza pelos conservadores não foi apenas uma questão ideológica. Para Selma, eles são os menos corruptos. Ela diz que ouviu de Bolsonaro a promessa de manter a sigla “limpa”, sem fichas-sujas, e que só entrou na política para fazer aquilo que não poderia fazer como magistrada. “Até para limpar o chão sujo de nossa casa nós precisamos pisar na sujeira”, concluiu ao rememorar um estereótipo de dona de casa cuidadosa e durona, capaz de enfrentar o pó acumulado da política para salvar seus eleitores da imundície.

Diante de muitos jornalistas que a acompanhavam em audiências de operações como Rêmora, Sodoma, Imperador e Castelo de Areia, Selma manteve-se firme e rememorou mágoas da magistratura. Temperou as respostas com toques de críticas à Constituição de 1988, defendeu o fim do Estatuto do Desarmamento, distanciou-se da esquerda e falou sobre as audiências de custódia:

“Você pergunta para o criminoso se está tudo bem com ele, se ele precisa de apoio psicológico, mas não pergunta para a vítima. Aplica-se um garantismo que é um garantismo manco de um lado só. O que se prega em estado democrático de direito é que as coisas sejam plenas, então se um tem direito o outro também tem que ter”, resumiu a magistrada claramente indignada com os “ossos do ofício”.

“Uma pessoa de bem não pode andar armada, mas a pessoa que te assalta na esquina pode. E o Estado não tem braço para conter isso, não tem uma fiscalização. Então, a lei é muito bonita no papel, como vários dispositivos da Constituição são bonitos no papel, mas são hipócritas porque não são aplicados”, criticou a ex-juíza. “Não é o objeto que faz o crime, o que faz o crime é o comportamento das pessoas”, concluiu ela.

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