“Assim como em Roma, além dos romanos, há uma outra população de estátuas, assim também existe, ao lado do mundo real, um outro mundo feito de alucinações, quase mais poderoso, no qual está vivendo a maioria das pessoas” (Goethe). Atualmente, vivemos num daqueles momentos obscuros de ausência de critério para distinguir o real do ilusório, o provável do improvável, o verossímil do inverossímil, o verdadeiro do mentiroso.

A mídia brasileira, que estendeu no início deste século o tapete vermelho e, curvando-se gentilmente, deu passagem a quantos Lulas, Dirceus e Dilmas houvesse, aplaudindo, como prova de grande evolução democrática, a tomada do país por um bando de criminosos, tão hábeis na simulação de boas intenções quanto incapazes do menor sentimento de vergonha e culpa, mesmo quando pegos de calças na mão, vem acumulando contínuos vexames.

É público e notório que o meio jornalístico, em sua maioria, faz assídua oposição ao governo Bolsonaro, colocando os seus interesses e visão ideológica na frente do dever de informar a população. São constantes “crises” e “polêmicas” lançadas diuturnamente nas manchetes jornalísticas, sempre adjetivadas de “devastador”, “bomba”, “urgente”, “agora vai”, etc.

A última das perfídias teve início no dia 24 de abril, quando o ex-ministro Moro convocou toda a imprensa, ao vivo e a cores, para expor as razões da sua renúncia, afirmando que o presidente descumpriu com a palavra dada, já que desejava valer-se do seu direito de nomear o diretor-geral da polícia federal. O exercício de tal direito foi chamado de “interferência”.

Moro acrescentou ainda que, Valeixo vinha sendo pressionado pelo governo Bolsonaro a deixar o cargo. Essa foi a primeira afirmação desmentida, pelo próprio Valeixo, em depoimento no dia 11 de maio, oportunidade em que afirmou desconhecer de interferências ilícitas do presidente, que não desejava permanecer no cargo e combinou com o próprio Bolsonaro que sua demissão seria “a pedido”.

De Valeixo, imediatamente, a mídia passou a criminalizar a palavra “interferência”, que tomou o significado de crime mais grave da nossa República, até mais grave que os bilhões de reais surrupiados pelos governos petistas no passado.

Ora, interferir, para maior esclarecimento do leitor, significa tomar parte. Para que esse “tomar parte” configure crime, é necessário verificar o embasamento legal, motivo e finalidade do ato administrativo do presidente Bolsonaro, o que, até agora, vem sendo considerado lícito.

Nesse meio tempo, Moro já vinha afirmando que jamais acusara o presidente de crime. O dito já estava ficando pelo não dito.

Continuando na sua incansável busca por provas e fatos “bombásticos” que “devastassem o governo Bolsonaro”, nossos jornalistas-investigadores, depois de fuçarem bem nos bueiros e ruelas escuras, pularam para o inquérito solicitado por Aras e autorizado por Celso de Mello.

A conclusão de todos foi de que “até o momento, não foram encontradas provas que incriminem Bolsonaro”. Os depoimentos, tornados públicos, nada revelaram de devastador, capaz de silenciar a voz de quem se afeiçoa à pátria.

Foi então que Moro, para não passar por mentiroso, disse existir um vídeo de uma reunião, em que Bolsonaro enfim se comprometeria, confessando palavra por palavra um grave crime, que imediatamente serviria de embasamento jurídico para os inúmeros pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados e de eventual processo criminal, que então correria no STF.

Tudo pronto e preparado para “devastar o governo”, que “agora, sim, cairia por completo”. Ali, na integra, cara a cara, revelar-se-ia a até então oculta e reprimida verdade. Naquele momento, todo o povo brasileiro conheceria quem realmente é Jair Messias Bolsonaro.

E foi o que se viu. Bolsonaro acabou sendo aplaudido pelo povo, Moro saiu como “ingênuo”, a bolsa de valores subiu, o dólar caiu e a mídia passou por mais um vexame.

Aliás, é importante frisar que, a reunião do vídeo foi convocada pelo Ministro Braga Netto, para divulgar o programa “Pró-Brasil”, visando a recuperação econômica da nação após a pandemia do coronavírus; nada tinha haver com questões da PF. Tal foi levantada, despretensiosamente, no fim da reunião. A preocupação das quase duas horas foi trabalhar pelo país e não ficar com birras, intrigas e picuinhas.

Relembro o vídeo da campanha do PT de 2002, que exibe um bando de ratos roendo a bandeira nacional, enquanto ao fundo uma voz soturna adverte: “Ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil”. Ora, não restam dúvidas de que a mídia oligárquica existente no Brasil é hoje a maior ameaça à estabilidade política e governabilidade nacional. Ela tornou-se uma ameaça à inteligência e à verdade.

Ultrapassou-se até os limites da falsificação premeditada. O que era premeditação tornou-se hábito automatizado, meio inconsciente, como num fingimento histérico em que o doente, no começo, sabe que está mentindo, mas depois se deixa iludir por suas próprias palavras e, entre lágrimas e protestos de indignação, termina “sentindo” que diz a verdade.

E pior, quando a corrupção entra na alma das “classes falantes” – como dizia Pierre Bourdieu – alastra-se por toda a sociedade. A grande mídia, nos dias de hoje, age unicamente com base no que dizia Talleyrand: “caluniem, caluniem, alguma coisa sempre acabará pegando”.

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