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Aliança da Terra faz vaquinha online para custear combate aos incêndios nas Bacias do Xingu e Araguaia

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Aliança da Terra faz vaquinha online para custear combate aos incêndios nas Bacias do Xingu e Araguaia

Trabalhando no combate aos incêndios nas regiões das bacias do Xingu e Araguaia mato-grossense há dez anos, a Brigada de Incêndio da ONG Aliança da Terra nos últimos dias tem trabalhado intensamente no combate às queimadas e incêndios na região da Amazônia. Por isso, estão precisando de ajuda financeira para custear os gastos com o pessoal, equipamentos e logística.

A brigada opera no nordeste de Mato Grosso, nos biomas Cerrado e Amazônia, com a missão de proteger a floresta das ações do homem e de incêndios. Atuam com trabalhos de prevenção, controle e combate direto à queimadas e incêndios florestais. Além de treinar novos líderes de combate ao fogo.

Para manter os trabalhos, a Aliança da Terra depende de doações financeiras do setor público, privado, sociedade civil, fundações e agências de desenvolvimento.

Tendo em vista o aumento de focos de incêndios na região da Amazônia, a Aliança da Terra intensificou a sua atuação e precisa de mais recursos para adquirir novos “equipamentos para proteção individual dos brigadistas e ferramentas que os deixam mais eficazes no combate ao incêndio”, explica ao LIVRE, Fernanda Fernandes, responsável pelo Marketing da Ong.

Foto: Brigada Aliança da Terra

Para participar o doador precisa acessar o link da campanha Aliança Pela Amazônia e realizar a sua contribuição. A vaquinha online vai aberta até o próximo sábado (7). O alvo é arrecadar R$ 100 mil.

Com esses recursos, os brigadistas serão equipados com ferramentas de combate, como: abafadores e sopradores; Equipamentos de Proteção Individual, que incluem roupas, botas, luvas. Parte do valor será empregado na logística, para que os brigadistas consigam chegar aos focos dos incêndios.

Do valor arrecadado, uma parte também será destinada ao pagamento dos brigadistas que estão atuando no combate aos incêndios. Fernanda, pontua que os combatentes geralmente levam mantimentos e ficam na mata até conseguir combater o incêndio.

Segundo ela os trabalhos estão mais intensos neste ano e os recursos ajudarão manter os brigadistas na mata. “Se não conseguirmos, vão ter que voltar. Nós não gostaríamos que isso acontecesse e nem eles. Todos estão ali numa pegada e com mais sangue nos olhos do que a gente. Só saem do mato na hora que apagam o fogo”, disse.

Amor à terra

Foto: Divulgação

Ao se mudar para o nordeste de Mato Grosso em 1996, o americano John Carter conta que sofreu com muitos incêndios ocorridos em seu primeiro ano morando em terras mato-grossense. Caso que se repetiu nos anos seguintes.

Diante desses casos e sem ter a ajuda de ninguém “decidi criar uma brigada de incêndio, unimos os pecuaristas, agricultores e índios da região em uma força do bem, uma ONG brasileira em prol do meio ambiente”, recorda.

John ressalta que “em 10 anos essa brigada de oito homens conseguiu treinar mais de 930 voluntários, apagaram 421 incêndios e treinaram 10 tribos e etnias no Parque Nacional do Xingu, aldeias que hoje estão no campo lutando contra o fogo com dois líderes da brigada Aliança”.

O fundador da Ong destaca que estão prontos para apoiar o governo brasileiro e que afirmações de que precisa haver uma intervenção internacional no Brasil para resolver esse problema, é besteira. “Nós amamos a terra, amamos o povo da terra e amamos o Brasil”, finaliza.

Heróis Invisíveis

A Brigada da Aliança da Terra é composta por oito homens que mobilizam centenas de brigadistas voluntários todos os anos para trabalhar no combate a incêndios e queimadas em florestas. Juntos, acumulam mais de 110 mil horas de trabalho.

