Por ocasião dos incontáveis atentados terroristas islâmicos na Europa ou Estados Unidos o mundo se consterna, gerando reações de solidariedade às vítimas, mormente manifestadas nas redes sociais com “hashtags” e filtros “pray for [lugar vítima da vez]”, sempre atribuindo às ações nefastas a supostos “lobos solitários”.
Porém, o que pouco reverbera no Ocidente são os atentados terroristas islâmicos ocorridos em continentes mais pobres, como os constantes ataques em países africanos. A última grande investida do terrorismo agareno se deu em Nairóbi, capital do Quênia, mais precisamente no hotel cinco estrelas Dusit, obra do grupo terrorista ligado à famosa Al-Qaeda.
Além de financiamento por parte dos mesmos países financiadores do terrorismo islâmico de sempre, o El-Shabaad utiliza como fonte de renda o tráfico de drogas (mais precisamente da Khat e da heroína), marfim e pedras preciosas.
Em 15 de janeiro próximo passado, agentes do El-Shabaab (“A Juventude”) invadiram o complexo turístico do Hotel Dusit com carros-bomba e, após deflagrarem os explosivos, ingressaram na recepção disparando contra hóspedes e funcionários, mantendo por horas a fio um grande número de reféns. Segundo os terroristas, foram mortos 47 “infiéis” (designação àqueles não crentes de Maomé); oficialmente as vítimas são 14, estando 21 desaparecidas.
Este atentado, porém, é de proporções diminutas perto de outros já cometidos pelo grupo muçulmano. Nascido em 2006 e com base na Somália e ligado à Al-Qaeda, O El-Shabaab recruta seus soldados sobretudo na costa leste africana e age do Chifre da África até os confins de Moçambique, mas também recebe terroristas desterrados do Estado Islâmico no oriente médio após ações empreendidas pelo Ocidente contra o autodenominado Califado.
Em 14/10/2017, o mesmo grupo atacou com explosivos uma área de Mogadíscio, capital somali, destinada a agências internacionais e tropas das missões de paz da União Africana, deixando nada menos que 587 mortos e 316 feridos.
O grupo também opera na fronteira Quênia-Somália com constância, mas já em 2013 havia atacado um grande centro comercial na capital queniana (Westgate), deixando 67 mortos e 200 feridos. Nesse caso específico, mandavam que os reféns recitassem trechos do Corão, livro sagrado do islamismo, para se assegurarem que as vítimas eram “infiéis”, não muçulmanas; caso a recitação dos versos fosse exitosa, o refém era liberado. Caso não…
Em abril de 2015 o mesmo grupo atacou por todo um dia um campus universitário em Garissa, a cerca de 360 quilómetros de Nairóbi, edifício por edifício, sala de aula por sala de aula, matando 147 estudantes cristãos que não conseguiram escapar. Também aqui usaram a tática de recitar trechos do Corão para pouparem a vida a seus colegas muçulmanos.
Ainda sobre o Quênia, células terroristas da Al-Qaeda estão lá fundeadas há décadas. Basta relembrar que em 07/08/1998 um atentado terrorista islâmico destruiu inteiramente a embaixada americana, matando 213 pessoas e ferindo cerca de 4.000. Ao mesmo tempo, ataques à embaixada americana de Dar Es Salaam, capital da Tanzânia, deixou 11 mortos e 85 feridos.
Malgrado as tentativas do governo somali em dissipar o grupo terrorista islâmico, nem mesmo com o auxílio dos “Capacetes Verdes” da União Africana, nem com apoio de tropas e valores americanos e europeus, tem se mostrado suficientes para o extinguir ou, ao menos, diminuir a força dos facínoras que contam, ao que consta, com apoio de servidores públicos ou corrompidos ou fiéis à causa da Jihad muçulmana para escapar das garras estatais ou se antecipar aos movimentos que buscam debelar o grupo.
Infelizmente os mártires africanos não alcançam no Ocidente a mesma complacência e solidariedade que seus irmãos europeus ou americanos, mas não se pode negar que esta ameaça é mundial e que mesmo o Brasil pode se tornar alvo a qualquer momento.
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* Fernando Henrique Leitão é advogado e membro do Instituto Caminho da Liberdade – ICL-MT (fhcleitao@hotmail.com)