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Afinando os instrumentos

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Afinando os instrumentos
(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Há um cheiro forte de mudança no ar. Ao aceitar o cargo de superministro da Justiça e Segurança, Moro deu na primeira entrevista coletiva um exemplo a ser seguido: mostrou porque aceitou renunciar magistratura por um bem maior. Claro, conciso, indicando claramente que não será um carimbador das decisões do Planalto, mas sim um interlocutor com ideias próprias – a maioria já colocadas à mesa para que pudesse dar ao Brasil não só a continuidade da Lava Jato, mas também um projeto maior de que a mesma se transformasse em uma política de Estado. Era tudo que o cidadão brasileiro e a imprensa gostariam de ouvir.

Daí à implantação das mesmas há um longo caminho a ser percorrido. Não valem mais os discursos de campanha feitos no calor da eleição que buscavam tão somente a vitória. Agora é baixar a bola e tratar de encontrar soluções exequíveis para que o sonho de um novo Brasil não se perca na retórica inflamada do vamos passar uma borracha e, a partir de 2019, os problemas deixarão de existir como num passe de mágica.

[featured_paragraph]Moro, com uma estatura, pela sua história, bem maior que a do próprio Presidente, poderá ser o grande avalista para a implantação, inclusive, das políticas econômicas, de desenvolvimento social, além, é claro, das que estarão afetas ao seu ministério.[/featured_paragraph]

O Presidente, por força da realidade, já começou a agir – e isso é altamente saudável – quando começa a recuar de posições tomadas e que se tornam inviáveis na prática. O recuo da fusão dos ministérios da Agricultura e Meio ambiente, a briga desnecessária para a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, causando reações imediatas no mundo árabe, a reforma da previdência, a relação com o Congresso que, na democracia, não pode ser levada à base de “prensas” aos parlamentares, com a consciência de que existe uma distância enorme entre o possível e o desejável, além de uma primeira derrota sofrida no Senado com o aumento concedido, fora de hora, ao Judiciário.

As escolhas dos membros que comporão a sua equipe por hora estão dentro do desejável. Afinar os instrumentos, porém, para que a orquestra esteja afinada no início do concerto, sob pena de se transformar num espetáculo horrendo, é fundamental para iniciarmos uma travessia que será longa e cheia de obstáculos. Está claro no coração do brasileiro o desejo de uma virada de página na história.

Não queremos mais – e as urnas mostraram de forma avassaladora – que a corrupção, a falta de políticas sociais, o aparelhamento do Estado causaram o maior desarranjo econômico e financeiro jamais vividos.

A disposição de manter uma relação de respeito com os Poderes ficou clara na frase por ele emitida na solenidade, no Congresso, em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal, de que o Norte da democracia é esta Constituição que ali era homenageada. Um claríssimo sinal de que não veio para cumprir pautas tão utilizadas pelos seus inimigos na campanha.

Agora é aguardar e torcer muito para que, com apoio daqueles que não desejam o quanto pior, melhor, possamos ser acariciados pelas mudanças que embalaram nossos sonhos em anos tão desesperadores.

Governo de MT

A mudança de comportamento também começou por aqui. O governador eleito, Mauro Mendes, diferente do seu antecessor, parece ter claro que suas ações, quando busca o diálogo com os Poderes e a sociedade organizada, respeitando a independência de cada um, poderá fazer Mato Grosso sair do descrédito, do déficit escandaloso deixado pela gestão anterior. Deverá ter tempo e condições, para, diferente da campanha, escolher os melhores temperos que darão um sabor especial a essa nova e difícil missão a ser enfrentada.

Uma das possibilidade de sucesso de Mauro Mendes, jamais colocada em prática por qualquer outro governador, é aproximar-se de fato de sua bancada federal e não apenas daqueles que lhe são mais próximos. É a bancada federal que unida lhe dará musculatura e sustentação aos pleitos endereçados ao governo federal. Qualquer governador deveria reunir-se mensalmente com seus parlamentares. Jamais deveria ir a Brasília sem antes comunicar ao coordenador da bancada da sua agenda, para que todos pudessem acompanhá-lo e dar mais peso às suas reivindicações. Mesma regra que deveria valer para os Secretários de Estado que poderiam contar com parlamentares a seu lado dando força nos seus pedidos.

Os deputados estaduais também deveriam ser contemplados pela atenção do Chefe do Executivo: se a cada viagem aos municípios tivesse a companhia dos parlamentares da região, teria um relacionamento muito mais saudável com a Assembléia Legislativa com muito mais facilidade para aprovar as suas mensagens. Evitaria em muito o toma lá dá cá.

Todos prometem e nunca cumprem, caindo sempre na armadilha de ter, ao longo do governo, uma perda de tempo enorme com decisões finais que, na maioria das vezes, não são harmoniosas. Fica a dica.

*Advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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