Antes da criação da Brigada, esses homens foram para o Estados Unidos para receberem o treinamento dos SmokeJumpers – literalmente “Os que pulam na fumaça” – grupo que é considerado a elite dos bombeiros dos Estados Unidos.

Por isso, todos os membros da Brigada são instrutores treinados e certificados pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e estão aptos para treinar novos líderes de combate ao fogo em todo o Brasil.

YouTube video

O grupo recebeu mais de 800 horas de treinamento e, é especialista em prevenção e combate a incêndios florestais, em conscientização da comunidade e liderança de combate a incêndios, o que permite trabalhar de mãos dadas com todos os tipos e tamanhos de produtores rurais e comunidades indígenas.

Fernanda Fernandes relata que os brigadistas estão sempre trabalhando. “Quando não está no tempo de queimadas, ensinam sobre prevenção de incêndios florestais, dando treinamento a pessoas que queiram atuar na vigilância”, pontua.

“O objetivo deles é conscientizar de que tem como produzir de forma sustentável e não precisar fazer queimadas. Tanto que se você for avaliar, a parte que a gente tem de preservação nessa região [nordeste do Estado] são dos próprios produtores. Eles acabam preservando porque sabem que se eles destruírem tudo, as pessoas que mais vão sofrer, serão eles”.

Edimar Santos Abreu, um dos líderes da Brigada de Incêndio da Aliança da Terra, conta que nas regiões leste e nordeste do Estado não tiveram tantos problemas com incêndios neste ano. “Tivemos alguns combates, mas foram muito pontuais e resolvemos muito rápido”, relata.

Associa a baixa no número de incêndios e queimadas ao trabalho de conscientização feito pela Brigada na região do Xingu. “Conseguimos mudar o conceito de uso de fogo nessa região. Conseguimos fazer um trabalho bem bacana junto com os produtores e os problemas maiores que temos aqui, na verdade, são dentro das áreas públicas”, disse o combatente.

Embora a brigada tenha apenas oito membros, os combatentes contam com o apoio de voluntários, funcionários de propriedades rurais, pecuaristas e agricultores já treinados pela Aliança da Terra. “Geralmente atendemos as ocorrências com duas pessoas da brigada como líder da guarnição e utilizamos pessoas treinadas das propriedades privadas”.

Quanto aos incêndios em áreas privadas, Abreu disse que são bem pontuais. “Acontecem, às vezes, no momento de colheitas ou em propriedades que ficam próximas a rodovias, por acidentes”.

Contudo, observa que houve uma redução de cerca de 85% no número de casos de incêndios e queimadas na região. “A maioria estão dentro das propriedades públicas, unidades de conservação, terra do Incra, mas dentro das propriedades privadas isso diminuiu muito”, disse.

Situações difíceis

Abreu revela ainda que durante os combates já passou por várias situações complexas, mas nunca se feriu. “A gente trabalha visando a segurança pessoal em primeiro lugar”. Mas a brigada já perdeu uma viatura incendiada dentro do Parque Nacional do Araguaia. “Foi muito frustrante”, relata.

Brigadista da Aliança da Terra, Edimar Santos Abreu – Foto: Arquivo pessoal

Ao LIVRE, o homem que vive para combater o fogo, disse que é impossível que a sociedade viva sem o fogo, mas é preciso saber usá-lo de forma responsável, para não comprometer o meio ambiente da maneira como tem acontecido. “Se quiser utilizar fogo, procure os meios legais e as medidas de segurança para que não venha danificar o meio ambiente de forma agressiva”, adverte.

Apesar de ainda ocorrer diversos casos de incêndios e queimadas de forma criminal, Abreu diz não perder a esperança em ver uma educação ambiental melhor e uma sociedade melhor. “Acho que as novas gerações que estão chegando estão acordando para essa realidade”.

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