Em recente entrevista para o site UOL, o megaempresário Abílio Diniz afirmou: “Eu já fui sequestrado, até tenho porte de arma, mas acho que ter mais armas nas mãos da população só vai piorar o problema da segurança”.

O que eu sinto quando eu vejo esse tipo de posicionamento? Nojo! Sim, sinto o mais profundo nojo de gente que realmente acredita que a defesa da sua própria vida, da vida de sua família e de seu patrimônio, vale mais do que a dos demais mortais. Na sua cabeça elitista, ele – o todo-poderoso – pode portar uma arma para sua defesa, mesmo contando com até quinze seguranças armados para sua proteção.

Via de regra, pouquíssimas pessoas conseguem obter o porte de arma, ou seja, a autorização excepcional da Polícia Federal para andar com sua arma de fogo. Abílio Diniz conseguiu! Como? É fácil! Basta pegar o seu helicóptero, pousar no heliponto da sede da Polícia Federal em São Paulo e explicar detalhadamente para o delegado responsável que você toma café na cozinha do Ministro da Justiça e do Presidente da República… Apenas uma divagação de como pode ter ocorrido o processo de concessão.

O empresário sofreu um sequestro em 1989 em uma ação do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), que incluiu sequestradores chilenos, argentinos, canadenses e um brasileiro. Anos depois, Diniz daria apoio ao governo Lula de quem dizia ser fã de carteirinha e se lançaria como cabo eleitoral de Dilma Rousseff – gente com o mesmo perfil ideológico de seus sequestradores. Tenho para mim que esse é o caso de Síndrome de Estocolmo mais duradouro da história.

Interessante lembrar – para minha sorte e azar dele eu tenho uma ótima memória – lá no comecinho dos anos 2000, o mesmo Abílio Diniz, durante uma palestra, afirmou que “A segurança na área da minha empresa aumentou e muito, não sei se é porquê atiramos primeiro e perguntamos depois…”. Mais uma prova da inconteste patifaria daqueles que pregam o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Tenho certeza de que 99,9% das pessoas que estão lendo este artigo não são milionários, megaempresários, deputados, senadores, governadores ou presidentes da república para contar com as reais benesses de uma segurança armada e carros blindados. São pessoas como eu que, com muito sacrifício, mantêm os filhos em uma escola particular minimamente decente, paga convênio médico para evitar cair nas garras da saúde pública, mas nunca terá dinheiro para arcar com custos de seguranças armados 24 horas por dia e o conforto de carros blindados.

Abílio Diniz e demais desarmamentistas protegidos por gente armada entendam: o segurança dos meus filhos sou eu, mas provavelmente vocês nunca entenderão o que significa isso do alto de suas torres de marfim e de seus reluzentes carros blindados cercados por gente armada, o que garante a sua segurança.

 

Bene Barbosa é especialista em segurança, escritor, presidente do Movimento Viva Brasil, palestrante e autor do best-seller Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento.

Redes sociais do colunista:

Twitter – Instagram – Facebook

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes