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A violência contra a mulher, o trabalho e a pandemia

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A violência contra a mulher, o trabalho e a pandemia
Imagem ilustrativa (Foto: Ednilson Aguiar / arquivo / O Livre)

Carla Leal*
Brendhon Andrade*

A violência contra a mulher, o trabalho feminino e a pandemia são três temáticas que nos últimos tempos têm andado conjuntamente e, portanto, serão objetos de nossa discussão. O ponto de consonância está no fato de que em tempos de pandemia e de crise econômica as relações de trabalho são alteradas, assim como as relações de poder. Portanto, isto faz com que tanto as desigualdades de gênero mundo do trabalho quanto a violência contra a mulher fiquem mais evidenciadas.

Após o início da pandemia, com o isolamento social que se fez necessário para frear a proliferação do coronavírus e com as tensões resultantes da convivência exacerbada e ainda a falta de recursos financeiros, aumentou, e em muito, a violência contra a mulher.

Pesquisa feita pelo Banco Mundial em 12 estados brasileiros aponta que em março e abril, dois primeiros meses do isolamento, houve um aumento de 22% nos casos de feminicídio em comparação ao mesmo período de 2019.

Por outro lado, houve um aumento de quase 30% nas ligações para o número 180, que é a central de atendimento para violência contra a mulher, muito embora tenha havido uma diminuição das denúncias nas delegacias e também nos pedidos de medidas protetivas.

Entretanto, especialistas apontam que essa diminuição decorre do fato das mulheres estarem no confinamento com o seu agressor e com a mobilidade reduzida, o que dificulta o seu deslocamento para as denúncias, causando, assim, uma subnotificação muito grande.

Para agravar ainda mais a situação das mulheres, essas foram brutalmente atingidas pela falta de trabalho e da renda, resultado da paralisação da economia.

Importante lembrar que, pelos dados do IBGE, as mulheres são mais vulneráveis economicamente, seja por ganham menos que homens, seja porque estão em maior número na informalidade, seja por normalmente serem responsáveis pelos cuidados com os filhos, com os doentes e com os idosos da família.

Além disso, há a divisão sexual do trabalho, na qual as mulheres são direcionadas, majoritariamente, para profissões que lidam a temática do cuidado, como saúde e educação básica, i.e., linha de frente da pandemia.

De acordo com o relatório da ONU Mulheres, 70% dos trabalhadores de saúde em todo o mundo são mulheres. No Brasil, 85% corpo de enfermagem é composto por mulheres, 45,6% dos médicos e 85% dos cuidadores de idosos são mulheres, fato que as expõem a um maior risco de infecção pelo vírus e suas consequências.

Em decorrência dessas diferenças, é fundamental que as medidas econômicas de resposta à crise mundialmente tenham em conta a situação única das mulheres. Especialmente nas zonas de conflito e em outras áreas onde a igualdade de gênero recebe pouca atenção, como no Brasil. Fica claro que meninas e mulheres correm o risco de serem excluídas dos processos de tomada de decisão e, até mesmo, serem deixadas literalmente para trás.

Desta forma, precisamos de uma nova cultura e consciência social que estejam atentas ao combate às desigualdades de gênero. É preciso estabelecer novos instrumentos, políticas e ações que visem, efetivamente, equilibrar as hierarquias sociais que as mulheres estão submetidas, como, por exemplo, a sub-representação política, o subemprego e as ocupações trabalhistas que privilegiam homens em relação às mulheres, ainda que ambos tenham as mesmas qualificações

Nesse sentido, há que ter também uma participação da sociedade e o interesse em alterar esses quadros por meio de conscientização, diálogo e principalmente de ações. Não há espaço no mundo civilizado para a violência de gênero nem para o tratamento desigual das mulheres no mundo do trabalho. Precisamos dar a devida atenção a essas temáticas.

 

*Essa coluna teve a participação de Carla Leal e Brendhon Andrade, membros do Grupo de Pesquisa sobre o meio ambiente do trabalho da UFMT, o GPMAT.

 

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